quarta-feira

AMAR FOI MINHA RUÍNA


AMAR FOI MINHA RUÍNA (Leave her to heaven, 1945, 20th Century Fox, 110min) Direção: John M. Stahl. Roteiro: Jo Swerling, romance de Ben Ames Williams. Fotografia: Leon Shamroy. Montagem: James B. Clark. Música: Alfred Newman. Figurino: Kay Nelson. Direção de arte/cenários: Maurice Ransford, Lyle Wheeler/Thomas Little. Produção executiva: Darryl F. Zanuck. Produção: William A. Bacher. Elenco: Gene Tierney, Cornel Wilde, Jeanne Crain,Vincent Price, Mary Philips, Darryl Hickman. Estreia: 19/12/45

4 indicações ao Oscar: Atriz (Gene Tierney), Fotografia (Cores), Direção de Arte/Cenários, Som
Vencedor do Oscar de Fotografia em Cores

Calculista e egocêntrica, Ellen Berent é provavelmente uma das maiores psicopatas da história do cinema americano, a despeito de sua linda embalagem. Interpretada pela deslumbrante Gene Tierney - depois de ter sido recusada por Rita Hayworth - a personagem criada pelo escritor Ben Ames Williams chegou às telas de Hollywood sob a direção de John M. Stahl e fotografada em um extravagante Technicolor vencedor do Oscar. Contada em forma de sofisticado melodrama, a história de amor e obsessão entre a jovem Ellen e o escritor Richard Harland (Cornel Wilde) fez grande sucesso de bilheteria - e chegou a inspirar o novelista Gilberto Braga em uma das mais famosas cenas da novela "Vale tudo", de 1988, quando a protagonista Maria de Fátima (Glória Pires) tenta provocar um aborto se jogando às escadarias do Teatro Municipal carioca.

Como era quase praxe nos filmes do gênero nos anos 40, "Amar foi minha ruína" é contado em forma de flashback, quando Richard sai de um período na cadeia, para onde foi condenado por assassinato. Sua história, conforme o público fica sabendo em seguida, começa quando o escritor conhece a bela Ellen em uma viagem de trem. Aos poucos o relacionamento entre eles vai se transformando de amizade em um noivado - a despeito do fato de ela já ser comprometida com outro homem (Vincent Price). Logo que se casa com Ellen, Richard começa a perceber que sua esposa esconde, por trás da aparência dedicada, uma personalidade obsessiva e ciumenta ao extremo, a ponto de querer isolá-lo de toda e qualquer pessoa que possa lhe ser um obstáculo - e isso inclui até seu cunhado, um adolescente com problemas físicos e sua própria irmã. Suas maneiras cada vez mais violentas acabam por levá-los a uma tragédia que envolve toda a família.


Apesar da impressionante fotografia de Leon Shamroy e do rosto perfeito de Tierney, o que mais chama a atenção em "Amar foi minha ruína" é a forma como o roteiro joga com o gênero melodrama, acrescentando a ele toques de psicologia - Ellen é, na verdade, uma mulher ressentida com a falta que sente do pai, a quem vê em seu marido - e suspense. A trilha sonora de Alfred Newman também é um elemento crucial ao panorama criado por Stahl, pontuando cada cena com precisão, nunca tornando-se maior do que o roteiro ou os atores - embora o protagonista Cornel Wilde esteja bem aquém de sua colega de cena, que, exceto por seu trabalho em outro clássico noir, "Laura", de 1944, nunca esteve tão adequada a um papel.

Dona de uma biografia trágica, Gene Tierney morreu em 1991, aos 70 anos, vítima de enfisema pulmonar - uma ironia, já que ela começou a fumar apenas para avolumar a voz, depois de assistir a si mesma na tela. Antes disso, porém, ela já havia passado por poucas e boas: sua filha mais velha nasceu com problemas mentais devido à rubéola que a atriz contraiu durante a gravidez; teve um caso com JFK antes que ele se dedicasse à busca pela presidência dos EUA e foi submetida a um longo tratamento de eletrochoque devido a problemas psicológicos que apontavam para potenciais tentativas de suicídio. Mesmo assim, sua beleza etérea e seu talento - foi indicada ao Oscar por seu trabalho em "Amar foi minha ruína" - são eternos graças ao cinema.

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