Quando Woody Allen resolve falar sério e evoca um de seus ídolos máximos, Ingmar Bergman, ele conquista pela profundidade e por seu surpreendente entendimento da alma humana. Quando pretende apenas fazer rir, no entanto, é que o diretor nova-iorquino mostra porque é um dos mais prestigiados cineastas em atividade, capaz de arregimentar astros de todos os quilates para suas produções. Em "Dirigindo no escuro", ele não apenas faz rir como utiliza sua experiência de mais de três décadas no mundo do cinema para alfinetar a própria indústria.
O próprio Allen vive o protagonista, Val Waxman, um cineasta vencedor de dois Oscar que, em desgraça devido a seus ataques de estrelismo, tem a grande chance de voltar ao topo ao ser contratado para dirigir uma nova - e cara - produção. A princípio relutante em aceitar o trabalho - o produtor do filme, Hal Yaeger (Treat Williams) é o novo marido de sua ex-mulher (Tea Leoni) - Waxman acaba embarcando no projeto, disposto a tentar a ressurreição de sua carreira. Depois de contratar toda a equipe (inclusive um diretor de fotografia asiático cheio de manias e que não fala nenhuma palavra de inglês), ele descobre, na véspera do início das filmagens, que ficou cego. Impedido por seu agente (o cineasta Mark Rydell, de "A Rosa") de desistir do trabalho, Waxman dá início à produção do filme, sem contar a ninguém sua condição, contando apenas com a ajuda do intérprete contratado para auxiliar na comunicação com o fotógrafo.
É dificil ficar incólume a "Dirigindo no escuro", especialmente quando se é fã de cinema e percebe-se nele referências nominais - aos irmãos Weinstein, donos da então poderosa Miramax, por exemplo - e piadas geniais sobre a própria Hollywood e suas engrenagens mercenárias. Ao eleger como protagonista um cineasta que conduz um filme sem enxergar um palmo diante do nariz, o diretor mostra, com seu característico senso de humor, que nem é preciso ter uso de todos os cinco sentidos para se ter uma bem-sucedida carreira na terra do cinema.
Com um final irônico e à altura do desenvolvimento do roteiro, repleto de diálogos engraçadíssimos e piadas visuais há muito ausente das obras de Woody Allen - e com um elenco que conta com Debra Messing, a gracinha protagonista do seriado de TV "Will & Grace" - "Dirigindo no escuro" pode não ser o mais popular entre seus filmes, mas está (como sempre) muito à frente de comédias sem-graça que são servidas semanalmente ao público. Hilariante!
Um comentário:
Este é um Woody Allen que ainda não assisti.
Abraço
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