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quarta-feira
AMOR MAIOR QUE A VIDA
AMOR MAIOR QUE A VIDA (Waking the dead, 2000, Polygram Filmed Entertainment, 105min) Direção: Keith Gordon. Roteiro: Robert Dillon, romance de Scott Spencer. Fotografia: Tom Richmond. Montagem: Jeff Wishengrad. Música: Scott Shields, Tomadandy. Figurino: Renée April. Direção de arte/cenários: Zoe Sakellaropoulo/Simon La Haye, Joelle Turenne. Produção executiva: Jodie Foster. Produção: Keith Gordon, Stuart Kleinman, Linda Reisman. Elenco: Billy Crudup, Jennifer Connelly, Hal Holbrook, Ed Harris, Janet McTeer, Molly Parker, John Carroll Lynch, Paul Hipp, Sandra Oh. Estreia: 24/3/00
Histórias de amor no cinema seguem quase sempre a mesma métrica. Rapaz e moça se conhecem, se apaixonam, vivem um romance idílico, são forçados a enfrentar problemas de vários tipos e têm uma variante final: ou se acertam de vez e ficam felizes para sempre ou sofrem uma perda irreparável (leia-se uma morte dramática e piegas). Felizmente de vez em quando aparece alguém com algo mais a acrescentar do que simplesmente uma história vazia de amor irreal e plástico. E é isso que o ator e diretor Keith Gordon faz com “Amor maior que a vida”, um romance interessante e consistente que mostra que o amor tem razões que a própria razão desconhece.
“Amor maior que a vida” foge como o diabo da cruz dos clichês do gênero, mas agrada a quem procura um bom romance, assim como acrescenta inteligência na receita e faz a platéia pensar até mesmo depois dos créditos finais graças a um roteiro forte e que emociona sem apelar para lágrimas fáceis. A trama começa em 1972, quando o jovem Fielding Pierce (Billy Crudup), que trabalha na Guarda Costeira de Nova York e sonha ser Presidente da República conhece e se apaixona pela bela e idealista Sarah Williams (Jennifer Connelly), secretária de seu irmão editor. O romance dos dois engrena, e apesar de seu amor evidente, suas personalidades diferentes começam a afastá-los. Enquanto Fielding começa sua ascensão política no Partido Republicano, Sarah envolve-se com a Igreja e com refugiados de países sob ditadura. Em uma de suas viagens, a jovem morre tragicamente, deixando seu namorado inconsolável. Dez anos depois, às vésperas de sua eleição para senador, Fielding passa a ter visões da jovem e começa a desconfiar que sua amada está viva e forjou a própria morte para não atrapalhar sua carreira política. Por ironia, seu desequilíbrio começa a pôr em risco seu futuro.
Nada é banal e corriqueiro no filme de Gordon. A edição, repleta de vai e voltas no tempo, mais que demonstrar um estilo vazio, ajuda na forma de contar a história, forte por si mesma ao levantar questões importantes e não julgar seus personagens, bem construídos e interpretados por um casal em dias de graça. Jennifer Connelly brilha com sua beleza etérea – em um papel disputado por nomes tão díspares quanto Drew Barrymore, Cameron Diaz, Brittany Murphy, Winona Ryder e até mesmo Britney Spears - mas é o jovem Billy Crudup que entrega uma atuação corajosa e enérgica, com uma personagem complexa e apaixonante. A cena em que Fielding perde a cabeça em um restaurante diante da família comprova que Crudup foi uma escolha acertada, ao invés das figurinhas marcadas que foram consideradas para o papel – pasmem, Tom Hanks, Tom Cruise e Kevin Spacey estiveram cotados... Felizmente o talento falou mais alto do que a ganância (talvez influência da produtora executiva Jodie Foster) e “Amor maior que a vida” é um filme fascinante justamente por suas opções certeiras.
Baseado em um livro de Scott Spencer - cujo título original traduzido literalmente seria algo como "Despertando os mortos", o que provavelmente sugeriria um filme de horror aos desavisados frequentadores de multiplexes - "Amor maior que a vida" faz bem em deixar o espectador tão aturdido e tão em dúvida quanto seu protagonista a respeito da morte (ou não) de Sarah. Nem mesmo quando o filme acaba pode-se dizer com certeza absoluta o que realmente aconteceu e o que não passa da imaginação de um homem loucamente apaixonado. A belíssima trilha sonora - que pega emprestado a linda "Mercy Street" - dá o clima perfeito à introspecção fantasmagórica da trama, que ainda encontra espaço para discussões sociais de suma importância sem nunca soar panfletária ou didática. Os diálogos entre Fielding e Sarah tem o equilíbrio certo entre o romântico e o idealista, entre a ilusão e a realidade, entre o que se sonha e o que realmente se consegue atingir. Nas mãos de atores fracos tudo seria risível. Com Billy Crudup e Jennifer Connelly tudo fica nunca aquém de fascinante.
Dono de diálogos revelantes, atuações viscerais e uma química rara entre seus dois belos protagonistas, "Amor maior que a vida" é um dos dramas românticos mais interessantes do final do século XX. Pode não ter feito bonito nas bilheterias - nem mesmo pagou seu orçamento ínfimo de 8 milhões e meio de dólares - mas é uma experiência enriquecedora. Quem dera mais fracassos assim fossem lançados, para o deleite da plateia mais sensível...
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Um comentário:
Um bom filme, realmente, muito incompreendido por todos. Só conheço cinéfilos e amigos que detonam negativamente este trabalho. Eu gosto do filme, ainda que não seja excepcioooonal. Boa atuação de Connelly, uma atriz que, atualmente, parece escolher mal os filmes, uma pena. Saudade dos seus ótimos filmes! Crudup é um ator que sempre admirei. Queria este dvd, mas nunca vi mais à venda. Aposto que você tem, rs!
Abração!
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