terça-feira

LOS ANGELES, CIDADE PROIBIDA

LOS ANGELES, CIDADE PROIBIDA (L.A. Confidential, 1997, Regency Enterprises/Warner Bros, 138min) Direção: Curtis Hanson. Roteiro: Curtis Hanson, Brian Helgeland, romance de James Ellroy. Fotografia: Dante Spinotti. Montagem: Peter Honess. Música: Jerry Goldsmith. Figurino: Ruth Myers. Direção de arte/cenários: Jeannine Oppewall/Jay R. Hart. Produção executiva: Dan Kolsrud, David L. Wolper. Produção: Curtis Hanson, Arnon Milchan. Elenco: Russell Crowe, Guy Pearce, Kevin Spacey, James Cromwell, Kim Basinger, Danny DeVito, David Strathairn, Ron Rifkin, Simon Baker, Matt McCoy, Paul Guilfoyle. Estreia: 19/9/97

9 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Curtis Hanson), Atriz Coadjuvante (Kim Basinger), Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original/Drama, Direção de arte/cenários, Som
Vencedor de 2 Oscar: Atriz Coadjuvante (Kim Basinger), Roteiro Adaptado
Vencedor do Golden Globe de Atriz Coadjuvante (Kim Basinger)

Até 1997 Curtis Hanson não parecia ser mais do que um cineasta-padrão de Hollywood, entregando filmes bastante competentes mas nunca geniais, como "Uma janela suspeita", "A mão que balança o berço" e "O rio selvagem". Por isso, quando "Los Angeles, cidade proibida" foi lançado todo mundo na capital do cinema - e mais os críticos e os fãs de bom cinema - ficou de queixo caído. Emulando com propriedade o estilo noir dos filmes policiais dos anos 40, Hanson assinou um filme extraordinariamente bom, capaz de competir de igual pra igual com os maiores clássicos do gênero. Premiado como melhor filme por praticamente todas as associações de críticos americanos, "Los Angeles" só não levou o Oscar e o Golden Globe por ter esbarrado em um iceberg gigantesco chamado "Titanic". Mas até mesmo os admiradores da mega-produção de James Cameron são obrigados a concordar que, em termos de narrativa e inteligência "Los Angeles" ganha de goleada.

Baseado em um extenso romance de James Ellroy publicado em 1990, o impecável roteiro de Hanson e Brian Helgeland consegue o feito raro de melhorar a história do escritor, tornando-a mais concisa e com menos tramas paralelas que não acrescentavam muito ao enredo central. Enquanto no livro a ação acontecia dentro de um espaço de tempo bastante vasto - quase uma década - o filme concentra tudo em cerca de um ano e opera algumas mudanças cruciais em alguns protagonistas, o que de forma alguma macula a escrita de Ellroy, um escritor cujo estilo seco tem fãs ardorosos - e cujo "Dália negra" foi posteriormente adaptado por Brian DePalma sem nem um terço do charme e do sucesso de "Los Angeles". Especializado em tramas policiais passadas na terra do cinema, Ellroy usa histórias reais como material de inspiração e pano de fundo para tramas que falam sobre corrupção, assassinatos e sexo. Fez isso com maestria em "Los Angeles, cidade proibida", cuja profusão de personagens e acontecimentos é resumida brilhantemente em forma de roteiro.

Tudo começa no dezembro de 1953. Considerados como a melhor força policial do país, os homens liderados pelo Capitão Dudley Smith (James Cromwell) passam por uma paradoxal situação, uma vez que o crime organizado cujo líder Mickey Cohen (Paul Guilfoley) manda e desmanda na região. Na mesma época em que o gângster é violentamente assassinado, uma chacina movimenta a cidade e mobiliza a imprensa e os detetives. Chamado de "O massacre de Nite Owl", a chacina que vitimou os clientes de uma lanchonete - inclusive um ex-detetive dispensado pouco antes - acaba sendo o primeiro caso importante de Ed Exley (Guy Pearce), um jovem e ambicioso tenente-detetive que vive à sombra do talento do pai. Comandando a investigação do crime - mesmo sendo desprezado por todos os colegas por ter sido o delator em um incidente no Natal - ele torna-se herói ao salvar uma jovem mexicana vítima de abuso sexual. No entanto, logo ele descobre que as coisas não são exatamente como parecem e que policiais corruptos podem estar envolvidos em uma grande rede de mentiras e violência. Para isso, ele precisa unir-se a outros dois detetives bastante diferentes de si mesmo: Bud White (Russell Crowe), um brucutu agressivo que se dedica a proteger mulheres vítimas de agressão doméstica e Jack Vincennes (Kevin Spacey), um vaidoso investigador que complementa seus ganhos como consultor de um programa de TV e ajuda o repórter sensacionalista Sid Hudgens (Danny De Vito) com suas reportagens na revista "Hush Hush", especializada em escândalos dentro da comunidade hollywoodiana. Juntos, Exley, Vincennes e White vão desbaratar uma complicada teia de intrigas que inclui uma rede de prostituição comandada por Pierce Patchett (David Strathairn), da qual faz parte a bela Lynn Bracken (Kim Basinger), que se envolve romanticamente com Bud White.


