terça-feira

A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER


A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER (The unbearable lightness of being, 1988, The Saul Zaentz Company, 171min) Direção: Philip Kaufman. Roteiro: Philip Kaufman, Jean-Claude Carrière, romance de Milan Kundera. Fotografia: Sven Nykvist. Montagem: Vivien Hillgrove, Michael Magill, Walter Murch. Figurino: Ann Roth. Direção de arte/cenários: Pierre Guffroy. Produção executiva: Bertil Ohlsson. Produção: Saul Zaentz. Elenco: Daniel Day-Lewis, Juliette Binoche, Lena Olin, Derek De Lint, Stellan Skarsgard. Estreia: 05/02/88

2 indicações ao Oscar: Roteiro Adaptado, Fotografia


Há duas maneiras de se julgar essa adaptação cinematográfica de “A insustentável leveza do ser”, obra-prima do tcheco Milan Kundera. A primeira, e menos favorável é compará-la com sua versão literária, best-seller absoluto de qualidade inquestionável. A segunda, e aí pode-se fazer elogios rasgados, é como um filme independente de sua origem editorial.

O livro de Kundera, repleto de disgressões filosófico-existenciais é um prato cheio para quem gosta de uma leitura mais profunda e menos romântica. O filme, dirigido com elegância e classe por Philip Kaufman (de “Os eleitos”) não se presta a questões mais intelectuais e, mesmo flertando abertamente com temas políticos e mais discretamente com o quase elogio ao amor livre, conta simplesmente uma bela história de busca pela felicidade, seja ela ideológica, sexual e/ou sentimental.

A trama gira em torno do romance entre o médico Thomas (o ótimo Daniel Day-Lewis) e a garçonete e posteriormente fotógrafa Teresa (uma Juliette Binoche juvenil e encantadora). Ele é um conquistador nato, incapaz de manter um relacionamento estável nem mesmo com a fiel Sabina (Lena Olin), de quem se sente mais próximo. Ela é uma jovem insegura, apaixonada e que sai de sua cidade do interior para ficar com ele, mesmo sabendo que ele não é exatamente um modelo de fidelidade. O triângulo amoroso formado então acompanhará as mudanças políticas da Tchecoslováquia – a história começa às vésperas da primavera de 1968 – revelando às próprias personagens nuances até então nunca percebidas em suas personalidades.

É inegável que o roteiro, escrito pelo diretor Kaufman e pelo habitual colaborador de Roman Polanski, Jean-Claude Carrière, tem uma inteligência e uma sutileza raras e que fazem jus à sua origem literária, o que talvez o tenha colocado em uma espécie de limbo cultural: os fãs do livro, que procuram uma adaptação fiel provavelmente ficarão decepcionados e os cinéfilos que buscam uma história de amor como as que estão acostumados certamente também ficarão perdidos. Com personagens complexos, com atos não exatamente previsíveis e uma trama que deixa muito à inteligência de sua platéia, “A insustentável leveza do ser” é um filme melancólico – o final é de uma beleza pungente – e um meio-termo entre filmes de arte europeus e romances hollywoodianos, o que o fato lamentável de ser falado em inglês só reitera.

No entanto, com uma fotografia belíssima, cortesia de Sven Nykvist, o preferido de Woody Allen e Ingmar Bergman, uma trilha sonora inspirada – reparem em uma versão alemã de “Hey Jude”, dos Beatles – e um elenco impecável, garante seu lugar entre as melhores adaptações cinematográficas já realizadas.

2 comentários:

Rodrigo Mendes disse...

Kaufman soube lidar com a sexualidade como em Henry & June e Marquês de Sade. Mas creio que neste filme, ele consegue algo a mais com os conflitos existenciais.

Muito bom!
Abraços
Rodrigo

FLAMES (Mariana e Roberta) disse...

Olá. Parabéns pelo blog. Adorámos a ideia :)

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