CRIMES E PECADOS (Crimes and misdemeanors, 1989, Orion Pictures, 104min) Direção e roteiro: Woody Allen. Fotografia: Sven Nykvist. Montagem: Susan E. Morse. Figurino: Jeffrey Kurland. Direção de arte/cenários: Santo Loquasto/Susan Bode. Casting: Juliet Taylor. Produção executiva: Charles H. Joffe, Jack Rollins. Produção: Robert Greenhut. Elenco: Woody Allen, Mia Farrow, Alan Alda, Martin Landau, Anjelica Huston, Claire Bloom, Sam Waterston, Jerry Orbach. Estreia: 13/10/89
3 indicações ao Oscar: Diretor (Woody Allen), Ator Coadjuvante (Martin Landau), Roteiro Original
Em sua vasta carreira como cineasta, onde comédias sofisticadas dividem espaço com dramas existenciais profundos e densos, Woody Allen criou quase que um universo próprio, facilmente reconhecível dentro de sua filmografia. Mesmo que nem sempre acerte em cheio - ainda que até mesmo seus filmes menores sejam excelentes -, Allen de vez em quando aparece no auge de seu ofício, entregando à plateia filmes tão sensacionais que é difícil não reconhecer sua importância seminal no cinema americano. Um desses exemplos é "Crimes e pecados", um trabalho impecável de roteiro e direção, que é quase que uma reunião do que de melhor ele pode oferecer ao público. Um certo senso de humor melancólico, neuroses urbanas e uma dose de pessimismo (realismo?) fazem do ... do diretor uma de suas obras-primas. E para isso, ele não precisou nem de grandes astros nem de um orçamento estratosférico. Não foi ao Vietnã (como em "Nascido em 4 de julho"), não assumiu nenhum tom paternalista em relação à velhice (como em "Conduzindo Miss Daisy") nem falou de superações pessoais (como em "Em nome do pai"). "Crimes e pecados" fala de pessoas simples, com problemas que lhes atormentam a alma. Talvez por isso não tenha encontrado lugar entre os finalistas ao Oscar principal - ainda que tenha concorrido nas categorias de diretor, roteiro original e ator coadjuvante.
Retomando a ciranda de relacionamentos com que já havia brincado em "Hannah e suas irmãs" - com matizes mais leves e também bem-sucedidos - Allen conta várias histórias paralelas que se encontram sutilmente, graças a um roteiro bem costurado. O próprio diretor interpreta Cliff Stern um documentarista que se vê obrigado a ir contra os próprios ideais ao aceitar conduzir um programa de TV enfocando seu cunhado, o produtor de televisão Lester (Alan Alda, sensacional). Durante o processo, ele se apaixona pela produtora do show, Halley Reed (Mia Farrow), em quem reconhece uma alma parecida com a sua. Além de Lester, Cliff é também cunhado de Ben (Sam Waterston), um rabino sábio e inteligente que está em vias de perder a visão. Por isso, ele frequenta o consultório do renomado Judah Rosentahl (Martin Landau, indicado ao Oscar de coadjuvante), um homem aparentemente em paz com a vida mas que esconde uma terrível angústia: sua amante Delores Paley (Anjelica Huston) está ameaçando revelar seu caso com ele e ainda por cima denunciar uma fraude cometida anos antes.
As personagens de "Crimes e pecados" estão entre as melhores já criadas por Woody Allen. O roteiro investiga, de forma concisa e inteligente, os questionamentos humanos em relação à fé e a justiça divina. A visita de Judah à casa onde passou a infância (homenagem explícita a Ingmar Bergman), por exemplo, é um primor, assim como a conversa imaginária que ele tem com o rabino Ben, quando decide finalmente eliminar seus problemas da maneira menos ética possível, recorrendo a um assassinato. Segundo o filme, "o olho de Deus tudo vê", mas também segundo o roteiro, Deus pode ser apenas uma ideia, o que concede à humanidade e a seus atos uma aleatoriedade triste mas realista. Fugindo do otimismo de "Hannah", Allen é cético e quase cínico em sua abordagem sobre as pessoas e suas relações, o que se retrata na opção de Halley em abandonar seus ideais em nome do sucesso e na escolha de Judah em seguir o caminho mais "fácil" para sentir-se livre das pressões que o afligem.
Poucas vezes o cinema de Woody Allen foi tão contundente quanto em "Crimes e pecados". Infelizmente!
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