VIDA DE SOLTEIRO (Singles, 1992, Warner Bros, 99min) Direção e roteiro: Cameron Crowe. Fotografia: Tak Fujimoto, Ueli Steiger. Montagem: Richard Chew. Música: Paul Westerberg. Figurino: Jane Ruhm. Direção de arte/cenários: Stephen J. Lineweaver/Clay A. Griffith. Casting: Owens Hill. Produção executiva: Art Linson. Produção: Cameron Crowe, Richard Hashimoto. Elenco: Matt Dillon, Bridget Fonda, Campbell Scott, Kyra Sedgwick, Sheila Kelley, Bill Pullman, James LeGros, Eric Stoltz, Jeremy Piven, Tom Skerrit, Paul Giamatti. Estreia: 18/9/92
A principal informação que pessoas normais tem a respeito de Seattle é que é a cidade que foi o berço do movimento "grunge", que, no início dos anos 90, legou ao mundo bandas como Pearl Jam e Nirvana (da cidade vizinha Aberdeen). E é justamente nessa Seattle musical e jovem que se passa uma das comédias românticas mais bacanas da década, que, se não tornou-se o êxito comercial esperado, ao menos amealhou fãs fiéis e ardorosos. "Vida de solteiro", escrito e dirigido pelo ex-repórter da revista Rolling Stone, Cameron Crowe, é uma delícia de se assistir e ouvir, mesmo depois de várias revisões.
O filme é, basicamente, uma colagem de pequenas anedotas romântico/sentimentais de um grupo de jovens de vinte e muitos anos que moram no mesmo prédio no subúrbio de Seattle. A garçonete Janet (Bridget Fonda, com ótimo timing cômico) é apaixonada pelo namorado, o músico Cliff (Matt Dillon, de cabelo comprido e visual desgrenhado), líder de uma banda de rock, Citizen Dick. O romance dos dois, porém, é atrapalhado pela absoluta falta de romantismo do rapaz, que prioriza a "carreira" em detrimento à sua relação com a namorada. O ex-namorado de Janet, o engenheiro de trânsito Steve (Campbell Scott) tenta vender o projeto de um supertrem à prefeitura da cidade, enquanto inicia um hesitante romance com a ambientalista Linda (Kyra Sedgwick assumindo com propriedade o papel que foi oferecido a Jodie Foster, Jennifer Jason Leigh e Mary Stuart Masterson), insegura em relação a confiar em homens, depois que foi enganada pelo último amante. E Debbie (Sheila Kelley), cansada da solidão, faz um vídeo procurando um novo amor.
Ao acompanhar a trajetória dessa meia dúzia de personagens simpáticos, humanos e absolutamente verdadeiros, Crowe entrega à plateia um dos mais inteligentes retratos de uma geração normalmente considerada apática. Em sua história, o diretor/roteirista não se contenta apenas em fazer rir ou emocionar com as mancadas sentimentais de seus heróis: eles também buscam o sucesso profissional, também sonham em viver longe de jogos amorosos, também tem dúvidas e inseguranças. Ninguém, em "Vida de solteiro" é totalmente seguro de si: Janet pensa em aumentar os seios para reconquistar o namorado, Cliff é um roqueiro bem medíocre, Steve é dedicado à profissão mas não atinge o sucesso esperado, Linda sofre por não ter certeza de seus sentimentos e Debbie é uma maluquete que não se importa em ceder o pretendente à colega de apartamento em troca de algumas lavadas de louça. São todas personagens escritas com carinho e bom-humor, quase como uma descrição que alguém faz dos melhores amigos.
E está tudo lá, em "Vida de solteiro": as inseguranças ("será que eu devo ligar?"), os conselhos errados ("mulher gosta de mistério..."), as cantadas equivocadas ("não fazer tipo é seu tipo") e as declarações de amor inesperadas ("não me faça ter que lembrar desse cachorro-quente pra sempre..."). Está lá a trilha sonora vibrante e a participação especial de músicos e amigos do diretor (Eddie Vedder e a banda Pearl Jam são os integrantes da Citizen Dick, e Tim Burton faz uma ponta como um cineasta amador de vanguarda). Está lá o elenco de jovens atores em seus melhores dias e está lá, principalmente, a simpatia e o alto-astral que fazem de uma comédia romântica um dos gêneros mais queridos pelo público. Mas, acima de tudo, "Vida de solteiro" é uma celebração ao amor, à amizade, à juventude e, por que não?, à Seattle.
Um dos melhores filmes de Cameron Crowe - que anos depois lançaria o magnífico "Quase famosos" - a história de Janet, Cliff, Debbie, Steve e Linda é para ver e rever sempre. De preferência com um enorme sorriso e o coração aberto.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
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4 comentários:
Vi anos atrás e adorei. Gostei muuuito.
Ainda não tive a oportunidade de ver, mas me interessei bastante.
Abraços.
É legal...
Amei, amei e amei de novo; me identifiquei tanto com o negócio de ligar ou não da Janet. OIHAOEUHEOIUHOIUAHEAOIUAEH
Lindão o filme. x)
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