Vencedor do Golden Globe de Melhor Ator Coadjuvante em Minissérie ou Filme Para a TV (Matt Bomer)
Em 2014, Matthew McConaughey e Jared Leto levaram os Oscar de melhor ator e ator coadjuvante respectivamente por seus elogiados desempenhos em "Clube de Compras Dallas", um filme no máximo razoável que, graças à força de suas interpretações chegou a concorrer à cobiçada estatueta de melhor filme. Se tivesse tido a sorte de ter sido produzido para o cinema e não para a televisão - através da HBO - a adaptação da premiada peça teatral de Larry Kramer "The normal heart" poderia ter tido um destino ainda mais feliz. Dirigido por Ryan Murphy - criador de várias séries televisivas de sucesso, como "Glee" e "American Horror Story" - o filme, que estreou nos EUA poucos meses depois da cerimônia que consagrou Leto e McConaughey, compartilha com o filme de Jean-Marc Vallé (que também ganhou o Oscar de maquiagem) o mesmo tema - o início da epidemia da AIDS, no princípio da década de 80 - mas acaba se revelando muito mais satisfatório, tanto em termos emocionais quanto informativos. Com um excelente elenco liderado por Mark Ruffalo e Julia Roberts (casada com o diretor de fotografia do filme, Danny Moder), "The normal heart" segue a tradição de grandes obras sobre o tema, como "E a vida continua", "Meu querido companheiro" e "Angels in America", mas vai além deles ao ser o primeiro a explicitar sem medo a sexualidade de seus personagens centrais.
Baseado em personagens e histórias reais - alterados para efeito de maior liberdade dramática pelo autor Larry Kramer - "The normal heart" não tem medo de deixar bem claro ao espectador que seus protagonistas são gays com vida sexual ativa e despreocupada, ao contrário de obras criticadas pela comunidade homossexual (como "Filadélfia") em que os personagens transmitem a impressão de viver em quase celibato. A trama se concentra principalmente em Ned Weeks (Mark Ruffalo), escritor abertamente gay que se torna um determinado ativista na busca por informações e tratamentos para a então iniciante epidemia da AIDS nos EUA. Ainda chamada de "câncer gay" por médicos desconhecedores de detalhes sobre suas formas de transmissão e metabolismo, a doença chama a atenção da infectologista Emma Brookner (Julia Roberts), que se une a Weeks na tentativa de formar uma equipe de cidadãos interessados em ajudar novos pacientes. Cada vez mais apavorado com o crescente número de vítimas - boa parte deles seus conhecidos - o escritor incorre na ira do governo ao acusá-lo de ignorar os números e impedir o controle da doença. A seu lado, fica seu incansável namorado, o jornalista Felix Turner (Matt Bomer), a estoica médica (que precisa mover-se em uma cadeira de rodas em consequência de uma poliomielite) e alguns poucos amigos que relevam seus métodos raivosos de atacar as autoridades. Nem mesmo seu irmão mais velho, o influente advogado Ben (Alfred Molina) escapa de suas violentas acusações - e tudo fica ainda pior quando Felix se revela portador do vírus.
Se Julia Roberts surge como um chamariz para o grande público - desprovida de glamour e de seu largo sorriso - é o elenco masculino quem acaba por destacar-se, em especial Mark Ruffalo e Matt Bomer, ambos premiados por suas interpretações. Ruffalo foi eleito o melhor ator de televisão no Satelitte Awards e Bomer levou pra casa um Golden Globe de melhor ator coadjuvante em minissérie ou filme televisivo, e fica difícil dizer qual dos dois está melhor em cena. Enquanto Ruffalo surpreende em uma atuação que equilibra fúria e delicadeza, Bomer se revela um ator de primeira linha ao dar vida a um homem que vê sua rotina radicalmente alterada por uma doença devastadora - sua transformação física é impressionante e, ao contrário do que acontece muitas vezes, trabalha a favor da profundidade de seu personagem, e não contra. É quase impossível segurar as lágrimas com seu desempenho - uma prova inconteste de sua imensa qualidade.
Tendo como um dos produtores executivos o ator Brad Pitt, e contando ainda no elenco com rostos conhecidos do público cativo da televisão, como Jim Parsons (de "Big Bang Theory"), Jonathan Groff (de "Looking"), Taylor Kitsch (da segunda temporada de "True detective") e Dennis O'Hare (de "American Horror Story"), "The normal heart" é um dos melhores filmes de 2014 - e pouco importa que não tenha sido feito diretamente para o cinema. No final das contas, isso é o que menos irá contar para todos que se permitirem um pouco de emoção real e honesta.
Um comentário:
Puxa! Um filme por dia. Ou mesmo que não seja um filme por dia ler sobre cinema por quem analisa cinema já me satisfaz.
Vou aprender.
Vou voltar para ler postagens anteriores.
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