A IDENTIDADE BOURNE (The Bourne identity, 2002, Universal Pictures, 119min) Direção: Doug Liman. Roteiro: Tony Gilroy, W. Blake Herron, romance de Robert Ludlum. Fotografia: Oliver Wood. Montagem: Saar Klein. Música: John Powell. Figurino: Pierre-Yves Gayraud. Direção de arte/cenários: Dan Weil/Alexandrine Mauvezin. Produção executiva: Robert Ludlum, Frank Marshall. Produção: Patrick Crowley, Richard N. Gladstein, Doug Liman. Elenco: Matt Damon, Franka Potente, Chris Cooper, Clive Owen, Brian Cox, Adewale Akinnouye-Agbaje, Julia Stiles. Estreia: 14/6/02
Em 1988, uma minissérie feita para a TV americana adaptou o romance "A identidade Bourne", do escritor Robert Ludlum. Estrelada por Richard Chamberlain - conhecido como o ator central da famosa "Pássaros feridos" - a adaptação seguiu fielmente o livro de Ludlum e fez relativo sucesso. Quatorze anos depois, Hollywood resolveu contar a sua versão da história, contando com Doug Liman - da comédia independente "Vamos nessa" - na direção. Depois de ter Brad Pitt e Matthew McConaughey (as primeiras escolhas para o papel central) fora da jogada, Liman não poderia ter tido mais sorte com a escolha de seu protagonista: em seu primeiro papel em filmes de ação, Matt Damon criou um novo modelo a ser seguido em termos de adrenalina.
Ao custo de 60 milhões de dólares, a versão livre de "A identidade Bourne" rendeu mais de 120 milhões somente nos EUA, calando a boca daqueles que não acreditavam que uma trama que mistura espionagem, amnésia e um ator mais conhecido por papéis dramáticos do que por tiroteios e altamente coreografadas cenas de luta não tinha como dar certo. Mas justamente a ousadia na escolha do ator central é que faz toda a diferença: ao contrário de outros filmes de ação em que o protagonista serve apenas e unicamente para quebrar ossos e salvar o mundo, Jason Bourne é uma personagem crível e até certo ponto trágica. E ter um ator competente como Damon o interpretando deixa tudo ainda mais interessante.
Quando o filme começa, um grupo de marinheiros recolhe do Mar Mediterrâneo o corpo inconsciente de um rapaz baleado. Sem memória alguma de sua identidade e de seus passos até o momento, o rapaz tem apenas uma pista a respeito de sua origem: uma tatuagem subcutãnea com o número de uma conta bancária em Zurique. Recuperado dos ferimentos, o jovem segue então em direção à tentativa de descobrir sua origem e, no caminho, topa com a alemã Marie (Franka Potente), que tenta regularizar sua situação no país. Enquanto foge de homens misteriosos que aparentemente querem vê-lo morto (por razões absolutamente desconhecidas por ele), o agora nomeado Jason Bourne (ao menos é o que dizem alguns dos documentos encontrados no cofre do banco suíço) e a assustada Marie partem atrás da solução de um quebra-cabeças que parece ter desdobramentos em altos escalões do governo americano e em um tal projeto Treadstone.
A maior qualidade do roteiro de Tony Gilroy - que poucos anos mais tarde disputaria o Oscar de direção por "Conduta de risco" - é o fato de apresentar aos poucos os fatos que levaram o protagonista à situação extrema em que se encontra nas primeiras cenas. É junto com Bourne que o público vai juntando todos os elementos, todas as ligações queo fizeram passar à condição de fugitivo de algo que ele nem mesmo sabe o que é. E, se ele desperta gradualmente para sua agitada vida pregressa, a edição impressionante de Saar Klein não deixa ninguém chegar perto do tédio: a impressionante perseguição nas estreitas ruas de Paris é uma das mais impactantes cenas do cinema de ação da década, de se assistir com a respiração suspensa e todas as cenas em que Bourne precisa utilizar da força física para manter-se em fuga são extremamente bem dirigidas e realistas. Precisa mais? Pois tem: até mesmo a relação entre Bourne e Marie, ainda que apresentada de maneira rápida demais, soa verdadeira.
"A identidade Bourne" é entretenimento de primeira, entregando ao público ação e inteligência na medida correta. Suas continuações, "A supremacia Bourne" e principalmente "O ultimato Bourne" são ainda melhores, mas é preciso que se tire o chapéu para um dos filmes mais empolgantes de 2002.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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Um comentário:
É um daqueles filmes que marcam por seguirem um caminho diferente. O gênero ação que estava preso aos efeitos especiais, com este filme mostrou que perseguições e cenas de luta filmadas com realismo ainda eram eficientes e poderiam fazer sucesso.
Uma grande trilogia.
Abraço
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