BILLY ELLIOT (Billy Elliot, 2000, BBC Films/Studio Canal, 110min) Direção: Stephen Daldry. Roteiro: Lee Hall. Fotografia: Brian Tufano. Montagem: John Wilson. Música: Stephen Warbeck. Figurino: Stewart Meacham. Direção de arte/cenários: Maria Djurkovic/Tatiana Lund. Produção executiva: Charles Brand, Tessa Ross, David M. Thompson, Natascha Wharton. Produção: Greg Brenman, Jon Finn. Elenco:Jamie Bell, Julie Walters, Gary Lewis, Jamie Draven. Estreia EUA: 12/10/00
3 indicações ao Oscar: Diretor (Stephen Daldry), Atriz Coadjuvante (Julie Walters), Roteiro Original
A primeira cena já conquista o público. Ao som de "Cosmic Dancer", da banda T-Rex, um menino de onze anos de idade pula em sua cama, transmitindo uma alegria de viver que é uma lembrança viva da infância do próprio roteirista Lee Hall. O menino, vivido com graça e competência pelo estreante Jamie Bell, é o protagonista de "Billy Elliot", um dos maiores sucessos do cinema inglês do início do século XXI e o belo filme de estreia de Stephen Daldry, merecidamente indicado ao Oscar já em seu primeiro trabalho. Um perfeito exemplo de como um filme pode ser encantador e comovente sem gastar fábulas ou apelar para lágrimas fáceis, "Billy Elliot" seduz a audiência pela sensibilidade e pela honestidade.
Billy é o filho caçula de Jackie Elliot (Gary Lewis), um viúvo que trabalha arduamente para sustentar a sogra doente e os dois filhos. É o ano de 1984, e a família vive em uma pequena cidade do interior da Inglaterra, inflamada por uma polêmica greve dos trabalhadores das minas de carvão. Um dos líderes trabalhistasé justamente o irmão de Billy, Tony (Jamie Draven), que não aceita diálogo e luta por melhores condições de trabalho no governo de Margaret Tatcher. Billy, aos onze anos de idade cuja única diversão é frequentar suas aulas de boxe, as quais encara sem muito entusiasmo. Sua vida dá uma virada inesperada quando ele conhece a Sra. Wilkinson (Julie Walters), que dá aulas de balé no mesmo ginásio onde ele treina - e tem suas aulas pagas com muito suor por seu pai. Encantado com o mundo da dança, Billy desperta a atenção da veterana professora, que o incentiva então a ir embora para Londres, tentar a sorte como bailarino profissional. Para isso, porém, o menino terá que enfrentar o preconceito da cidade e as dificuldades financeiras da própria família, sofrendo com a crise econômica do país.
Conquistando o papel principal ao deixar para trás mais de dois mil candidatos, Jamie Bell provou ser a melhor escolha do diretor Stephen Daldry. Seu físico mirrado, seu olhar que alterna timidez com fúria e seu passado como dançarino (quando era frequentemente vítima de deboche dos colegas) fazem dele o ator ideal para viver Billy Elliot, um dos protagonistas mais encantadores de sua temporada. Mesmo que muitas vezes soe agressivo - em especial em sua relação quase materna com sua professora - o jovem Elliot jamais afasta o público de si, envolvendo-o com sua paixão nascente pela dança. É especialmente tocante a cena em que ele tenta convencer seu pai a respeito de seu talento simplesmente dançando, sem dizer uma única palavra, assim como é necessário aplaudir de pé o resto do elenco escolhido por Daldry.
A escolada Julie Walters arrebatou uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante por sua performance como a Sra. Wilkinson, uma mulher que vê no pré-adolescente arredio uma chance de compensar sua frustração profissional - ao contrário do clichê, no entanto, ela não é nem recalcada nem invejosa e sim uma espécie de mãe que é tão necessária na vida de seu aluno. Mas é Gary Lewis, na pele do pai do protagonista quem quase rouba todas as cenas em que aparece, em uma atuação nunca aquém de soberba. Discreto e econômico, Lewis merecia também ser lembrado pelo Oscar por jamais deixar de transmitir toda a extensão de sentimentos de sua personagem sem que, para isso, precise discursar ao público. A cena final, por exemplo, é um primor de sutileza e emoção: ele nem precisa falar para despertar a empatia, a solidariedade e a emoção de sua audiência. Se é nos pés de Billy que Daldry concentra o corpo de seu filme, é no olhar orgulhoso e marejado de Jackie Elliot que o filme encontra sua alma.
Um dos filmes mais humanos a surgir nas telas em 2000, "Billy Elliot" é, acima de tudo, uma ode à paixão pela arte, à família e à fé nos próprios desejos. É uma pequena obra-prima embalada por uma bela trilha sonora e um roteiro delicioso como uma obra de Tchaikovsky.
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terça-feira
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3 comentários:
Irado seu blog!! Todo dia acesso pra dar uma lida, as vezes batem os filmes que curto também e já aproveito para revê-los!
Você foi perfeito no primeiro parágrafo: "A primeira cena já conquista o público".
Grande filme para uma ótima trilha sonora.
Longa marcante.
Um filme incrível mesmo, jamais esqueço. Logo ali eu observei o quão intenso e talentoso era Daldry - antes mesmo dele conceber os perfeitos "As Horas" e "O Leitor". Desses três, eu ainda fico com "Billy Elliot"...
Belo texto de um filme que nos toca, sempre!
abraço
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