quarta-feira

PLATA QUEMADA

PLATA QUEMADA (Plata quemada, 2001, Argentina, 125min) Direção: Marcelo Piñeyro. Roteiro: Marcelo Figueras, Marcelo Piñeyro, livro de Ricardo Piglia. Fotografia: Alfredo Mayo. Montagem: Juan Carlos Macias. Música: Osvaldo Montes. Figurino: Magali Izaguirre. Direção de arte/cenários: Belén Bernuy, Margarita Gomez, Noemí Nemirovsky/Ugo Guzzo. Produção: Diana Frey, Óscar Kramer. Elenco: Leonardo Sbaraglia, Eduardo Noriega, Pablo Echarri, Leticia Bredice, Hector Alterio. Estreia: 11/5/00

Normalmente a crítica, independente de suas origens culturais, tende a comparar - para efeito de facilitar a vida do espectador - filmes com outros que contenham elementos similares, mesmo que isso muitas vezes soe forçado ou limitatório. Felizmente não é o caso de "Plata quemada", excelente drama policial argentino que, em sua estreia, foi taxado imediatamente de um "Bonnie & Clyde gay". Tudo bem, os protagonistas realmente formam um casal homossexual e o ato final lembra o violento desfecho do clássico estrelado por Warren Beatty e Faye Dunaway em 1967. Mas a obra de Marcelo Piñeyro, baseda em um livro de Ricardo Piglia vai muito além de tal definição, sendo um dos mais consistentes filmes argentinos de uma retomada em muitos pontos superior à do cinema brasileiro.

Baseado em uma história real ocorrida na Argentina em 1965, "Plata quemada" começa com o planejamento de um assalto a um carro forte em Buenos Aires. Dois dos contratados para o roubo são um casal que passa por problemas de relacionamento: Nene (o ótimo Leonardo Sbaraglia) e Angel (Eduardo Noriega), que tem se recusado a manter relações sexuais com o parceiro devido a vozes que ouve em sua cabeça. Junto a eles está o motorista do grupo, o falastrão Corvo (Pablo Echarri), que dedica sua vida a mulheres e diversão. Quando o plano dá errado e policiais são mortos em ação, o grupo se vê obrigado a fugir para o Uruguai e esconder-se em um apartamento, enquanto aguarda uma maneira de escapar para o Brasil. Entediado com a clausura e sofrendo com a instabilidade de seu romance, Nene acaba conhecendo e se envolvendo com Giselle (Letícia Brédice), um relacionamento fugaz que acaba precipitando uma tragedia entre os rapazes.



Apesar de suas tensas cenas de ação, "Plata quemada" passa longe de ser um filme policial no sentido mais convencional do termo, com perseguições e planos mirabolantes criados por mentes privilegiadas. Talvez por ser uma história real, suas personagens soam dolorosamente verossímeis, em suas inseguranças e complexos. Na verdade, o filme pode ser lido de duas maneiras: há quem o veja como um filme policial com um triângulo amoroso como subtrama - e visto assim, a obra de Piñeyro funciona às mil maravilhas. Mas há também quem afirme que na realidade é uma história de um amor bandido entre dois homens apaixonados e complicados com uma violenta trama policial como pano de fundo. Sob esse prisma, "Plata quemada" consegue ser ainda mais passional e forte, graças a seu elenco corajoso e viril, que foge dos estereótipos dos gays afetados que povoam o cinema.

Tecnicamente competente - a fotografia e a edição são primorosas, assim como sua trilha sonora - e com um roteiro inteligente e sensível que em nenhum momento apela para cenas de sexo desnecessárias (ainda que conte com algumas quentes sequências eróticas), "Plata quemada" só não agrada àqueles que não conseguem separar seus preconceitos sexuais de um grande filme vindo de um país cuja filmografia não fica nada a dever ao melhor de Hollywood.

3 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Lembro que gostei muito dele, na verdade, preciso rever, pois sei que hoje vou estar mais atento a questões do filme que me passaram despercebidas - lendo seu ótimo texto, atentei a isso. Abraço, apareça!

Mateus Denardin disse...

Também lembro de ter adorado o filme -- bem mais pelo drama de relacionamento do que pelo pano de fundo policial, diga-se. A fotografia é um arraso.

ADEMAR AMANCIO disse...

Muito boa a resenha,vou ver o filme.

JADE

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