quinta-feira

O NEVOEIRO

O NEVOEIRO (The mist, 2007, Dimension Films, 126min) Direção: Frank Darabont. Roteiro: Frank Darabont, romance de Stephen King. Fotografia: Ron Schmidt. Montagem: Hunter M. Via. Música: Mark Isham. Figurino: Giovanna Ottobre-Melton. Direção de arte/cenários: Gregory Melton/Raymond Pumilia. Produção executiva: Richard Saperstein, Bob Weinstein, Harvey Weinstein. Produção: Frank Darabont, Liz Glotzer. Elenco: Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Andre Braugher, Laurie Holden, Toby Jones, William Sadler, Frances Sternhagen. Estreia: 21/11/07

De certa forma o cineasta Frank Darabont deve sua carreira ao escritor Stephen King. Seus dois primeiros filmes - "Um sonho de liberdade" e "À espera de um milagre" - foram adaptações da obra do mestre do suspense, e conquistaram, ambos, indicações ao Oscar de melhor filme, ao explorar de maneira sensível histórias que deixavam o terror de lado, concentrando-se em personagens humanas convivendo com situações extremas. Não é de se estranhar, portanto, que Darabont - antes de criar a bem-sucedida série de TV "The walking dead" - voltasse ao universo de King depois do fracasso de seu "Cine Majestic", estrelado por Jim Carrey e praticamente ignorado por crítica e público. Porém, para fugir um pouco do previsível, o diretor arriscou na escolha: optou pela novela "O nevoeiro", publicada em 1980, e pela primeira vez trabalha com uma trama que envolve muito mais a tensão do que o drama.

Não quer dizer que Darabont abandone seu estilo de preocupar-se mais com as personagens do que com efeitos visuais ou terror em estado puro: em "O nevoeiro" ele explora muito mais as reações das personagens diante do horror do que exatamente cenas sanguinolentas, criadas para aterrorizar o espectador. E, comprovando mais uma vez seu grande talento, a receita funciona muito bem. Dirigida com firmeza e com um elenco de ótimos atores - em detrimento de astros milionários - a nova obra do cineasta é tensa, emocionante e, melhor de tudo, ousada, com um final capaz de provocar as reações mais diversas na plateia.

Logicamente a trama de "O nevoeiro" se passa em uma pequena cidade do Maine, como toda história criada por Stephen King. É lá que, depois de uma forte tempestade, o artista plástico Dave Drayton (Thomas Jane em ótimo desempenho) resolve ir ao supermercado para comprar mantimentos, acompanhado do filho pequeno e do vizinho, o advogado Brent Norton (Andre Braugher), com quem já tinha tido desentendimentos jurídicos. Logo que chegam, porém, eles percebem que uma névoa bastante densa está se aproximando do local e, para pavor de todos os habitantes que estão no local, dentro dela existe algo capaz de matar violentamente. Sem saber do que se trata e impedidos de abandonar o supermercado - sob pena de morrerem - o grupo de pessoas (que inclui funcionários, militares, gente de idade avançada, crianças e uma fanática religiosa disposta a arrebanhar fiéis para sua igreja, diante da situação) é obrigado a chegar a um acordo de convivência - que fica mais difícil à medida em que a paranoia, o medo e o desespero vão aumentando.

Como se poderia esperar de uma história de King, o maniqueísmo é moeda corrente. Fica claro, desde o início do filme, quem são os mocinhos e quem são os vilões. Ao mesmo tempo em que isso enfraquece o aprofundamento psicológico das personagens (que acabam sendo unidimensionais), serve perfeitamente para estabelecer os times - que só raramente mudam de jogadores. É assim que Dave Drayton assume as rédeas de cara, batendo de frente com a radical Sra. Carmody (em atuação sensacional de Marcia Gay Harden) e com seu vizinho, que não acredita, a princípio, no perigo à espreita. Como herói da história, Drayton precisa ainda lidar com as inseguranças do filho pequeno e até ensaia um flerte com Amanda Dunfrey (Laurie Holden), uma nova moradora da cidade - afinal de contas, o que seria de um filme sem um toque de romance, não?

Apesar de jamais tentar ser mais do que entretenimento - mesmo com cenas de grande tensão - "O nevoeiro" conquista justamente por sua simplicidade temática. Não há o menor desejo de explicar as origens misteriosas da névoa (que é vagamente mencionada e mesmo assim superficialmente) nem existe intenções de agradar ao público com um final açucarado. E é justamente seu desfecho - cruel, amargo, surpreendente - que desperta as maiores polêmicas. Mantendo-se fiel ao epílogo de seus sonhos, Darabont é capaz de enfurecer aos menos abertos a surpresas, mas certamente sua escolha é que faz com que seu filme fique na mente do público por muito mais tempo do que produtos menos ousados.

Um comentário:

Bússola do Terror disse...

Gosto dos filmes inspirados nas obras do Stephen King. Mas esse eu ainda não vi.

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