THE COMMITMENTS, LOUCOS PELA FAMA (The Commitments, 1991, 20th Century Fox, 118min) Direção: Alan Parker. Roteiro: Roddy Doyle, Dick Clement, Ian La Frenais, romance de Roddy Doyle. Fotografia: Gale Tattersall. Montagem: Gerry Hambling. Música: Wilson Pickett. Figurino: Penny Rose. Direção de arte/cenários: Brian Morris/Karen Brookes. Casting: John Hubbard, Ros Hubbard. Produção executiva: Armyan Bernstein, Souter Harris, Tom Rosenberg. Produção: Lynda Myles, Roger Randall-Cutler. Elenco: Robert Arkins, Andrew Strong, Angeline Ball, Maria Doyle Kennedy, Dave Finnegan, Michael Aherne, Bronagh Gallagher, Félim Gormley, Glen Hansard, Dick Massey, Johnny Murphy, Ken McCluskey, Colm Meaney. Estreia: 14/8/91
Indicado ao Oscar de Montagem
"Os irlandeses são os negros da Europa. E os dublinenses são os negros da Irlanda. E os irlandeses do Norte são os negros de Dublin. Então digam isso, e digam alto: sou negro com orgulho!" É com essas palavras que o jovem Jimmy Rabbitte (Robert Arkins) incentiva seu grupo de soul, chamado The Commitments, a descobrirem o ritmo dentro deles, como forma de mudarem de vida e levar boa música aos trabalhadores das áreas menos favorecidas de Dublin. E é também "The Commitments, loucos pela fama" que se chama o filme do inglês Alan Parker baseado no romance de Roddy Doyle que devolve o diretor ao universo dos musicais, depois de "Fama" (1980) e "Pink Floyd: the wall" (1982). Energético, pulsante como o soul e encantador, o filme - estrelado por jovens desconhecidos e transformados em excelentes atores por Parker - foi uma injeção de vida em um gênero praticamente morto na época de seu lançamento. Não fez um sucesso comercial estonteante, mas agradou a crítica e teve uma sobrevida interessante quando o grupo fictício viajou pelo mundo em uma bem-sucedida tour.
Jimmy Rabbitte, o protagonista do filme, é um jovem desempregado que vive com uma numerosa família em um subúrbio de Dublin. Ao receber de uma dupla de amigos que cantam em casamentos - um deles vivido por Glen Hansard que ganharia um Oscar de melhor canção por "Apenas uma vez" anos depois - o convite para ser seu empresário, ele decide criar uma banda que misture o ritmo quente do soul com a dura realidade de suas vidas. Com muita dificuldade e lutando contra a descrença de todos, aos poucos o grupo vai se formando, com operários, estudantes e trabalhadores exaustos. Quando estão em vias de subir um degrau mais alto, porém, os egos começam a se chocar, diferenças pessoais tornam-se incontornáveis e o sonho começa a dar sinais de que nunca passou realmente de ilusão.
O maior acerto de Alan Parker, em "The Commitments", foi de escalar um elenco de amadores para seus papéis principais. Os rostos de todos são extremamente verdadeiros, reais, sem a sensação plástica da maioria dos filmes de Hollywood, o que dá ao filme uma consistência rara de honestidade. Enquanto acompanha a trajetória da banda, Parker nunca deixa que a plateia esqueça que eles são todos pessoas que existem no meio de dificuldades financeiras e pessoais - o que a ambientação na real Dublin reitera com força a cada momento. Não existe a preocupação artificial de embelezar nada na maneira com que o cineasta vê suas personagens em busca não da fama em seu sentido mais fútil, mas sim como maneira de escapar de uma existência medíocre e triste. E é justamente essa despreocupação de procurar belezas ocas e clichês que faz com que "The Commitments" seja extremamente belo. Despojado de ambições estéticas exageradas, o filme concentra-se nos seres humanos que retrata. E são eles, ao lado de uma trilha sonora pra lá de caprichada que deixa tudo fascinante.
Repleto de standards da soul music - como "Mustang Sally" e "Try a little tenderness" - a trilha sonora de "The Commitments" merece um capítulo à parte. Como nos melhores musicais da história, a música não chega para atrapalhar o andamento da história e sim faz parte - de maneira indelével - dela. A voz poderosa de Andrew Strong na pele do vocalista Deco ajuda Parker a ilustrar a trajetória de Rabbitte e seus empresariados de forma ágil e comovente. Mas felizmente o veterano cineasta nunca deixa sua inteligência de lado e em momento algum apela para a emoção fácil. Apesar da atmosfera um tanto depressiva que perpassa todo o filme - e é brilhantemente disfarçada pela música e pela edição primorosa - o diretor não tenta fazer chorar nem busca críticas sociais panfletárias. Ele mostra uma realidade, como que testemunhando a mesma e dividindo suas impressões com o público, empolgado e atento.
Com um roteiro dono de um irresistível e imprevisível senso de humor - em especial na sua primeira metade - e uma despretensão que sempre é bem-vinda no cada vez mais mercenário cinema comercial, "The Commitments, loucos pela fama" é um dos melhores filmes de Alan Parker, que não à toa declarou que realizá-lo foi uma de suas melhores experiências como cineasta. E se ele gostou, quem somos nós para discordar?
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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2 comentários:
Sou fã de Parker e sempre fui deixando esse filme para depois....acho que o depois chegou.kkkk
Virei fã de Alan Parker, gosto da maioria de seus filmes!
Estou doido pra conferir este logo!
abs clênio ;)
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