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O BEBÊ DE ROSEMARY


O BEBÊ DE ROSEMARY (Rosemary's baby, 1968, Paramount Pictures, 136min) Direção: Roman Polanski. Roteiro: Roman Polanski, baseado no romance de Ira Levin. Fotografia: William Fraker. Montagem: Sam O'Steen, Bob Wyman. Música: Christopher Komeda. Produção: William Castle. Elenco: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon, Sidney Blackmer, Maurice Evans, Charles Grodin, Ralph Bellamy, Patsy Kelly. Estreia: 12/6/68

2 indicações ao Oscar: Atriz Coadjuvante (Ruth Gordon), Roteiro Adaptado
Vencedor do Oscar de Atriz Coadjuvante (Ruth Gordon)
Golden Globe de Atriz Coadjuvante (Ruth Gordon)


Em 1969, a atriz Sharon Tate, esposa do cineasta Roman Polanski, foi violentamente assassinada a mando de Charles Manson, um lunático que se auto-proclamava Jesus Cristo. Pode ter sido apenas uma trágica coincidência, mas não deixa de ser ainda mais apavorante e angustiante assistir a “O bebê de Rosemary” à luz desse bizarro acontecimento.

Um dos mais assustadores e marcantes filmes de suspense da história, essa adaptação do romance de Ira Levin é considerada até hoje como a obra-prima de Polanski e a encarnação cinematográfica mais cruel da maternidade, tendo como cenário o Edifício Dakota, em frente ao qual, anos depois, John Lennon seria assassinado por um fã - em mais uma bizarra coincidência, Manson alegava que os Beatles, através das letras de suas músicas, é que lhe mandava mensagens subliminares...

No filme de Polanski o Dakota tem outro nome, mas os acontecimentos sinistros que se passam em seus apartamentos não deixam nada a dever aos piores pesadelos da plateia. É para esse prédio que se muda o jovem casal Woodhouse. O marido, Guy (o cineasta independente John Cassavetes) é um ator em busca de seu lugar ao sol. A esposa é a doce e tímida Rosemary (Mia Farrow, frágil e delicada na melhor atuação de sua carreira), cujo maior sonho é aumentar a família. Esse sonho logo começa a tornar-se realidade depois de um sonho onde Rosemary sonha ser violentada por uma assustadora figura. Justo quando descobre que está grávida, ela comemora também o fato de seu marido ter sido escolhido para substituir um outro ator, que ficou inexplicavelmente cego.

Emagrecendo ao invés de engordar, comendo carne crua e sentindo dores excruciantes, logo a jovem gestante começa a desconfiar que há algo de errado em sua gravidez. Afastada dos amigos e do seu médico de confiança pelo marido e pelos misteriosos e solícitos vizinhos Roman e Minnie Castevet (Sidney Blackmer e a vencedora do Oscar Ruth Gordon), ela tem acesso a um livro sobre bruxaria e passa a ter a certeza absoluta de que o filho que espera é do demônio.


Poucas vezes o cinema de suspense foi tão inclemente quanto em “O bebê de Rosemary”. Sem poupar o que é considerada a melhor fase da vida de uma mulher, o roteiro claustrofóbico do diretor (bastante fiel às páginas do livro de Levin) joga com a angústia da protagonista, que praticamente definha em frente às câmeras nervosas do fotógrafo William Fraker. Mia Farrow, que ganhou o papel em uma época difícil de sua vida (estava se divorciando de Frank Sinatra), brilha como nunca, jamais se deixando seduzir pelas armadilhas do roteiro. Sua fragilidade física contribui muito para a evolução do suspense, por isso fica difícil imaginar Jane Fonda ou Julie Christie - ambas testadas para o papel, ambas boas atrizes, mas ambas com aparências mais robustas - sentindo-se encurraladas no terror proporcionado pela situação. O elenco secundário também ajuda a criar o clima denso e pesado do filme. Não foi à toa que Ruth Gordon levou o Oscar de coadjuvante: sua atuação como a misteriosa e bisbilhoteira vizinha é com certeza uma das mais marcantes de sua carreira, com uma personagem dúbia como o final, que, fugindo admiravelmente dos clichês que assolam o gênero, deixa no ar uma dúvida cruel e apavorante: não teria sido tudo um sonho paranóico de Rosemary?

O próprio Roman Polanski, em uma reveladora entrevista que consta no lançamento do filme em dvd, afirma que construiu todo o filme em cima dessa dubiedade que na maior parte das vezes nem é percebida pelo público. Ficou convencionado de que "O bebê de Rosemary" é um filme que fala sobre uma mulher grávida do diabo, mas pouquíssimas vezes houve o questionamento básico proposto pelo diretor: e se a influenciável Rosemary apenas se deixou levar por sua mente facilmente impressionável durante um período conhecidamente vulnerável na vida de uma mulher? Talvez essa pergunta seja ainda mais interessante do que o apavorante filme de Polanski, que comprova admiravelmente o poder da sugestão ao invés do grafismo explícito que assolaria o gênero terror alguns anos depois.

Não são sustos fáceis nem sangue aos borbotões que fazem de “O bebê de Rosemary” uma obra-prima. É sua inteligência, aliada à parte técnica impecável e a um elenco inspirado que fazem com que assisti-lo seja uma experiência tão angustiante hoje quanto foi em seu lançamento. Assista com as luzes apagadas e tente dormir depois!

3 comentários:

Alan Raspante disse...

Esse, chega a dar uma certa vergonha de falar que ainda não vi, mas tenho que falar a realidade: Não vi ainda esse (mais um)!
Sempre ouvi muito falar, mas nunca procurei saber mais sobre ele. Não sabia que a hiatória era tão boa assim, rs
Espero que segunda eu ache ele!
Como sempre, uma ótima crítica!

railer disse...

legal a dica deste blog. vou voltar pra ler com mais calma. abraços!

Fernanda Borges disse...

Olá, eu vi esse filme há muitos anos, ele é muito bom! Mas lembro de outro, contando a história de Rosemary com seu filho já maiorzinho... era mais sinistro ainda, mas fazem mais de 20 anos, eu não lembro o nome do filme, nem os atores, só sei que passou na TV, o garoto só comia carne crua... Se alguém se lembrar, me avise, por favor!

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