É difícil resumir a complexa trama de "Los Angeles, cidade proibida", tamanha é sua profusão de detalhes, personagens e situações. Organizar tudo de forma palatável a uma plateia tão mal-acostumada a historinhas mal costuradas é um mérito inquestionável do roteiro, que não deixa nenhum furo em seu caminho. Tudo que é dito e mostrado por Hanson é de extrema importância para o desenrolar da história, mesmo que a princípio pareça apenas uma forma de apresentar as personagens, todas elas construídas exemplarmente, diga-se de passagem (ainda que tenham passado por pequenas alterações do livro para a tela). O cuidado que Hanson tem com a reconstituição de época também tem com suas personagens e isso fica claro quando, na reta final, todas as cartas são embaralhadas e o público se deixa surpreender com revelações totalmente críveis ainda que inesperadas. A complexidade de personagens como Bud White - que repudia a violência contra a mulher e acaba sendo forçado a ela - e Ed Exley - que se vê obrigado a tomar atitudes que jamais tomaria nos primeiros minutos - encontra intérpretes ideais em um elenco que não poderia ser melhor.

Se foi Kim Basinger quem levou o Oscar de coadjuvante - por uma atuação correta mas nada mais do que isso - são seus colegas de elenco quem deveriam ter sido premiados. Kevin Spacey mais uma vez mostra seu imenso talento para a sutileza construindo um Jack Vincennes que equilibra cinismo com amargura na medida certa - a cena em que ele e Exley encontram Lana Turner em um bar é hilária. James Cromwell como o Capitão Dudley Smith, figura crucial na trama, mostra-se perfeitamente à vontade com as viradas de sua personagem. Guy Pearce - que ficou com o papel mesmo contra a vontade dos produtores, que não queriam um australiano no papel do americaníssimo Ed Exley - apaga a imagem de sua drag-queen de "Priscilla, a rainha do deserto", entregando um desempenho ideal. Mas é Russell Crowe quem rouba todas as cenas das quais participa. O ator neozelandês tornou-se queridinho de Hollywood depois de seu trabalho irretocável como Bud White, um policial truculento com um lado doce raramente revelado. Os olhos cheios de fúria de Crowe e sua interpretação avassaladora são o início de uma carreira meteórica que o levaria a concorrer a 3 Oscar consecutivos - e levar um por seu trabalho menos brilhante como ator, em "Gladiador".

Quaisquer elogios que se faça a "Los Angeles, cidade proibida" são poucos, tamanha sua força e brilhantismo em todos os quesitos. Impecável em qualquer nível - e encharcado de uma violência e uma sensualidade ímpares mas nunca vulgares - a obra-prima de Curtis Hanson é um daqueles filmes que só surgem uma vez a cada década. E que, como acontece com os clássicos, melhora a cada revisão. E quem precisa de uma chuva de Oscar quando se é tão perfeito?

3 comentários:

Silvano Vianna disse...

Show d+ esse filme. Recentemente eu pude conferí-lo em Blue Ray ficou ainda melhor. Em breve terá uma crítica dele no Cinema Detalhado.

Cristiano Contreiras disse...

Uma obra prima mesmo, comentei recentemente no meu Apimentário e obteve vários acessos na semana, apesar de Titanic ser mesmo um marco, mas é sim, esse filme é mais brilhante e o roteiro beira a perfeição. Eu acho que Basinger mereceu sim o prêmio, mas bem verdade Crowe está melhor aqui que no Gladiator!

belo texto, abs

Joyce Martins disse...

APAIXONANTE teu blog, meus parabéns!

Tenho certeza que farei muitas visitas aqui, ou quem sabe todos os dias?

tem simplesmente TUDO QUE EU AMO!

Obrigada por publicar algo tão maravilhoso e falar tão bem da sétima arte,

o melhor de todos!

JADE

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