sexta-feira

O MENSAGEIRO TRAPALHÃO

O MENSAGEIRO TRAPALHÃO (The bellboy, 1960, Jerry Lewis Pictures/Paramount Pictures, 72min) Direção e roteiro: Jerry Lewis. Fotografia: Haskell B. Boggs. Montagem: Stanley Johnson. Música: Walter Scharf. Direção de arte/cenários: Henry Bumstead, Hal Pereira/Robert Benton, Sam Comer. Produção: Jerry Lewis. Elenco: Jerry Lewis, Alex Gerry, Bob Clayton, Sonnie Sands. Estreia: 20/7/60

Idolatrado pelos franceses, que veem nele um gênio do mesmo nível de um Chaplin ou um Buster Keaton, o norte-americano Jerry Lewis não tem o mesmo prestígio entre os críticos americanos, apesar de ter sido um dos mais bem-sucedidos comediantes de Hollywood nos anos 60. Depois de estrear no cinema como parte de uma dupla com o astro galã Dean Martin - com quem fazia enorme sucesso nos palcos de night-clubs - Lewis transferiu para as telas a fórmula simples de seus espetáculos, até que, mais ambicioso e com intenções maiores que simplesmente repetir um esquema que já considerava desgastado, resolveu ir além do esperado. Sem a presença de Martin - com quem rompeu por motivos ainda hoje não totalmente explicados - Lewis começou uma nova fase da carreira, onde, egocêntrico e de gênio difícil, não precisava dividir as atenções. Sua estreia como diretor, porém, aconteceu mais por necessidades comerciais do que por simples ego: filmado em apenas quatro semanas no Hotel Fontainebleau, de Miami (onde Lewis estava apresentando seu show), "O mensageiro trapalhão" foi feito pela Paramount como um tapa-buraco - mas que serviu para mostrar todo o potencial do ator/roteirista/produtor em uma nova e promissora função.

Na verdade, o projeto de "O mensageiro trapalhão" surgiu quando Lewis, apostando no potencial comercial de seu novo filme, "O Cinderelo sem sapato", convenceu a Paramount a adiar sua estreia para os feriados de final de ano. Obrigado por contrato a lançar uma obra no meio do ano, Lewis propôs, então, uma comédia bem mais simples e ligeira, com a ação transcorrendo em um único cenário e com um prazo de filmagens exíguo. Com a recusa de Billy Wilder em comandar a produção, Lewis acabou aceitando a sugestão do próprio cineasta e sentou-se pela primeira vez na cadeira de diretor. O resultado - um roteiro escrito em apenas oito dias inspirado nas comédias mudas na tradição de O Gordo e o Magro - é uma sucessão de gags que abusam do nonsense e do humor físico, costuradas por um fiapo de história e que, apesar de irregular, apontavam para um Lewis que  se consagraria algum tempo depois com o enorme êxito de "O professor aloprado" (63).


Apesar do roteiro original ter material suficiente para um filme de duas horas e meia, "O mensageiro trapalhão" chegou às telas americanas no verão de 1960 com uma edição de pouco mais de setenta minutos, um acerto que valoriza o tom anedótico da narrativa sem cansar o público. É Jerry Lewis mesmo que interpreta o personagem-título, o tímido e calado Stanley, um dos vários mensageiros de um luxuoso hotel de luxo de Miami, famoso por receber celebridades como o próprio Lewis (em um momento de humor puramente farsesco, quando dezenas de pessoas saem de uma limousine) e o ator Milton Berle (que também participa como um mensageiro que é sósia do ator). Em pouco mais de uma hora, Lewis explora à exaustão seu humor particular, que muito lembra o atual Mr. Bean do comediante inglês Rowan Atkinson: sem dizer uma única palavra até a cena final, Stanley destroi uma obra de arte moderna, provoca acidentes e situações inusitadas aos hóspedes e cruza, vez por outra, com uma cópia de Stan Laurel (o Magro da dupla com Oliver Hardy), em uma homenagem singela que funciona especialmente para os fãs do cinema clássico.

Conforme é dito logo no início da projeção por um produtor, "O mensageiro trapalhão" não tem uma história, uma narrativa tradicional com personagens bem definidos, uma trama forte ou início, meio e fim estabelecidos como no cinema comum. É uma série de gags em que algumas funcionam muito bem e outras não, quase como um treino para as produções seguintes do ator, bem mais ambiciosas e bem-sucedidas, tanto em termos financeiros quanto artísticos. Um dos grandes cômicos de seu tempo, Lewis começava aqui uma carreira brilhante que disfarçou uma vida pessoal repleta de problemas pessoais e familiares, assim como uma grave doença que o afastou das telas - a salvo participações em filmes alheios, normalmente em papéis sérios - e privou gerações inteiras de seu humor ingênuo e francamente engraçado. Um bom começo, mas aquém do que seu talento era capaz.

Nenhum comentário:

JADE

  JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...