quinta-feira

RAUL: O INÍCIO, O FIM E O MEIO

RAUL: O INÍCIO, O FIM E O MEIO (Raul: o início, o fim e o meio, 2012, A.F. Cinema e Vídeo/Elixir Entretenimento, ) Direção: Walter Carvalho. Roteiro: Walter Gudel. Fotografia: Lula Carvalho. Montagem: Pablo Ribeiro. Produção: Denis Feijão. Estreia: 23/3/12

Não é preciso ser fã do rock indefinível criado por seu protagonista para se gostar de "Raul: o início, o fim e o meio", documentário de Walter Carvalho sobre um dos mais polêmicos astros da música brasileira, que escapava facilmente de qualquer rótulo que porventura o mercado quisesse lhe impor. Basta gostar de história da cultura popular nacional - ou de documentários inteligentes - para se deixar envolver. Ao contrário do filme anterior de Carvalho - um dos mais renomados diretores de fotografia do cinema nacional - que contava a vida do roqueiro Cazuza em tom ficcional, esse seu trabalho é resultado de uma pesquisa que consumiu mais de dois anos de sua vida, além de entrevistas com mais de 90 pessoas que tiveram algum tipo de contato com Seixas. O resultado é um filme emocionante, engraçado, nostálgico e revelador, ainda que felizmente não tenha a intenção de "definir" seu personagem principal.

Inserido em uma tradição recente da cinematografia nacional - que vem trazendo à luz nomes esquecidos e/ou injustiçados do cancioneiro popular brasileiro, como "Loki" (sobre Arnaldo Baptista) e "Ninguém sabe o duro que eu dei" (genial trabalho sobre Wilson Simonal) - "Raul: o início, o fim e o meio" tem a seu favor o carisma de seu investigado, um artista cuja obra rica e surpreendente ainda hoje mantém-se viva graças a legiões de fãs apaixonados e à contemporaneidade de sua música, que se presta a inúmeras leituras. É impossível para qualquer brasileiro nunca ter escutado ou cantarolado Seixas, e essa espécie de "inconsciente coletivo" apenas ajuda o filme, que, através de depoimentos de gente que realmente tem o que contar sobre o artista, cria um mosaico tão vasto sobre sua personalidade que, ao término da sessão não apenas um Raul fica na mente do público e sim vários: tudo depende do olho do espectador.


Entremeadas às canções saudosas de Seixas - e a seleção de Carvalho é fenomenal - existe depoimentos de todas as suas companheiras (e, com a exceção de sua primeira mulher, Edith, todas ainda mantém um perceptível carinho por ele), de seus amigos de infância, de suas filhas, de fãs, de colegas de trabalho e, como não poderia deixar de ser, de dois polêmicos parceiros: Paulo Coelho e Marcelo Nova. Enquanto o primeiro dá um longo depoimento sobre sua relação com Raul - e não tem medo aí de assumir que apresentou a eles todas as drogas possíveis, além de conduzi-lo ao estranho mundo da contracultura - o segundo tem que lidar com as acusações de alguns fãs e amigos do compositor de que foi o responsável por sua morte precoce (enquanto outras vozes, como Caetano Veloso, o defendem, acreditando em seu relacionamento de admiração genuína). Doente, Seixas morreu aos 44 anos - mas aparentando bem mais - depois de uma tourné de 50 shows com Nova (que o resgatou de um triste "chega pra lá" da indústria fonográfica).

Como filme, "Raul: o início, o fim e o meio" é o que se propõe a ser: um documento sobre um dos mais criativos e verdadeiros artistas pop do Brasil, que misturou Elvis Presley a Luiz Gonzaga sem jamais deixar de imprimir sua personalidade forte. E é inteligente ao optar por não chegar a nenhuma conclusão, o que seria no mínimo incoerente com a própria arte de Raul, que se intitulava uma "metamorfose ambulante". Seja como "carimbador maluco" (que o apresentou a uma nova geração de fãs), como "maluco beleza" ou como o criador de uma "sociedade alternativa", ele deixou sua marca indelével na cultura musical nacional. E não deixa de ser uma obrigação assistir à sua história. Ele é, definitivamente, a mosca que não para de pousar na nossa sopa (que o diga Paulo Coelho em uma cena destinada à antológica do filme). E nós não cansamos desse zunido...

Um comentário:

Liliane de Paula disse...

Não. Não tenho vontade de vê.

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