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OS INFILTRADOS

OS INFILTRADOS (The departed, 2006, Warner Bros, 151min) Direção: Martin Scorsese. Roteiro: William Monahan, roteiro original de Alan Mak, Felix Chong. Fotografia: Michael Ballhaus. Montagem: Thelma Schoonmaker. Música: Howard Shore. Figurino: Sandy Powell. Direção de arte/cenários: Kristi Zea/Leslie Rollins. Produção executiva: G. Mac Brown, Doug Davison, Kristin Hahn, Roy Lee, Gianni Nunnari. Produção: Brad Grey, Graham King, Brad Pitt. Elenco: Leonardo DiCaprio, Matt Damon, Jack Nicholson, Martin Sheen, Mark Wahlberg, Vera Farmiga, Ray Winstone, Alec Baldwin, James Badge Dale. Estreia: 26/9/06

5 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Martin Scorsese), Ator Coadjuvante (Mark Wahlberg), Roteiro Adaptado, Montagem
Vencedor de 4 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Martin Scorsese), Roteiro Adaptado, Montagem
Vencedor do Golden Globe de Melhor Diretor (Martin Scorsese)

Tudo bem que Martin Scorsese sempre mereceu o Oscar, desde seus tempos de "Taxi driver" e "Touro indomável". Mas foi somente a partir de 1990, quando sua obra-prima "Os bons companheiros" perdeu a estatueta para o soporífero "Dança com lobos" que a injustiça começou a ficar constrangedora. A partir de 2003, então, com o lançamento do aguardado "Gangues de Nova York", qualquer projeto do cineasta era tido como "o filme que vai dar o Oscar a Scorsese". As expectativas foram frustradas tanto no ambicioso retrato do surgimento da capital do mundo - que dividiu a crítica - quanto em seu filme seguinte, "O aviador", biografia do empresário/cineasta/mulherengo Howard Hughes, que chegou à cerimônia cheio de moral mas saiu basicamente com prêmios técnicos (com exceção da merecida premiação de Cate Blanchett como coadjuvante), nocautedo por "Menina de ouro", de Clint Eastwood. Foi preciso que o velho e bom Marty voltasse ao que melhor sabe fazer - estilizar a violência - para que finalmente o feitiço fosse quebrado. "Os infiltrados", refilmagem de um original de Hong Kong que encontrou nele seu diretor ideal, ganhou 4 estatuetas douradas: filme, diretor, roteiro adaptado e montagem. Não é preciso dizer que mereceu todas.

Depois de flertar com os mais variados gêneros - o suspense "Cabo do medo", o romântico "A época da inocência" e até o budista "Kundun" - Scorsese percebeu que pertence mesmo ao universo dos gângsters, personagens que influenciaram sua carreira desde sempre. E por mais genial que ele seja em qualquer tipo de produção, fica patente em cada cena de "Os infiltrados" seu gosto pelo estilo, sua paixão por personagens à margem da sociedade, por complexidades psicológicas e éticas. Assim como suas mais famosas personagens - o Travis Bickle de "Taxi driver" e o autodestrutivo Jake La Motta de "Touro indomável", duas criações impecáveis de Robert De Niro - os protagonistas de seu filme estão exauridos emocionalmente, à beira de um ataque de nervos, fugindo da própria alma. E é nesse vão entre a verdade e a violência que se esconde a perfeição da obra do cineasta.


Leonardo DiCaprio - queridinho de Scorsese desde "Gangues" - é mais do mesmo em sua atuação como Billy Costigan, um jovem oriundo de uma família de criminosos que é infiltrado pela polícia de Boston na quadrilha do mafioso Frank Costello (Jack Nicholson) para que ele encontre provas que o levem à prisão. Ao mesmo tempo, o próprio Costello tem ideia semelhante, empurrando Colin Sullivan (Matt Damon), homem de sua confiança, para servir como policial e lhe passar informações que podem lhe ser úteis. Não demora muito para que tanto a força policial quanto a gangue de Costello descubram que traidores estão entre seus homens, e uma caçada sangrenta tem início.

Se a trama de "Os infiltrados" já é empolgante no papel, na tela ela é nunca menos que eletrizante, graças principalmente ao roteiro extraordinário de William Monaghan - que expande as ideias do filme original - e à edição caprichada de Thelma Schoonmaker, que não é a profissional mais fiel do cineasta à toa. Transformando a trajetória de Billy e Colin em um jogo de gato e rato claustrofóbico e tenso, Monaghan ainda consegue inserir elementos de humor (em especial quando entra em cena Mark Whalberg como um policial nada simpático à personagem de DiCaprio) e uma densidade psicológica muito interessante a seus protagonistas, principalmente quando ambos se envolvem com a mesma mulher, a psicóloga da polícia vivida com apatia por Vera Farmiga (talvez o único senão do filme). Utilizando a violência de maneira exemplar - sem medo da censura de plateias mais suscetíveis a ela - e sem nunca deixar de explorá-la das maneiras mais eficazes, Scorsese também demonstra uma segurança gigantesca na direção de atores. Até mesmo Jack Nicholson consegue estar mais contido - mesmo que escorregue vez ou outra em uma deliciosa interpretação de si mesmo - e o elenco coadjuvante nunca fica atrás (e sobrou inclusive para Mark Whalberg, indicado ao Oscar de coadjuvante).

Empolgante, inteligente e avassalador, "Os infiltrados" também converteu-se na maior bilheteria da carreira de Martin Scorsese, um dos mais geniais cineastas americanos em atividade. Nada mais justo e admirável.

3 comentários:

Marcelo Keiser disse...

É um filme de gangster contemporâneo. Ótimo e repleto de boas sacadas de um roteiro cheio de altos e baixos.

abraço

Hugo disse...

É um grande filme, mas me atrevo a dizer que o original "Conflitos Internos" é tão bom quanto.

Se ainda não assistiu, eu recomendo.

Abraço

Anônimo disse...

É uma pena que Scorsese só tenha ganho um Oscar com esse filme tão abaixo da média se comparado à suas obras geniais. Sem dúvida Gangues de Nova York deveria ter dado o Oscar de diretor para ele, um filme que depois de se assistir a gente pensa "que coragem desse diretor", mas perdeu, para o não menos brilhante, "O Pianista". Acho "Os Infiltrados" filminho de Sessão da Tarde, não merecia entrar para a história como o filme que deu o Oscar para Scorsese, nem ter ganho de melhor filme do ano. Mas enfim... O filme não é ruim, apenas não se iguala a outras maravilhas dirigidas por Scorsese.

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