5 indicações ao Oscar: Ator (Joaquin Phoenix), Atriz (Reese Witherspoon), Montagem, Figurino, Edição de Som
Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Reese Witherspoon)
Vencedor de 3 Golden Globes: Melhor Filme Comédia/Musical, Ator Comédia/Musical (Joaquin Phoenix), Atriz Comédia/Musical (Reese Witherspoon)
Depois de flertar com o drama psicológico ("Garota, interrompida"), com a comédia romântica ("Kate & Leopold"), com o policial ("Copland") e com o suspense ("Identidade") o cineasta James Mangold riscou outro gênero de sua lista com a cinebiografia musical "Johnny & June", que conta a trajetória do cantor Johnny Cash e seu relacionamento com o grande amor de sua vida, a também cantora June Carter. Mas, apesar do título nacional - que dá a ideia de um filme centrado na história do romance - o filme de Mangold se dedica principalmente à controversa carreira do músico, começando em sua traumática infância e atravessando todo o conturbado período de sua vida que culminou na sua luta contra as drogas.
Seguindo a cartilha das cinebiografias musicais que também deu ao cinema o bem-sucedido "Ray" um ano antes, "Johnny & June" começa mostrando o pequeno Johnny ao lado da família - liderada por um severo pai vivido por Robert Patrick exercitando seu lado cruel e quase sádico. Esse prelúdio já dá a base de toda a vida futura do cantor, que jamais deixará pra trás essa busca constante de aprovação paterna. E também serve para mostrar que Mangold não está para brincadeira e quer emocionar o público com uma história que, apesar das tristezas, tem um final feliz (ainda que deixe um gostinho amargo na boca). Depois do início barra-pesada, a história dá um pulo e mostra Cash em sua vida de casado com Vivian (Ginnifer Goodwin) e tentando a sorte na carreira de músico. Depois de convencer o dono do estúdio a gravar suas canções - nas quais foi treinado na infância, quando entoava música religiosa ao lado do irmão - ele assina um contrato para uma turnê com um grupo de jovens talentos que inclui Jerry Lee Lewis (Waylon Malloy Payne), Elvis Presley (Tyler Hilton) e aquela que será o amor de sua vida, June Carter (Reese Witherspoon) - que, em seus tempos de cantora mirim o encantava em seus dias difíceis.
A partir do encontro entre Cash e Carter - que acontece somente aos trinta minutos de projeção - o filme muda de rumo, concentrando-se na relação complexa e repleta de idas e vindas entre o casal. Ambos casados e com filhos pequenos, os cantores viveram uma história de amor proibida (vale lembrar que a história se passa predominantemente na puritana década de 60) e tornada ainda mais difícil graças ao vício em drogas de Cash. O roteiro não se deixa intimidar pelo assunto e, se não se aprofunda no tema (também por não ser o enfoque da trama) ao menos não o ignora nem tampouco faz de seu protagonista um herói simpático: não há benevolência no roteiro baseado em duas autobiografias do músico, que é retratado com todos os seus inúmeros defeitos. Para sorte do público, porém, todas as suas ambivalências encontram em Joaquin Phoenix o intérprete ideal.
Esquisito fisicamente e dono de uma personalidade muito própria que lhe distingue da grande maioria dos astros hollywoodianos, Joaquin - irmão do promissor River, morto em 1993 - conquistou reconhecimento mundial como o vilão do épico "Gladiador", pelo qual concorreu ao Oscar de coadjuvante e por seu trabalho em "Johnny & June" voltou a ser finalista do prêmio da Academia (dessa vez na categoria principal). Sem apelar para playbacks e encarando de frente o desafio de interpretar um ídolo ainda bastante presente na memória do público, ele se entrega notavelmente ao papel, tanto nas cenas musicais quanto nas sequências extremamente dramáticas propostas pelo roteiro. O mais surpreendente, porém, é que ele encontra, em Reese Witherspoon - até então relegada a comédias bobas mas milionárias - uma parceira de cena à altura.
Demonstrando um talento dramático pouco explorado até a data, Witherspoon não se intimida diante da força da atuação de Phoenix, construindo uma June Carter complexa e adulta, que não se restringe a ser a coadjuvante a que muitas vezes o roteiro a transforma. Tanto em seus momentos como pessoa pública - uma cantora infantil transformada em ídolo maduro e que vive em seu íntimo dramas pessoais que a fama não revela - quanto em suas cenas mais duras, a menina revelada em "No mundo da lua" mostra que não era fogo de palha e que tem muito mais talento do que aparentava. Se merecia o Oscar no mesmo ano em que Felicity Huffman brilhou em "Transamérica" é outra conversa, mas é inegável que sua química com Joaquin Phoenix é explosiva e impecável.
Dando continuidade às cinebiografias de qualidade produzidas por Hollywood no início do século XXI, "Johnny & June" é superior à média, capaz de despertar o interesse até mesmo de quem não é exatamente fã de seus protagonistas.
Um comentário:
Apesar de cansativo, o filme é muito bem feito e Joaquim está sensacional !
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