Se “Além da eternidade” prova alguma coisa é que até mesmo os gênios cometem erros. Tido como um dos fracassos da vitoriosa carreira de Steven Spielberg (e relegado à galeria de equívocos do cineasta, ao lado de filmes como “1941, uma guerra muito louca” e “Hook, a volta do Capitão Gancho”), esta refilmagem de um obscuro drama romântico dos anos 40 chamado “A guy named Joe” ("Dois no céu" no Brasil) não foi bem de bilheteria e nunca chegou a receber críticas entusiasmadas, ainda que tenha alguns tímidos fãs. A pergunta crucial é: o filme é ruim?
"Além da eternidade" conta a história de Pete Sandich (Richard Dreyfuss), um competente piloto de avião responsável por apagar incêndios florestais que ama o que faz e ama a namorada, Dorinda (Holly Hunter), apesar de nunca ter revelado a ela toda a extensão de seus sentimentos. Um dia, ao salvar a vida do colega e amigo Al (John Goodman), Pete sofre um acidente e morre. A princípio revoltado com sua condição, ele logo recebe de um anjo (a última atuação da sempre delicada Audrey Hepburn) uma missão: ajudar um jovem piloto (Brad Johnson) a se acertar na carreira e conquistar o amor da mulher que ama. O problema é que a mulher que o jovem, corajoso e belo aspirante a piloto deseja é justamente a mesma Dorinda que Pete ainda ama, apesar de estar em outro plano espiritual. Ele terá, então, que superar os próprios sentimentos para vê-la feliz.
Para os românticos incuráveis, a história de amor e morte dos protagonistas do filme pode funcionar muito bem. Para aqueles mais exigentes, no entanto, as coisas podem ser mais difíceis. Spielberg utiliza em seu filme ingredientes que, um ano depois, faria a glória de um digamos assim, subproduto chamado "Ghost, do outro lado da vida": romance entre pessoas de dimensões diferentes, ensinamentos espíritas e até uma canção dos anos 50 (nesse caso, a bela "Smoke gets in your eyes", com The Platters). Mas, por incrível que pareça, as falhas em "Além da eternidade" estão nas decisões tomadas pelo próprio diretor. Richard Dreyfuss e Holly Hunter são atores infinitamente superiores a Patrick Swayze e Demi Moore (astros de "Ghost"), mas não tem o mesmo carisma e beleza que levaram multidões aos cinemas. "Ghost" tinha elementos de humor e uma trama policial, que, apesar de diminuir a intensidade da história central, caíram no gosto do público. "Além da eternidade" se leva a sério demais. Mas o cineasta que deu ao mundo obras-primas emocionantes como "A cor púrpura" e "A lista de Schindler" parece não ficar muito à vontade ao falar de amor. Não é à toa que este é, até agora, seu único drama romântico.
"Além da eternidade" oferece à plateia cenas belíssimas (os incêndios, por exemplo, são fotografados exemplarmente por Mikael Salomon) e atuações muito competentes de seus protagonistas (Richard Dreyfuss é um ator que se presta a todas às nuances pretendidas pelo diretor e Holly Hunter, mesmo anos-luz distante do visual Barbie, é uma atriz espetacular - o que o Oscar por "O piano", quatro anos depois, provaria). Mas não tem o mesmo nível de paixão dos melhores trabalhos de Steven Spielberg. Ainda assim, um belo filme que merecia melhor sorte do que teve quando de sua exibição nos cinemas.
3 comentários:
Tenho curiosidade de ver o filme pela sempre ótima Audrey Hepburn e holly Hunter. Só.
eu adoro esse filme! é muito bonito e romantico! gostei muito de conhecer esse blog! um abraço! Marcos Punch.
Um filme subestimado de Spielberg. Ele tem até dificuldade de ser cult. Uma pena!
Abs.
Rodrigo
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