ATAME! (Atame!, 1990, El Deseo S/A, 111min) Direção e roteiro: Pedro Almodovar. Fotografia: José Luis Alcaine. Montagem: José Salcedo. Música: Ennio Morricone. Figurino: José Maria de Cossío. Direção de arte/cenários: Esther Garcia/Pepón Sigler. Produção executiva: Agustin Almodovar. Produção: Enrique Posner. Elenco: Victoria Abril, Antonio Banderas, Loles Leon, Francisco Rabal, Julieta Serrano. Estreia: 22/01/90
"Tenho 23 anos, 50 mil pesetas e serei um bom marido para ti e um bom pai para os teus filhos." Assim se apresenta à atriz Marina Osório o jovem Ric, recém-saído de uma instituição psiquiátrica e que, para chamar-lhe a atenção, sequestrou-a em seu próprio apartamento e a amarrou e amordaçou. Ele é apaixonado por ela desde que, em uma de suas várias fugas do hospital onde morava, encontrou-a em uma boate e fez sexo com ela. Esse amor, obcecado, cego e até um tanto ingênuo é o cerne de "Atame!", uma bizarra e excitante história de amor dirigida pelo mais apropriado cineasta possível: o espanhol Pedro Almodovar.
Alçado à glória depois do espetacular sucesso internacional de seu "Mulheres à beira de um ataque de nervos", Almodovar conseguiu surpreender meio mundo com sua visão particular (doentia/debochada/sexy) de "O colecionador" , filme de suspense dirigido por William Wyler em 1965 e estrelado por Terence Stamp e Samantha Eggar. Ao acrescentar altas doses de erotismo à sua já idiossincrática visão de mundo - que inclui um amor exagerado ao kitsch, um humor politicamente incorreto e seu alto teor iconoclasta - Almodovar encantou os fãs de bom cinema, mas incomodou a ala mais conservadora do público. Os exibidores americanos, por exemplo, não gostaram nadinha da longa cena de sexo entre os protagonistas e liberou-o para as salas de exibição com um selo de filme pornográfico. A gritaria em torno desse absurdo, inclusive - assim como aconteceu com o belo "Henry & June", de Philip Kaufman - foi o estopim para que a famigerada classificação X desse lugar, junto à censura americana, ao menos assustador NR-17 (menores de 17 anos entram no cinema somente acompanhados dos pais...) Mas o fato é que "Atame!" é bem mais do que um filme despudorado (no bom sentido) dirigido por um espanhol fora de controle (no melhor sentido) e rebelde às convenções morais (num sentido ainda melhor). "Atame!" é uma espécie de comédia romântica à base de anfetaminas. E é absurdamente delicioso!
Quando "Atame!" começa, o jovem Ric (vivido com gosto e uma alta dose de ingenuidade malandra por Antonio Banderas em seu melhor momento) está saindo de uma instituição onde passou a maior parte de sua vida - e onde aprendeu vários ofícios, além de ter dormido com todas as enfermeiras que lhe passaram pela frente. Seu maior objetivo, ao encarar novamente o mundo com liberdade, é conquistar a mulher que ama, Marina Osório (Victoria Abril), uma atriz pronô que está tentando abandonar o vício em drogas e começar uma carreira como intérprete séria ao fazer um filme com um veterano diretor (Francisco Rabal). Mas para convencer Marina que ele é o homem certo para ela, ele precisa apelar para seu plano B - raptá-la.
"Atame!" é Almodovar em seu melhor. A trilha sonora rasgada de Ennio Morricone casa com perfeição com as personalidades histéricas das personagens, com as corres berrantes da direção de arte característica da obra do cineasta - onde imagens de santos dividem espaço com vibradores em forma de mergulhadores - e com a história, por si só absurda e apaixonante. Assim como acontece com a maioria das criações de Almodovar, o amor de Ric não é um amor tradicional - ele não tenta conquistar Marina com poemas ou serenatas (até tenta com uma caixa de chocolate), mas sequestrando-a. Não é um beijo que ele lhe dá no primeiro encontro na casa dela - é uma cabeçada... Ric é a quintessência do amor na obra de Almodovar - erótico, compulsivo, passional, mas ainda assim absolutamente sincero.
E a tão falada cena de sexo de "Atame!" - elogiada até mesmo por Elia Kazan e que não acaba onde normalmente acontece quando um filme é pudicamente hollywoodiano - é, sem sombra de dúvida, uma das mais quentes, reais e excitantes da história do cinema. Almodóvar é mestre!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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2 comentários:
Esse está merecendo uma revisão de minha parte (assiti Ata-me com 16 anos... Faz tempo!). Aliás, bem que o Almodóvar e o Banderas podiam realizar outro projeto juntos. Eles fizeram coisas boas juntos!
Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com
Pseudo: Eles estão num novo filme: La Piel Que Habito.
Mais uma vez, adorei a crítica Clenio!
Abs.
Rodrigo
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