O PREÇO DA CORAGEM (A mighty heart, 2007, Paramount Vantage Pictures, 108min) Direção: Michael Winterbottom. Roteiro: John Orloff, livro de Marianne Pearl. Fotografia: Marcel Zyskind. Montagem: Peter Christelis. Música: Harry Escott, Molly Nyman. Figurino: Charlotte Walter. Direção de arte/cenários: Mark Digby/Emma Field-Rayner. Produção: Andrew Eaton, Dede Gardner, Brad Pitt. Elenco: Angelina Jolie, Dan Futterman, Archie Panjabi, Denis O'Hare, Will Patton. Estreia: 21/5/07 (Festival de Cannes)
Em 23 de janeiro de 2002, na véspera de uma viagem para Dubai com a esposa Marianne, grávida , o jornalista Daniel Pearl, correspondente do Wall Street Journal no Paquistão misteriosamente desapareceu, depois de sair para entrevistar um fundamentalisma islâmico. Desesperada com seu sumiço e com a falta de notícias a seu respeito, Marianne iniciou então uma busca incansável, que chegou até a CNN. Assistindo a uma entrevista da também jornalista, o ator Brad Pitt imediatamente pensou em levar sua história às telas. Quatro anos e um livro depois, finalmente "O preço da coragem" chegou às telas. Dirigido por Michael Winterbottom - cineasta inglês politizado e engajado - e estrelado por Angelina Jolie, o filme dividiu a crítica desde sua estreia no Festival de Cannes, mas tem uma tema interessante o bastante para merecer uma olhada mais profunda.
É notório que "O preço da coragem" tem muito mais valor por sua proposta do que por seus méritos cinematográficos. Mesmo com a experiência de Winterbottom, o roteiro de John Orloff não consegue deixar de ter sérios problemas de ritmo, concentrando praticamente toda a sua ação entre as quatro paredes do apartamento de Marianne e Daniel. A intenção pode até ser de transmitir uma sensação de claustrofobia, mas o que resulta é apenas um certo tédio, agravado pelo fato de Orloff não fazer muita questão de explicar as coisas de forma didática - o que, nesse caso, seria bastante útil, uma vez que há uma profusão de nomes e possibilidades para explicar o desaparecimento do protagonista. Assim como Marianne e seus companheiros, o público fica muito perdido entre tanta informação, que, ao invés de ajudar, mais atrapalha. Ao contrário do que acontece, por exemplo, em "JFK", de Oliver Stone - referência quando se trata de cinema de teor político - a trama de "O preço da coragem" acaba se perdendo logo que o suspense de seu terço inicial se dilui em conversas e mais conversas.
Com um tom de semi-documentário, "O preço da coragem" também acaba por não explorar a contento a atuação de Angelina Jolie. Criticada por muitos por não ter o tipo físico de sua personagem na vida real - a saber, não ser "étnica" o bastante - a atriz cala a boca dos detratores com um trabalho correto e discreto, que não tenta ser maior do que o drama vivido. A própria Marianne Pearl deu sua bênção à interpretação de Angelina (assim como sua escolha para o papel), deixando claro que o objetivo do filme não era ser indicado ao Oscar ou fazer milhões de dólares nas bilheterias, e sim lembrar a trágica história de seu marido e sua luta pela verdade. Vivido por Dan Futterman - que foi indicado ao Oscar pelo roteiro do aclamado "Capote" - o jornalista acabou se tornando um mártir na luta pela liberdade de imprensa.
É impossível e injusto dizer que "O preço da coragem" é um filme ruim. Michael Winterbottom é um diretor extremamente capaz e sabe o quer dizer, Angelina Jolie é uma grande atriz quando tem possibilidades à mão e a trama é relevante e dramaticamente interessante. Mas um ritmo mais apropriado poderia ter lhe dado muito mais visibilidade.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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