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terça-feira
O GÂNGSTER
O GÂNGSTER (American gangster, 2007, Universal Pictures, 157min) Direção: Ridley Scott. Roteiro: Steven Zaillian, artigo "The return of Superfly", de Mark Jacobson. Fotografia: Harris Savides. Montagem: Pietro Scalia. Música: Marc Streitenfield. Figurino: Janty Yates. Direção de arte/cenários: Arthur Max/Leslie Rollins, Beth A. Rubino. Produção executiva: Michael Costigan, Branko Lustig, Nicholas Pileggi, Jim Whitaker, Steven Zaillian. Produção: Brian Grazer, Ridley Scott. Elenco: Denzel Washington, Russell Crowe, Chiwetel Ejiofor, Josh Brolin, Ruby Dee, Ted Levine, Carla Cugino, Cuba Gooding Jr., Armand Assante. Estreia: 19/10/07
2 indicações ao Oscar: Atriz Coadjuvante (Ruby Dee), Direção de Arte/Cenários
Ridley Scott é um injustiçado da Academia. Nem mesmo quando um filme seu ganha o Oscar principal - caso de "Gladiador", vencedor de 2001 - ele consegue ser reconhecido como o grande cineasta que é. Autor de filmes essenciais do cinema americano dos anos 70 - "Alien, o oitavo passageiro"- dos 80 - "Blade Runner, o caçador de andróides" - e dos 90 - "Thelma & Louise", o inglês nunca conseguiu passar de indicações à estatueta e, em alguns casos, nem chegou a ela. Um ótimo exemplo disso é o sensacional "O gângster", que passou incólume nas cerimônias de premiação que incensaram o bobinho "Juno". Baseado na história real de um dos maiores traficantes de droga dos EUA na década de 70, o filme de Scott é uma prova inconteste de seu talento como contador de histórias - e que até faz com que ele seja perdoado por atentados como "Hannibal" e "Cruzada".
Terceira parceria de Scott com o ator Russell Crowe - depois do já citado "Gladiador" e do chatinho "Um bom ano" - "O gângster" é, ao contrário do que seu título e sua trama podem sugerir, um drama policial bem construído e tratado com o máximo de cuidado que uma superprodução de 100 milhões de dólares pode oferecer. Sem abusar da violência física e preferindo deter-se na trajetória de seu protagonista e nas consequências de seus atos - junto à sua família e as forças policiais que lhe caçavam - o roteiro preciso de Steven Zaillian conta sua história sem a pressa habitual dos filmes do gênero. Demora um bom tempo de projeção até que Frank Lucas (Denzel Washington) finalmente fique cara a cara com Richie Roberts (Russell Crowe), seu nêmesis, mas nem por isso o ritmo chega a incomodar, por um motivo muito simples: tanto Zaillian quanto Scott sabem o que querem dizer, e conhecem a importância da história que estão contando e o fazem com maestria.
Frank Lucas, o protagonista vivido sem maiores novidades por Denzel Washington, não é exatamente uma personagem que possa ser considerada heroica, mas isso não impede ao filme que o retrate sem julgamentos morais. Protegido do respeitado Bumpy Johnson (Clarence Williams III), gângster que reinava no Harlem, Lucas descobre, após a morte de seu mentor, uma forma de traficar heroína para dentro dos EUA, vinda do Vietnã: dentro dos caixões dos soldados mortos. Enquanto faz fortuna, desafia o corrupto detetive Trupto (um grande Josh Brolin) e desperta a atenção de Richie Roberts (em atuação contida de Crowe), um policial visto com maus olhos pelos colegas por causa de sua fama de incorruptível. Dedicado, Roberts passa a caçar Lucas, com quem mantém uma relação de respeitável admiração.
Apesar de sua longa duração (a versão do diretor chega a quase três horas), "O gângster" não tem ambições de tornar-se um épico anabolizado. Ridley Scott movimenta sua câmera sem intrometer-se na história, sendo apenas uma espetacular testemunha do duelo entre duas personagens carismáticas e extremamente interessantes - mas que nem mesmo assim deixa de lado coadjuvantes fantásticos. Josh Brolin começa aqui sua escalada rumo ao respeito profissional - que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de coadjuvante por "Milk" no ano seguinte - e poderia tranquilamente ter sido lembrado pela Academia, que por uma razão inexplicável só lembrou-se de Ruby Dee como atriz coadjuvante por seu trabalho nada marcante como a mãe de Frank Lucas. E é imprescindível elogiar também a edição fantástica do experiente Pietro Scalia e a direção de arte impecável, que retrata com exatidão o ambiente onde se passa a história, elementos que completam mais uma obra-prima do cineasta.
"O gângster" é um filmaço de primeira que merece ser descoberto. É, sem dúvida, um dos melhores trabalhos de Ridley Scott. E vindo de um cara com o seu currículo isso não é pouca coisa.
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