PECADOS ÍNTIMOS (Little children, 2006, New Line Cinema, 137min) Direção: Todd Field. Roteiro: Todd Field, Tom Perrotta, romance de Tom Perrotta. Fotografia: Antonio Calvache. Montagem: Leo Trombetta. Música: Thomas Newman. Figurino: Melissa Economy. Direção de arte/cenários: David Gropman/Susan Bode-Tyson. Produção executiva: Kent Alterman, Toby Emmerich, Patrick Palmer. Produção: Albert Berger, Todd Field, Ron Yerxa. Elenco: Kate Winslet, Patrick Wilson, Jennifer Connelly, Jackie Earle Haley, Noah Emmerich, Gregg Edelman, Trini Alvarado. Estreia: 01/9/06 (Festival de Telluride)
3 indicações ao Oscar: Atriz (Kate Winslet), Ator Coadjuvante (Jackie Earle Haley), Roteiro Adaptado
Em 1999, o livro "Eleição" virou um delicioso filme repleto de humor negro nas mãos de Alexander Payne e nas interpretações geniais de Matthew Broderick e Reese Witherspoon. Ao contar uma história sobre a obsessão de uma jovem estudante pelo sucesso e pelo desprezo de um professor por sua personalidade arrivista, seu autor, Tom Perrotta demonstrou um senso de ironia que contrastava com o ranço politicamente correto que já assolava os EUA. Em "Criancinhas", porém, ele trocava a ironia por uma visão quase amarga e melancólica sobre as famílias suburbanas e suas interrelações. Não demorou para que logo surgisse uma adaptação para o cinema - que recebeu o título brasileiro de "Pecados íntimos", o que lhe tira a sutileza e um maior alcance metafórico. Adaptada pelo próprio Perrota e pelo diretor Todd Field, sua trama, que joga na mesma vizinhança um romance extraconjugal e a possível ameaça de um pedófilo tentando recomeçar a vida, ganha ressonâncias dramáticas apenas rascunhadas nas páginas impressas.
Essa ressonância já começa pela acertada escalação da sempre excepcional Kate Winslet em um dos papéis centrais da história. Ela vive - com a competência de sempre, que lhe valeu uma indicação ao Oscar - Sarah Pierce, uma dona-de-casa que vive com o marido mais velho e a filha pequena em um subúrbio cercado de outras famílias parecidas. Sua vida pacata e tediosa dá um salto quando ela - sempre relagada a segundo plano pelas próprias vizinhas por não se encaixar no ideal de esposa de classe média - conhece o jovem, bonitão e charmoso Brad Adamson (Patrick Wilson, sugerido por Winslet e perfeito no papel), advogado que luta para passar no exame da ordem e, enquanto isso, cuida do filho também pequeno e é sustentado pela esposa, Kathy (Jennifer Connelly), uma documentarista séria e com quem mantém uma relação quase fria. Sentindo-se atraídos um pelo outro - e identificando-se com o vazio de suas vidas matrimoniais - eles se envolvem em um apaixonado romance, mesmo que não saibam direito o que fazer com ele. Concomitantemente, seu bairro inicia uma campanha contra Ronnie McGorvey (Jackie Earle Haley), homem que saiu da cadeia depois de uma condenação por pedofilia e que volta a morar na casa de sua mãe.
O título original do romance de Perrotta, "Criancinhas" é de uma fina ironia, perdida na sua "tradução" nacional: quando se lê o livro (e quando se vê o filme, mas de forma menos óbvia) percebe-se claramente que as criancinhas do título não são os filhos de Sarah e Brad nem tampouco as possíveis vítimas de Ronnie e sim os próprios pais. Sarah e Brad não tem maturidade para evoluir em seu caso extraconjugal, deixando sempre que o medo e o comodismo ditem suas atitudes - o marido de Sarah procura sexo na Internet e ela se sente incapaz de deixá-lo e Brad sonha em voltar ao skate, como forma de manter-se eternamente jovem e adolescente. Pairando sobre eles, a dor de Ronnie em seu desajuste e suas tentativas desesperadas de ser "normal" consegue comover, em especial quando entra em cena sua mãe - em sensacional atuação de Phyllis Somerville - e quando ele tem um encontro forçado com uma pretendente - participação pequena de Jane Adams (que atuou em "Felicidade", de Todd Solondz, que também desvendava os segredos dos subúrbios americanos).
Inteligente, sexy e um tanto melancólico, "Pecados íntimos" é um filme pequeno, recheado de pequenos acontecimentos, tornado enormes pela dimensão dentro da vida de suas personagens. É um filme como a vida, e como tal, surpreende, encanta e não deixa ninguém incólume.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quarta-feira
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Um comentário:
Maravilhoso!
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