HERÓI POR ACIDENTE (Hero, 1992, Columbia Pictures, 117min) Direção: Stephen Frears. Roteiro: David Webb Peoples, história de Laura Ziskin, Alvin Sargent, David Webb Peoples. Fotografia: Oliver Stapleton. Montagem: Mick Audsley. Música: George Fenton. Figurino: Richard Hornung. Direção de arte/cenários: Dennis Gassner/Nancy Haigh. Casting: Howard Feuer, Juliet Taylor. Produção executiva: Joseph M. Caracciolo. Produção: Laura Ziskin. Elenco: Dustin Hoffman, Geena Davis, Andy Garcia, Joan Cusack, Chevy Chase, Stephen Tobolowski, Tom Arnold. Estreia: 02/10/92
"Quando a lenda é mais interessante do que a história, publica-se a lenda." A célebre frase, dita no filme "O homem que matou o facínora", parece ser o lema que orienta o roteiro de "Herói por acidente", ácida e cínica comédia dirigida pelo inglês Stephen Frears que falhou vergonhosamente em suas intenções de arrebatar prêmios nas cerimônias de 1992. Uma espécie de sátira ao estilo Frank Capra - repleto de ironias, mas sem as lições de moral dos filmes deste - o filme escrito por David Webb Peoples (autor de "Os imperdoáveis") não encontrou nem mesmo sua audiência, estacionando em uma bilheteria de menos de 20 milhões de dólares, a despeito de seu cartaz estampar os nomes de Dustin Hoffman e Geena Davis - ela então no auge da carreira depois do sucesso de "Thelma & Louise".
Davis interpreta Gale Gayley, uma repórter dedicada e ambiciosa, capaz de entrevistar suicidas momentos antes de seus atos finais. Durante um vôo de volta de Nova York - onde havia ido para receber um prêmio - seu avião sofre um acidente e os passageiros são resgatados por um homem misterioso, com o rosto sujo de lama e sem um pé de sapato. Não demora para que esse herói receba, na mídia, o apelido de "O anjo do vôo 104" e passe a ser procurado para entrevistas e glórias. Quando uma recompensa de 1 milhão de dólares é oferecida, porém, o novo astro surge: o mendigo John Bubber (Andy Garcia) assume o posto e torna-se ídolo das multidões, chegando inclusive a ensaiar um romance com a repórter. O problema maior é que Bubber não é o verdadeiro salvador: quem realmente merece as honras é Bernie LaPlante (Dustin Hoffman), um homem que vive de expedientes, sem emprego fixo e que foi parar na cadeia logo depois do acidente, acusado de revender objetos roubados. LaPlante tenta provar que ele é o verdadeiro herói, mas tem que lutar contra o fato de que Bubber é bonito, simpático e bem mais apropriado às intenções da mídia.
Um feroz ataque à futilidade da mídia, "Herói por acidente" esbarra, em certos momentos, em um cinismo exagerado. Ainda que a intenção do roteiro seja justamente ampliar os erros cometidos em nome do sucesso - afinal de contas é isso que faz uma comédia - às vezes a coisa parece sair do controle. Excelente diretor, Frears escorrega em carregar nas tintas das personagens, a ponto de nem mesmo o público saber discernir entre o que é verdadeiro ou não em suas personalidades. O romance entre Gale e John Bubber, por exemplo, não encanta justamente por esse motivo. Por melhores atores que sejam, Geena Davis e Andy Garcia saem-se muito melhor nas sequências menos dramáticas do filme - Garcia está sublime em seus momentos de demagogia explícita (ainda que o roteiro nem sempre se decida se ele é honesto ou não em suas intenções).
Mas Dustin Hoffman, mais uma vez, brilha intensamente. Apesar de manter alguns tiques de seu "Rain Man", ele dá a seu Bernie LaPlante nuances que o fazem driblar as armadilhas do roteiro um tanto maniqueísta. O protagonista criado por David Peoples não tem nada que o faça ser mais do que um ser humano um tanto desagradável, um pai relapso (mas amoroso) e um ex-marido decepcionante. Ainda assim, o carisma de Hoffman contorna as falhas de caráter de sua personagem, levando o público a torcer por sua vitória. A longa sequência em que ele conversa com um suicida John Bubber é um primor de inteligência, e seu diálogo esperto e realista compensa plenamente os percalços do roteiro até então.
Dizer que "Herói por acidente" é ruim é um pecado, bem como incensá-lo como uma obra-prima. É um filme de rara inteligência e sarcasmo, mas que resvala em alguns exageros. Não mereceu ser ignorado e deve ser redescoberto, ao menos para que a crítica furiosa que faz ao quarto poder não caia no vazio.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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2 comentários:
Acho um filme razoável e ponto. Um filme nota 6. Agradável, interessante e nada demais, nem de menos.
O melhor do filme é a crítica a mídia, que tenta sempre criar heróis ou vilões de acordo com seus interesses.
O elenco tb é bom, com Geena Davis ainda numa fase de boas escolhas de papéis.
Até mais
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