CORRA LOLA, CORRA (Lola Rennt, 1998, 81min) Direção e roteiro: Tom Tykwer. Fotografia: Frank Griebe. Montagem: Mathilde Bonnefoy. Figurino: Monika Jacobs. Direção de arte/cenários: Alexander Manasse/Irene Otterpoh. Produção: Stefan Arndt. Elenco: Franka Potente, Moritz Bleibetreu, Nina Petri, Herbert Knaup. Estreia (Alemanha): 20/8/98
Ainda bem que não só de Wim Wenders vive o cinema alemão! Deixando de lado a imagem soporífera e intelectualoide das produções alemãs que alcançaram o grande público mundial, o divertido "Corra Lola, corra" rompe radicalmente com seus antepassados. Ágil, moderno e criativo, o filme de Tom Tykwer conquista a audiência justamente por ser absolutamente desligado de qualquer obrigação sócio-filosófica que o cinema europeu "engajado" empurra garganta abaixo do público. É entretenimento puro e simples, conectado absurdamente com a audiência jovem que fez dele um grande sucesso.
Apresentando o que convencionou-se chamar de "estética de videoclipe" (sem o sentido pejorativo do termo), "Corra Lola, corra" é praticamente isso, mesmo: um videoclipe estiloso e divertido que utiliza um fiapo de enredo para seduzir uma audiência sedenta por novidades na sétima arte. Pode ser quase fútil e até mesmo raso em termos de conteúdo, mas é tão fascinante que a falta de uma trama consistente quase nem é sentida. O truque é entrar na viagem de Tykwer e, ao lado da bela Franka Potente (que logo foi importada por Hollywood nos dois primeiros filmes da série Bourne), correr adoidado pelas ruas de uma Berlim bem diferente daquela mostrada pelos cineastas "sérios".
Lola, a protagonista vivida com garra e carisma por Potente, é uma jovem alemã que, na primeira cena do filme, recebe um angustiado telefonema do namorado Mannie (Moritz Bleibetreau), que acaba de perder uma sacola contendo 100 mil marcos que pertencem a seu chefe, um marginal perigoso e truculento. Para impedir que o rapaz assalte um supermercado, ela precisa arrumar a grana dentro de vinte minutos. A partir daí, a correria começa e o roteiro conta a mesma história três vezes, sempre com desdobramentos diferentes, tanto para Lola e Mannie quanto para as pessoas com as quais eles tem contato - entre elas, o pai de Lola (envolvido em uma relação extraconjugal) e o mendigo que encontrou a sacola com o dinheiro de Mannie.
Ao ritmo de música techno de qualidade (composta pelo próprio diretor e com vocais de Potente), "Corra Lola, corra" é dinâmico e imprevisível, utilizando-se de vários formatos para contar sua história, como animação e flashes fotográficos (que mostram o futuro das pessoas que cruzam o caminho da personagem central). Mesmo que os protagonistas não tenham exatamente um teor psicológico mais aprofundado - uma vez que a trama concentra-se basicamente nos vinte minutos cruciais de suas vidas - não é justo apedrejar o roteiro do cineasta, que brinca com todas as possibilidades do destino sem tentar ser filosófico ou sério demais. Isso o cinema alemão encontra em Wim Wenders, afinal...
"Corra Lola, corra" é um filme delicioso, com um visual atraente (é um achado a cabeleira vermelha de Lola esvoaçando enquanto ela percorre a passos largos as ruas de sua cidade) e um senso de timing extraordinário. Curto e enxuto (dura menos de hora e meia), é um filme com a cara de seu tempo, e é também um belo cartão de visitas para seu diretor, que, em Hollywood, assinaria o belo mas pouco visto "Paraíso", estrelado por Cate Blanchett e Giovanni Ribisi, com roteiro do polonês Krzystof Kieslowski.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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3 comentários:
Gosto do estilo insano do filme.
Um filme diferente e delicioso, como você mesmo disse.
O ritmo é frenético e adorável. Uma aula de como se pode ousar ao contar uma história.
Nota 10.
O blog tá bem bacana, Clenio.
Cumprimentos cinéfilos!
O Falcão Maltês
Acho esse filme bem interessante.
Concordo praticamente com tudo que o Renato falou.
Pena que a Potente sumiu né?!
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