Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
DIREITO DE AMAR
DIREITO DE AMAR (A single man, 2009, Miramax Films, 99min) Direção: Tom Ford. Roteiro: Tom Ford, David Scearce, romance de Christopher Isherwood. Fotografia: Eduard Grau. Montagem: Joan Sobel. Música: Abel Korzeniowski. Figurino: Arianne Phillips. Direção de arte/cenários: Dan Bishop/Amy Wells. Produção: Tom Ford, Andrew Miano, Robert Salerno, Chris Weitz. Elenco: Colin Firth, Julianne Moore, Matthew Good, Nicholas Hoult, Ginnifer Goodwin, Lee Pace. Estreia: 11/9/09 (Festival de Veneza)
Indicado ao Oscar de Melhor Ator (Colin Firth)
Responsável pelo renascimento da marca Gautier na década de 90, o estilista Tom Ford é conhecido internacionalmente por seu rigor estético elegante e sobriedade. Não foi à toa, então, que seu primeiro filme como cineasta tenha seguido essa tendência à discrição: "Direito de amar", inspirado no livro de Christopher Isherwood, é uma melancólica história de amor, perda e solidão, tratada com uma delicadeza que só mesmo alguém com o bom gosto de Ford conseguiria. Narrado com um ritmo que destoa da maioria das produções histéricas ao gosto do público médio - ou seja, prefere a contemplação e o diálogo em detrimento de uma edição picotada e uma trama mastigadinha - o filme foi também o responsável por dar ao inglês Colin Firth sua primeira chance de sair do rol dos coadjuvantes ou de figurar em elencos de comédias românticas para mostrar seu potencial como ator. Sua merecida indicação ao Oscar é reflexo de uma interpretação contida, em que silêncios e olhares dizem muito mais do que horas e horas de discursos inflamados. Uma pena que sua estatueta só tenha vindo no ano seguinte pelo sofrível "O discurso do rei".
Em "Direito de amar" - mais um título nacional boboca para a lista interminável de equívocos das distribuidoras - Firth dá vida à George, um professor secundarista cuja vida está em estado de inércia desde a morte de seu amante, com quem mantinha um relacionamento de amor e carinho - apesar da família do jovem, que não aceitava o romance e o impediu inclusive de assistir ao funeral. Levando seus dias de forma mecânica e triste, ele resolve acabar com a própria vida. Depois de organizar tudo - escolhe as roupas para o enterro, deixa as contas em ordem e instruções detalhadas para a empregada - ele vai seguir sua rotina: tenta interessar seus alunos em literatura, bate-papo com os colegas e faz uma visita à sua melhor amiga, Charley (Julianne Moore, impressionante como quase sempre), apaixonada por ele. É somente no caminho de volta para casa, ao entrar em um bar, que seu objetivo começa a perder força: ele encontra Kenny (Nicholas Hoult, o menino desajustado de “Um grande garoto”, aqui crescido e demonstrando talento), um aluno inteligente e sensível que o fará questionar as razões que a vida tem – ou não tem.
Visualmente requintado – com uma fotografia deslumbrante e uma reconstituição de época (anos 60) caprichada – e poeticamente narrado, “Direito de amar” é quase um filme literário. Mesmo que em muitos momentos as imagens falem mais do que as palavras, os diálogos do roteiro de Ford e David Scearce são tocantes, delicados – e às vezes bastante cruéis em suas observações sobre o destino e a solidão, especialmente quando comparados com as esperançosas e felizes conversas entre George e Jim, mostradas em flashbacks em onírico preto-e-branco no decorrer da estória. Tom Ford acertou em cheio no tom escolhido para acompanhar a trajetória de seu protagonista: desfilando incólume por belas paisagens e tendo contato com homens e mulheres brilhantes, George já não vê mais graça na vida e se refugia nas lembranças – de Jim, de sua infância, de momentos felizes – e na opção pelo suicídio. Pesado? Sim. Mas também de uma delicadeza inesquecível.
“Direito de amar” não é para qualquer um. Não é um filme hermético, repleto de símbolos inescrutáveis, nem tampouco é uma obra direcionada ao público homossexual, como se poderia imaginar levando em conta a trama. Mas é lento, sofrido, melancólico. E é, acima de tudo, um filme de estreia de um diretor que ainda vai dar muito o que falar.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
Nenhum comentário:
Postar um comentário