terça-feira

CHINATOWN

CHINATOWN (Chinatown, 1974, Paramount Pictures, 130min) Direção: Roman Polanski. Roteiro: Robert Towne. Fotografia: John A. Alonzo. Montagem: Sam O'Steen. Música: Jerry Goldsmith. Figurino: Anthea Sylbert. Direção de arte/cenários: Richard Sylbert/Ruby Levitt. Produção: Robert Evans. Elenco: Jack Nicholson, Faye Dunaway, John Huston, Diane Ladd. Estreia: 20/6/74

11 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Roman Polanski), Ator (Jack Nicholson), Atriz (Faye Dunaway), Roteiro Original, Fotografia, Montagem, Trilha Sonora Original, Figurino, Direção de Arte/Cenários, Som
Vencedor do Oscar de Roteiro Original
Vencedor de 4 Golden Globes: Melhor Filme/Drama, Diretor (Roman Polanski), Ator/Drama (Jack Nicholson), Roteiro

Um detetive incorruptível com seu próprio código de honra. Uma femme fatale glamourosa. Uma trama intrincada com ramificações muito além das aparências. Reviravoltas inesperadas e chocantes. Todos os elementos que fizeram a glória do cinema noir americano dos anos 40 estão presentes em "Chinatown", o charmoso e incensado último filme do cineasta Roman Polanski antes de sua fuga dos EUA, após ter mantido relações sexuais com uma menor de idade. Emulando os clássicos policiais da época em que se passa a história - 1937 - e tendo como influência os romances de Dashiel Hammet e Raymond Chandler, o roteirista Robert Towne construiu um dos mais elogiados scripts da história, vencedor do Oscar e exemplo em qualquer curso de roteiro - ainda que seu final, amargo e marcante, tenha sido escrito pelo diretor.

Para o público acostumado à rapidez dos filmes policiais pós- anos 80 - quando a violência e a ação incessante substituíram o cérebro e a sutileza - talvez seja complicado entrar no jogo de "Chinatown". É preciso quase uma hora de projeção para que a trama de Towne realmente comece a empolgar - até então o que mais chama a atenção é a preciosa reconstituição de época e a excelência da atuação de Jack Nicholson, amigo do roteirista e para quem o protagonista foi especialmente criado. A trama, que seguindo os padrões do cinema noir é quase uma desculpa para um exercício de estilo e tensão, só começa a delinear-se quando as peças do quebra-cabeça finalmente parecem fazer sentido - e é aí que o público percebe, juntamente com o detetive vivido por Nicholson, que estava seguindo um caminho totalmente equivocado e o que parecia importante passa a segundo plano.


Tudo começa quando o detetive particular J.J. Gittes (Nicholson) é procurado por uma mulher, Evelyn Mulwray (Diane Ladd), que desconfia estar sendo traída por seu marido, Hollis Mulwray (Darrell Zerling) diretor-chefe do Departamento de Água de Los Angeles. Ele aceita o caso, mas logo em seguida descobre que foi enganado e que a verdadeira Evelyn (Faye Dunaway) está em vias de processá-lo. Quando Hollis é encontrado morto, Gittes se vê envolvido em uma trama que mistura corrupção, adultério e incesto - e se descobre apaixonado por Evelyn, que parece esconder muito mais do que revela.

A atmosfera de "Chinatown" e a forma inteligente de conduzir o roteiro preciso de Towne - em que cada detalhe tem suma importância para o desfecho - é responsabilidade de Roman Polanski, que, muito provavelmente devido à sua trágica história de vida, não é exatamente um entusiasta do ser humano. Sua direção é seca, sem espaço para floreios românticos e até mesmo as cenas de amor entre Gittes e Evelyn são cercadas de uma aura trágica. A química entre Nicholson e Dunaway (que ficou com o papel depois que Ali McGraw separou-se do produtor Robert Evans e Jane Fonda o recusou) é precisa, em boa parte graças ao talento da dupla. O uso econômico da trilha sonora e até mesmo a opção por uma paleta de cores neutras também dão ao filme a elegância que contrasta com a imundície que se esconde por trás das descobertas de Gittes.

"Chinatown" talvez seja superestimado em excesso. Mas é, inegavelmente, um filme de personalidade, inteligência e charme, qualidades essas cada vez mais raras no cinemão americano.

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