E alguém duvidava que o filme de terror de maior sucesso do início do século teria uma continuação? Realizado com pouco mais de um milhão de dólares, o filme criado pelos amigos Leigh Whanell e James Wan rendeu mais de 100 milhões pelo mundo afora, tornando-se uma das franquias mais poderosas de seu tempo. Como a ganância dos executivos tem pressa, porém, não demorou mais de um ano para que sua sequência chegasse às telas americanas. Com um orçamento um pouquinho maior (mas ainda assim irrisório diante dos gastos inacreditáveis cometidos na capital do cinema) e com um ator relativamente conhecido no elenco - Donnie Whalberg, ex-New Kids on the Block, irmão de Mark e o paciente assustado de Bruce Willis na primeira cena de "O sexto sentido" - "Jogos mortais 2" fez ainda mais sucesso e a boa notícia é que consegue ser tão aflitivo e competente quanto ele.
Confiantes de que seu público aceitaria ainda mais violência e tensão, os roteiristas originais diminuíram em sua continuação o clima claustrofóbico do primeiro filme para jogar com um roteiro mais complexo, que equilibra novamente a tensão física com o terror psicológico. O protagonista agora é o policial Eric Matthews (Donnie Wahlberg), que tem seu filho adolescente sequestrado pelo doentio John Kramer (Tobin Bell), que, extremamente doente, ainda insiste em oferecer "lições de vida" a pessoas a quem julga merecedores de tal honra. Suas lições - que envolvem valorizar a vida quando estão prestes a perdê-la - dessa vez não tem como alvo apenas o jovem Daniel (Erik Knudsen) e sim um grupo de pessoas aparentemente distintas e sem nada em comum que são aprisionadas em uma casa hermeticamente fechada. Para saírem do local com vida, elas precisam cumprir uma série de desafios violentos e dolorosos - enquanto o detetive de polícia tenta descobrir o endereço da casa e salvar a vida do filho.
Tenso do início ao fim, "Jogos mortais II" tem a seu favor a inteligência de seus criadores em não deixar que a sequência se tornasse apenas um mero caça-níqueis. Ainda que o objetivo final do estúdio tenha sido realmente encher os cofres graças à curiosidade mórbida da audiência em testemunhar assassinatos com requintes de crueldade - que são mostrados graficamente - o texto de Whanell e Wan consegue, mesmo sem muito esforço, ser bem mais interessante do que o da maioria de seus congêneres. A relação complicada entre o policial e seu filho, por exemplo, não é a mais criativa do mundo, mas funciona que é uma beleza, em especial quando a audiência descobre que o que reune todas as vítimas tem a ver com o pai do rapaz - o que aumenta consideravelmente o suspense.
Repleto de cenas que pegam o espectador em seus medos mais profundos - medos de agulha, de fogo - e com um roteiro que mantém o ritmo da ação em constante evolução, "Jogos mortais II" é um representante digno das exceções à regra que diz que sequências nunca são tão boas quanto os originais.
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