quinta-feira

DESEJO E REPARAÇÃO


DESEJO E REPARAÇÃO (Atonement, 2007, Universal Pictures, 123min) Direção: Joe Wright. Roteiro: Christopher Hampton, romance "Reparação", de Ian McEwan. Fotografia: Seamus McGarvey. Montagem: Paul Tothill. Música: Dario Marianelli. Figurino: Jacqueline Durran. Direção de arte/cenários: Sarah Greenwood/Katie Spencer. Produção executiva: Liza Chasin, Richard Eyre, Robert Fox, Debra Hayward, Ian McEwan. Produção: Tim Bevan, Eric Fellner, Paul Webster. Elenco: James McAvoy, Keira Knightley, Saoirse Ronan, Romola Garai, Brenda Blethyn, Juno Temple, Benedict Cumberbatch, Vanessa Redgrave. Estreia: 29/8/07 (Festival de Veneza)

8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Atriz Coadjuvante (Saoirse Ronan), Roteiro Adaptado, Fotografia, Trilha Sonora Original, Figurino, Direção de Arte/Cenários
Vencedor do Oscar de Trilha Sonora Original
Vencedor de 2 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Trilha Sonora Original

A distribuidora nacional bem que tentou forçar a semelhança com o filme mais famoso de Joe Wright, mas, com exceção de seu nome e da presença da atriz Keira Knightley em ambas as obras, muito poucas semelhanças existem entre "Orgulho e preconceito" e "Desejo e reparação", adaptação de Christopher Hampton da obra-prima do inglês Ian McEwan. Dono de uma prosa mais contundente e uma visão mais pessimista do mundo, McEwan criou uma poderosa história de amor e perda, que trata sem subterfúgios o poder destruidor da imaginação. Recriada com precisão pelo roteiro de Hampton e pela direção caprichada de Wright, a história do romance interrompido entre o humilde Robbie Turner e sua amada Cecilia Tallis ganha, em celulóide, uma visão perturbadora e poética, valorizada por um visual arrebatador e um elenco impressionante.

O nome mais conhecido no cartaz de "Desejo e reparação" é o da atriz Keira Knightley - que já havia trabalhado com o diretor na versão 2005 de "Orgulho e preconceito", mas é o quase desconhecido James McAvoy quem rouba a cena. Tendo sido notado pelo público e pela crítica como o médico de Idi Amin em "O último rei da Escócia" e como o fauno de "As crônicas de Nárnia", o jovem ator (indicado ao Golden Globe por sua atuação, mas injustamente esquecido pelo Oscar) brilha na pele de Robbie Turner, o filho de uma das empregadas da tradicional família Tallis que, em uma casa de campo na Inglaterra de 1935, vê sua vida transformada radicalmente devido a um incidente de consequências funestas. Apaixonado pela bela Cecilia (Knightley), filha dos patrões, ele sonha em cursar Medicina para ter condições de casar-se com ela. Dedicado e honesto, ele é também o objeto da paixão de Briony (Saoirse Ronan, indicada ao Oscar de atriz coadjuvante), que, aos 13 anos de idade, tem o objetivo de tornar-se escritora. É ela quem, com sua mente criativa, irá deflagrar a crise que irá levar o rapaz a uma espiral de acontecimentos trágicos que irá lhe afastar de um futuro promissor. Sentindo-se culpada, alguns anos mais tarde (e interpretada por Romola Garai), ela tentará reparar seu erro.


Mesmo que os fãs do livro voltem a apaixonar-se pela trama de McEwan, é inegável que quanto menos se souber a respeito dos desdobramentos da história, melhor. Apesar de ter um ritmo quase contemplativo em sua primeira metade - que a edição brilhante de Paul Thothill jamais permite tornar-se aborrecido - o filme de Wright leva o espectador, em sua segunda parte, a uma viagem fascinante a um universo de culpa, desejo reprimido e rancor, banhados em lágrimas e sangue. A história de amor entre Robbie e Cecilia - interrompida pelos horrores da Segunda Guerra - é ilustrada com cenas extraordinariamente orquestradas pelo cineasta, incluindo-se aí um longo plano-sequência de tirar o fôlego e um final devastador, valorizado por uma participação especialíssima de Vanessa Redgrave que mostra porque ela é uma das maiores atrizes em atividade. Vivendo Briony Tallis em sua maturidade, Redgrave dá uma aula de classe, elegância e sensibilidade que poderia tranquilamente também ter sido lembrada pela Academia.

Em mais uma prova de suas incoerências, a Academia indicou "Desejo e reparação" a oito estatuetas, incluindo melhor filme e roteiro adaptado, mas deixou de lado tanto McAvoy quanto o diretor Joe Wright. Premiando apenas sua sensacional trilha sonora, os membros eleitores deixaram de prestigiar com mais estatuetas um dos melhores filmes de sua temporada. Espetacularmente fotografado e dono de uma reconstituição de época brilhante (em especial seu figurino), o filme de Wright consegue ser tecnicamente perfeito e emocionalmente potente. É difícil manter-se incólume à sua força e à sua melancolia, traduzidas em imagens inesquecíveis que captam com maestria a essência e o clima do livro de Ian McEwan. Uma obra-prima imperdível!

Um comentário:

Anônimo disse...

É uma pena que o filme tenha tantas semelhanças com "Orgulho e Preconceito" antes de ser assistido, pq é mil vezes melhor. "Desejo e Reparação" merece ser visto, revisto, apreciado e aplaudido. É um dos melhores dramas que eu já vi.

JADE

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