quarta-feira

A CONSPIRAÇÃO

A CONSPIRAÇÃO (The contender, 2000, Dreamworks SKG, 126min) Direção e roteiro: Rod Lurie. Fotografia: Denis Maloney. Montagem: Michael Jablow. Música: Larry Groupé. Figurino: Matthew Jacobsen. Direção de arte/cenários: Alexander Hammond/Eloise Stammerjohn. Produção executiva: Maurice Leblond, Gary Oldman. Produção: Marc Frydman, James Spies, Douglas Urbanski. Elenco: Joan Allen, Gary Oldman, Christian Slater, Jeff Bridges, Sam Elliott, William Petersen, Saul Rubinek, Philip Baker Hall, Robin Thomas, Mariel Hemingway. Estreia: 13/10/00

2 indicações ao Oscar: Atriz (Joan Allen), Ator Coadjuvante (Jeff Bridges)

Filmes sobre política norte-americana interessam ao público brasileiro quase na mesma proporção que filmes sobre beisebol. Intrigas dos bastidores da Casa Branca e seus arredores, portanto, volta e meia suscitam a atenção, como bem prova a popularidade da série de TV "West Wing" - que mesmo assim fez um sucesso imenso nos EUA e aqui tinha uma audiência bastante selecionada. Por essa razão não é nenhuma surpresa o fato de um filme tão interessante quanto "A conspiração" ter passado quase batido na ocasião de sua estreia, apesar do elenco de prestígio. Se não fosse as indicações ao Oscar - Joan Allen como melhor atriz e Jeff Bridges como ator coadjuvante é bem possível que nem mesmo tivesse passado pelas salas brasileiras.

Escrito e dirigido pelo desconhecido Rod Lurie - que dedica o filme a suas filhas, em sinal de esperança no futuro de seu país - "A conspiração" é um drama político que centra sua atenção mais em suas personagens do que em intrincadas manobras de gabinete (ainda que elas existam em número considerável), o que facilita a assimilação até mesmo por quem não tem familiaridade com os jogos políticos americanos. É elogiável a forma sóbria e direta com que Lurie conta sua história, permitindo a seus atores (todos em excelente forma) momentos de um brilho discreto mas muito eficiente.


Quando o filme começa, os EUA estão sem um vice-presidente, morto recentemente. A expectativa de todos é que o presidente, o carismático Jackson Evans (Jeff Bridges em uma atuação simpática) nomeie o governador Jack Hathaway (William Petersen) para o cargo, aproveitando sua popularidade em alta, especialmente depois de ter tentado salvar (em vão) uma jovem de morrer afogada após um acidente de carro. O que surpreende a todos - mas não em especial seus assessores mais próximos - é a decisão de Evans de deixar um legado histórico, escolhendo uma mulher para o segundo posto mais importante do país. A escolhida é a senadora Laine Hanson (Joan Allen), uma mulher séria e discreta, filha de um político, que aceita o cargo prontamente. A escolha do presidente desagrada principalmente o líder da oposição, Shelly Ruinon (um Gary Oldman irretocável), que tencionava manipular Hathaway. Para denegrir Hanson e tentar impedir sua posse, ele faz vazar para a imprensa e consequentemente para os eleitores, fotos que mostram a senadora participando de uma orgia sexual em seus tempos de faculdade. Atônita com a situação, ela se vê dividida entre reagir à altura ou manter sua integridade pessoal e privada.

Depois de ter-se consagrado como a coadjuvante perfeita - em filmes como "Nixon", "As bruxas de Salem" e "Tempestade de gelo" - finalmente Joan Allen atinge o status de protagonista, em um papel escrito especialmente para seu talento. Sua Laine Hanson é discreta, honesta e estoica, mesmo quando vê sua vida pessoal ser vasculhada com um microscópio, e o rosto sempre sereno de Allen casa perfeitamente com a personalidade da personagem. Joan trasmite confiabilidade, o que é essencial para que o público fique a seu lado, torcendo contra aqueles que, em nome da moral e dignidade, buscam sujar seu nome, mesmo que não sejam exatamente exemplos de hombridade (um detalhe que lembra perigosamente os políticos brasileiros). Essa definição clara entre o bem e o mal feita pelo roteiro de Lurie caminha perigosamente em direção ao maniqueísmo, mas felizmente o cineasta consegue driblar essa armadilha, mantendo o tom sério e realista da trama, que tem entre seus produtores executivos o excepcional Gary Oldman.

Foi Jeff Bridges quem concorreu ao Oscar de coadjuvante por "A conspiração", mas quem deveria ter sido lembrado - por outros filmes também - é Oldman. Na pele do vil, cínico e cruel Shelly Runion, o ator inglês não apenas está irreconhecível. Ele está visivelmente à vontade, em um papel sob medida para seu talento para o lado obscuro do ser humano - que tanto lhe ajudou em "Drácula de Bram Stoker" e "Sid & Nancy, o amor mata". Seus diálogos com Joan Allen encontram nos dois atores os intérpretes ideais, em um jogo de cena quase minimalista, repleto de silêncios e olhares expressivos. Oldman encarna um político da forma mais abjeta e escorregadia possível, provocando a antipatia imediata da plateia e causando, assim, a torcida incondicional pela heroína. Não é esse o sonho de todo diretor?

"A conspiração" é um filme inteligente, adulto e sério que toca em assuntos pertinentes e relevantes. Depois de juntar a essas qualidades um elenco de grandes atores - que nem Christian Slater consegue estragar - é só correr pro abraço. E ser descoberto pela audiência que lhe interessa.

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