X-MEN (X-Men, 2000, 20th Century Fox/Marvel Enterprises/Donner's Company, 104min) Direção: Bryan Singer. Roteiro: David Hayter, estória de Tom DeSanto, Bryan Singer. Fotografia: Newton Thomas Sigel. Montagem: Steven Rosenblum, Kevin Stitt, John Wright. Música: Michael Kamen. Figurino: Louise Mingenbach. Direção de arte/cenários: John Myhre/James Edward Ferrell. Produção executiva: Avi Arad, Tom DeSanto, Richard Donner, Stan Lee. Produção: Lauren Shuler Donner, Ralph Winter. Elenco: Patrick Stewart, Ian McKellen, Hugh Jackman, Halle Berry, Anna Paquin, James Mardsen, Famke Janssen, Rebecca Romijn-Stamos, Bruce Davison. Estreia: 14/7/00
Até o dia 14 de julho de 2000, o destino dos filmes baseados em histórias em quadrinhos era sempre uma incógnita. Para cada “Superman” de Richard Donner ou “Batman” de Tim Burton surgiam aberrações como os filmes do homem-morcego dirigidos por Joel Schumacher – que humilhavam seu herói impiedosamente com roteiros deploráves e produções vexaminosas. Foi somente quando um grupo de mutantes chegou às telas de cinema sob o comando de um diretor improvável e um elenco desprovido de astros de primeira grandeza que a porta para o sucesso constante do universo dos famigerados comic books foi finalmente aberta (ou seria melhor até dizer, escancarada). “X-Men, o Filme” foi a prova que todo mundo precisava de que, adaptados em um roteiro inteligente e dirigidos por gente criativa e talentosa, os quadrinhos poderiam – e até mesmo deveriam, dada a sua importância dentro do universo pop – ser uma matéria-prima quase infinita para a sétima arte.
Relativamente fiel a suas origens, “X-Men” é um êxito absoluto, principalmente se for levado em conta que seu diretor não era exatamente um fã nem da série nem tampouco do gênero. Revelado por obras fortes e dotadas de grande poder dramático – “Os suspeitos” e “O aprendiz” – Bryan Singer assumiu as rédeas do filme depois que nomes conhecidos dos fãs de ação - como John McTiernan, James Cameron, Richard Donner e Joel Schumacher – foram sendo sistematicamente deixados de lado (até mesmo Danny Boyle, Robert Rodriguez e Tim Burton estiveram na lista de possíveis diretores). Ao sentar na cadeira de diretor, porém, o jovem Singer (na época com apenas 34 anos) não se fez de rogado e criou o filme que todos os fãs dos mutantes esperavam (pelo menos até o segundo capítulo, também dirigido por ele e lançado três anos depois, que expandiu ainda mais as qualidades da história). Levando a trama extremamente a sério, Singer não dirigiu apenas um entretenimento escapista de verão: ele criou um clássico pop que, além de divertir o suficiente, apresenta uma metáfora bastante pertinente a respeito de preconceito e tolerância.
Quando o filme começa, o público fica sabendo que há muitos anos milhares de mutantes transitam pela Terra, convivendo de forma pacífica e discreta com seres humanos convencionais, ainda que muitos escondam seus dons para que possam viver normalmente. O sensato Professor Xavier (Patrick Stewart) comanda uma escola para jovens mutantes (disfarçada como escola para superdotados), onde eles podem aprender a controlar seus poderes e utilizá-los de forma apropriada. Porém, um senador da República (Bruce Davison) dá início a uma campanha nacional que pede a todos os mutantes que se identifiquem. Com medo da discriminação que tal lei poderia causar, Magneto (Ian McKellen), um mutante com poder de manipular metais com o poder da mente, pretende começar uma guerra contra os humanos. Sobrevivente de um campo de concentração na II Guerra, Magneto conhece as conseqüências de ser “diferente” e entra em conflito direto com Xavier, que acredita que a tolerância e o diálogo são os melhores meios para lidar com a situação. Para impedir Magneto de principiar sua sangrenta e violenta guerra, Xavier conta com o auxílio do misterioso Wolverine (Hugh Jackman) – um homem cujas garras de adamantium são apenas uma parte de seu misterioso passado – a belas Tempestade (Hale Berry) e Jean Grey (Famke Janssen), o jovem Ciclope (James Mardsen) e a adolescente Vampira (Anna Paquin) – que une-se ao grupo como forma de auto-aceitação.
Além do roteiro enxuto que apresenta de forma quase didática seus personagens e situações – além de deixar um bela porta aberta para sua brilhante continuação – “X-Men” ainda por cima com um elenco excepcional. Sir Ian McKellen mais uma vez rouba a cena como o vilão Magneto, cuja maldade é compreensível em grande parte pelo talento do ator. As oscarizadas Anna Paquin e Hale Berry (que levaria a estatueta pouco depois de sua atuação como Tempestade) dão estofo artístico ao projeto e Patrick Stewart (fã dos quadrinhos) é a escolha ideal para Xavier. Mas é o então desconhecido Hugh Jackman que mais chama a atenção da plateia, com sua perfeita criação de Wolverine, uma personagem que parece ter sido criada para ele (e no entanto seria de Dougray Scott, que perdeu o papel por estar preso nas atrasadas filmagens de “Missão: Impossível 2”. Mesmo que não parecesse a escolha ideal para os fãs dos quadrinhos (o Wolverine original é baixinho e Jackman tem quase 1,90m), o ator australiano não deixou pedra sobre pedra com seu trabalho impecável – que garantiu inclusive um filme solo para seu personagem, o fraquinho “Wolverine: Origens”, de 2009.
Com efeitos visuais discretos mas eficientes, humor nas horas certas (e em quantidade limitada) e um roteiro esperto mas nunca bobo ou querendo ser alternativo e/ou artístico, “X-Men” conquistou seu público como uma das melhores traduções do universo dos quadrinhos para a tela do cinema, alterando definitivamente – para o bem e para o mal – o panorama do entretenimento no século XXI.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
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2 comentários:
A primeira parte do seu texto é espetacular.
A sensação ao recebermos os filmes de quadrinhos era essa mesma. Ainda bem que melhorou muito nos últimos anos. Mas, vez ou outra é lançado um Lanterna Verde para nos desanimar.
X-Men é um dos melhores. AMO esse filme. Tudo combinando perfeitamente e respeitando os fãs de quadrinhos de uma forma geral.
Não sou fã de quadrinhos, então não tem como comparar.
Gostei muito deste filme e a sequência é ainda melhor. Pena que a terceira parte tenha personagens demais para pouco tempo de história.
Abraço
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