quinta-feira

TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE


TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE (All the president's men, 1976, Warner Bros, 138min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: William Goldman, baseado no livro de Bob Woodward e Carl Bernstein. Fotografia: Gordon Willis. Montagem: Robert L. Wolfe. Música: David Shire. Direção de arte/cenários: George Jenkins/George Gaines. Casting: Alan Shayne. Produção: Walter Coblenz. Elenco: Dustin Hoffman, Robert Redford, Jack Warden, Martin Balsam, Jason Robards, Hal Holbrook, Ned Beatty, Jane Alexander, Stephen Collins, Meredith Baxter. Estreia: 09/4/76

8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Alan J. Pakula), Ator Coadjuvante (Jason Robards), Atriz Coadjuvante (Jane Alexander), Roteiro Adaptado, Montagem, Direção de arte, Som
Vencedor de 4 Oscar: Ator Coadjuvante (Jason Robards), Roteiro Adaptado, Direção de Arte, Som


Enquanto no Brasil normalmente escândalos no governo acabam em pizza - e em reeleições alguns poucos anos depois - nos EUA as coisas não são assim tão fáceis para quem está no poder, vide a crise instaurada por um simples caso extra-conjugal de Bill Clinton quando ele estava na Casa Branca. Tida como o quarto poder, a imprensa é responsável por balançar as estruturas do poder, e o maior exemplo disso provavelmente é o caso Watergate, que, revelado por dois jornalistas do Washington Post, resultou na renúncia do presidente Richard Nixon em 9 de agosto de 1974. Contada com detalhes no extenso livro "Todos os homens do presidente", escrito pelos repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, uma das investigações mais famosas da história do jornalismo moderno foi parar nas telas de cinema já em 1976, quando o caso ainda estava fresquinho na memória do público. Resultado? Um sucesso enorme de bilheteria e crítica, além de 8 indicações ao Oscar (sendo que 4 converteram-se em estatuetas). Nada mal para um filme que, apesar da presença fulgurante do então astro do momento Robert Redford, foge do padrão filme-pipoca que começava a mandar nas salas de exibição desde que o tubarão de Steven Spielberg surgiu, no verão de 1975.

Dirigido por Alan J. Pakula - que ficou com a direção depois que o inglês John Schlesinger declinou do convite por acreditar que tratava-se de uma história que deveria ser contada por um americano - o filme, roteirizado por William Goldman (que ganhou o Oscar por isso) começa em 17 de junho de 1972, quando um arrombamento na Sede do Partido Democrata americano, localizado no edifício Watergate chama a atenção do jornalista Bob Woodward (Robert Redford), que, recém-contratado pelo Washington Post, tenta mostrar serviço, mesmo que não entenda nada de política. Contando com a ajuda do colega Carl Bernstein (Dustin Hoffman), mais experiente na área e nos meandros do serviço, ele passa a correr atrás de pistas deixadas por atitudes estranhas dos criminosos, que parecem estar ligados à Casa Branca. Quando um misterioso informante, apelidado de Garganta Profunda (Hal Holbrook) confirma suas suspeitas, os dois rapazes tem que não apenas provar sua teoria - que culpa pessoas do mais alto escalão do governo americano - mas convencer seus superiores no jornal (Jack Warden, Martin Balsam e o premiado com o Oscar de coadjuvante Jason Robards) a publicar o que poderá ser a reportagem mais incendiária da história política do país.


O mais fascinante em "Todos os homens do presidente" é a forma com que o roteiro de Goldman e a direção de Pakula se desenrola frente aos olhos privilegiados da plateia. O público acompanha cada passo dos protagonistas do filme, suas altas expectativas, suas frustrações e seus insights de maneira a torcer por eles como se fossem heróis de um filme de ação, ainda que não façam muito mais do que ficar ao telefone ou interrogando dezenas de pessoas possivelmente ligadas à investigação. Não é à toa que ainda hoje o filme seja recomendado em todas as faculdades de Jornalismo, uma vez que detalha admiravelmente a jornada de dois profissionais idealistas em busca da verdade, mesmo que ela possa lhes ser prejudicial. Para isso colabora também a escolha de seus dois atores centrais: Robert Redford assumiu o papel de Woodward para garantir o financiamento do filme - além do fato de ter sido ele o responsável pela compra dos direitos do livro - e Dustin Hoffman entregou ao filme a credibilidade artística necessária à atenção da crítica.

Ainda que seja um filme bastante complexo para não-americanos - a enormidade de nomes, cargos e responsabilidades citadas no roteiro chega a confundir em certas passagens - "Todos os homens do presidente" tem momentos de puro cinema político, no melhor estilo do cineasta grego Costa-Gavras. A música de David Shire aparece nas horas certas, sem atrapalhar o andamento da narrativa, apenas sublinhando a tensão de algumas cenas e a edição confere um tom semi-documental ao resultado final - e ainda que o filme seja um tanto longo demais, é inegável que o roteiro conseguiu enxugar todas as informações necessárias ao máximo possível para que a trama seja compreendida pela audiência sem que prejuízo de suas ambições comerciais.

"Todos os homens do presidente" é um filme bastante interessante e importante, principalmente para quem gosta de histórias reais contadas com cuidado e atenção. Nâo é adrenalina pura, mas ainda se mantém como um dos mais influentes do seu gênero.

3 comentários:

Hugo disse...

Não sou jornalista, mas acredito que seja o filmes mais realista sobre o tema.

A história por si só é interessante e o roteiro prende a atenção.

Se você gostou do tema, assista o também ótimo "Frost/Nixon" que vai fundo na personalidade complicada de Richard Nixon.

Abraço

Renato disse...

Esse filme conseguiu capturar bem a atmosfera desse escândalo na política americana!
Parabéns pelo blog

Renato

Unknown disse...

Clenio, você sabe onde eu posso comprar este livro?

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