GAROTAS SELVAGENS (Wild things, 1998, Mandalay Entertainment, 108min) Direção: John McNaught. Roteiro: Stephen Peters. Fotografia: Jeffrey L. Kimball. Montagem: Elena Maganini. Música: George S. Clinton. Figurino: Kimberly A. Tillman. Direção de arte/cenários: Edward T. McAvoy/Bill Cimino. Produção executiva: Kevin Bacon. Produção: Steven A. Jones, Rodney Liber. Elenco: Matt Dillon, Kevin Bacon, Neve Campbell, Denise Richards, Bill Murray, Theresa Russell, Robert Wagner. Estreia: 20/3/98
"Garotas selvagens" é tão exageradamente cafona e e absurdo que a única maneira de assistí-lo e gostar é deixando de lado todo e qualquer senso crítico. Propositalmente over e excessivo, o filme produzido por Kevin Bacon foi vendido como um suspense, mas no fundo é uma comédia rasgada, repleta de reviravoltas inacreditáveis e um erotismo à la revista Playboy que, com certeza, é capaz de agradar à ala masculina da plateia. Para isso, o diretor John McNaught (outrora respeitado por seu filme de estreia, o violento "Henry, retrato de um assassino") foi feliz em escalar Denise Richards, a perfeita encarnação da Barbie sexy e descerebrada, para um dos papéis centrais. Ao lado da sempre péssima Neve Campbell, ela protagoniza cenas bastante quentes, o que talvez justifique o adjetivo "selvagens" do titulo.
Em sua primeira metade, "Garotas selvagens" tem a aparência de uma telenovela de baixa qualidade. Tanto seus diálogos quanto as atuações são canhestras, tudo envolvido em um cenário perceptivelmente exagerado e/ou cafona (sem a exaltação que diretores como Almodovar fazem do kitsch). Matt Dillon, exercitando sem pudor nenhum sua canastrice, vive Sam Lombardo, o conselheiro escolar de uma escola do sul da Flórida (em um papel recusado por Robert Downey Jr.). Admirado pelos colegas e pelos alunos, o rapaz tem sua vida transformada em um pesadelo quando uma estudante, a milionária Kelly Van Ryan (Denise Richards) o acusa de estupro. Para complicar a situação, outra aluna, a rebelde sem causa Suzie Toller (Neve Campbell) também o denuncia pelo mesmo motivo. Sentindo-se condenado mesmo antes do julgamento (a família de Kelly é praticamente a dona da cidade e sua mãe já passou pela cama do professor), Lombardo conta com o apoio do advogado Ken Bowden (Bill Murray, hilariante como sempre) e do investigador de polícia Ray Duquette (Kevin Bacon), que não parece acreditar muito nas acusações.
Depois da primeira reviravolta do roteiro, "Garotas selvagens" descamba para um samba do crioulo doido. A partir daí, nada é o que parece, ninguém é tão confiável (ou tão mau-caráter) e a impressão que se tem é que o elenco está se divertindo mais do que o público. O que parecia um melodrama transforma-se em um jogo de erotismo e violência, onde tudo pode acontecer. Vítimas transmutam-se em agressores. Agressores posam de vítimas. E resta a Duquette e sua parceira Gloria (Daphne Rubin-Vega) separar o joio do trigo e chegar a uma verdade absoluta. Que talvez não exista.
É justamente o fato de evitar o maniqueísmo que ajuda e ao mesmo tempo atrapalha "Garotas selvagens". Ao mostrar que ninguém é exatamente bom ou ruim o tempo todo, tanto o roteirista Stephen Peters quanto o diretor McNaughton tiram o prazer da audiência de assistir-se a um filme onde se está plenamente claro para quem se deve torcer. Por outro lado, a trama torna-se imprevisível, o que também é uma qualidade rara no cinemão americano (mesmo que essa imprevisibilidade esbarre muitas vezes no nonsense). Depois da terceira reviravolta, fica evidente que tudo não passa de uma grande brincadeira (mesmo porque levar Denise Richards, Matt Dillon e Neve Campbell a sério é difícil...), mas a questão que fica é se o público está disposto a participar dela ou não. Se sim, pode deixar o senso de realidade descansando e se divertir. Se não, é capaz de terminar o filme com um amargo gosto de decepção....
Enfim, "Garotas selvagens" é tão ruim que chega a ser bom. Melhor acreditar nas intenções de McNaughton do que considerá-lo um embuste.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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3 comentários:
E sem contar as continuações que são piores mas melhores se formos pensar apenas no erotismo movie!!!
Só assisti o primeiro. Acho razoável.........para assistir num Supercine. Nada mais do que isso.
Engraçado suas opiniões, porque muitos outros Críticos acharam o Filme Muito Bom
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