sexta-feira

AMOR E OUTROS DESASTRES


AMOR E OUTROS DESASTRES (Love and other disasters, 2006, Europa Corp., 90min) Direção e roteiro: Alek Keshishian. Fotografia: Pierre Morel. Montagem: Nick Arthurs. Música: Alexandre Azaria. Figurino: Michele Clapton. Direção de arte/cenários: Alice Normington/Barbara Herman-Skelding. Produção executiva: Luc Besson, David Fincher. Produção: Alek Keshishian, Alison Owen, Virginie Silla-Besson. Elenco: Brittany Murphy, Matthew Rhys, Catherine Tate, Santiago Cabrera. Estreia: 09/9/07 (Festival de Toronto)

Nem só de filmes pesados e produções ambiciosas vive o cinema. Uma prova disso é perceber os nomes de David Fincher e Luc Besson entre os produtores executivos de "Amor e outros desastres", uma comédia romântica que em nada lembra seus trabalhos mais conhecidos como diretores. Estrelado por Brittany Murphy - uma atriz promissora que morreu precocemente aos 32 anos, em dezembro de 2009 - e Matthew Rhys - um dos filhos de Sally Field no seriado "Brothers & Sisters" - o filme de Alek Keshishian nem chegou a estrear nos cinemas brasileiros, sendo lançado direto no mercado de DVD. Mesmo assim, é delicioso em sua forma de lidar com bom-humor com temas como homossexualidade, solidão e desajuste profissional entre a geração de trinta e poucos anos.

Keshishian - que ficou famoso por ter dirigido o documentário "Na cama com Madonna" em 1991 - é também o autor do roteiro, que conta as aventuras românticas de dois melhores amigos que dividem o apartamento e uma espécie de azar crônico em seus relacionamentos sentimentais. Emily Jackson (Murphy, extremamente à vontade no papel) é uma jornalista americana que trabalha na Vogue inglesa e mora em Londres com o tímido e desiludido Peter Simon (Matthew Rhys, encantador), um aspirante a roteirista gay que tem enormes dificuldades de ver a vida sob um ponto de vista realista, preferindo fantasiar todo e qualquer relacionamento. Quando Peter se apaixona à primeira vista por um homem de quem sabe apenas o nome e parte desesperadamente em sua procura, Emily resolve que é hora de consertar a vida amorosa do amigo, juntando-o com um fotógrafo de sua revista. O que ela não consegue visualizar, porém, é que o rapaz está interessado é nela.


Brincando com referências culturais contemporâneas e gays - como "Um lugar chamado Notting Hill" e "Bonequinha de luxo" - "Amor e outros desastres" não se furta também a fazer contundentes críticas ao esquema de produção hollywoodiana, retratando produtores de cinema como seres interessados apenas no lucro, mesmo que isso destrua a integridade artística das obras (e conta com a participação especialíssima de Gwyneth Paltrow e Orlando Bloom em uma sequência esperta e divertida). É admirável a fluência dos diálogos criados por Keshishian, que soam reais e não apenas parte de um roteiro espertinho e metido a cool. As persongens centrais, mesmo que sejam perigosamente charmosas demais vivem seus dramas na medida certa entre melancolia e autoironia, jamais caindo no melodrama.

Pouco conhecido e pouco visto, "Amor e outros desastres" é o tipo de filme capaz de apaixonar o espectador sem maior esforço, graças a seu visual estiloso, suas personagens carismáticas e a seu humor inteligente e leve. Saudades de Brittany Murphy.

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