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OS GIRASSÓIS DA RÚSSIA

OS GIRASSÓIS DA RÚSSIA (Il girasoli, 1970, AVCO Embassy Pictures, 107min) Direção: Vittorio De Sica. Roteiro: Antonio Guerra, Cesare Zavattini. Fotografia: Giuseppe Rottuno. Montagem: Adriana Novelli. Música: Henry Mancini. Figurino: Enrico Sabbatini. Direção de arte/cenários: Piero Poletto/Giantito Burchiellaro. Produção executiva: Joseph E. Levine. Produção: Arthur Cohn, Carlo Ponti. Elenco: Sophia Loren, Marcello Mastroianni, Lyudmila Saveleva. Estreia: 14/3/70

Indicado ao Oscar de Melhor Trilha Sonora Original

Os brutos também amam. O título do clássico western de George Stevens serve como perfeito exemplo para ilustrar "Os girassóis da Rússia", dirigido por Vittorio De Sica em 1970. Um dos maiores expoentes do neorrealismo italiano com o incensado "Ladrões de bicicleta", lançado em 1948, no auge do movimento, De Sica demonstra, em sua terceira colaboração com a dupla Sophia Loren/Marcello Mastroianni, que a crueza poética de seu filme mais ilustre poderia ceder lugar à delicadeza de uma história de amor, por mais devastadora que ela seja. Produzido por Carlo Ponti, marido de Loren, o filme foi um dos maiores sucessos da carreira do diretor justamente por apelar para um gênero popular e fugir das polêmicas nas quais a filmografia de seu país natal estava envolvida, ao tratar de temas pesados como terrorismo e política. Uma história de amor à moda antiga, "Os girassóis da Rússia" consegue emocionar ao mesmo tempo em que revela também os horrores da guerra - afinal de contas, ninguém é revelado no neorrealismo à toa.

Assim como a protagonista vivida por Audrey Tautou em "Eterno amor", realizado mais de três décadas depois por Jean-Pierre Jeunet, a Giovanna interpretada por Sophia Loren é uma mulher obcecada e decidida que, munida da certeza mais que absoluta de que seu grande amor não morreu na guerra e está impedido de voltar ao lar, parte em sua busca, sendo exposta às trágicas consequências do conflito. Casada há poucos dias com o hesitante Antonio (Marcello Mastroianni) quando ele partiu para lutar na Rússia, ela passa anos esperando seu retorno ao lar, acompanhada apenas da sogra. Cansada de esperar por notícias, ela toma uma atitude temerária e viaja para o exterior, sabendo, em seu coração, que irá reencontrá-lo, mas não tendo nenhuma certeza das circunstâncias em que isso acontecerá.


O roteiro, co-escrito pelo colaborador habitual de Sica, Cesare Zavattini, usa e abusa dos elementos clássicos do melodrama popular, intercalando com a busca de Giovanna flashbacks do início de seu relacionamento com Antonio e dotando-a da força inerente às heroínas trágicas, capazes de sacrifícios em prol do homem amado. Enquanto procura pelo marido, ela ouve relatos dolorosos da campanha italiana no exterior, filmados com extrema competência pelas lentes do experiente Giuseppe Rottuno, que mescla a frieza da neve com a dourada luz do sol que ilumina os girassóis - metáfora para a falta de controle do ser humano diante do destino. A trilha sonora melodiosa de Henry Mancini - indicada ao Oscar - completa o cenário, emoldurando liricamente uma história sobre renúncia, dor e amores desesperados.

Dirigido com sofisticação e delicadeza, "Os girassóis da Rússia" não tenciona ser um comentário social e político sobre a guerra, mas sim uma singela e comovente história de amor. E para isso, conta com um par central acima de qualquer crítica. Sophia Loren, já premiada com um Oscar e sem precisar provar nada pra ninguém, tem uma atuação primorosa, convencendo nas três fases de sua Giovanna: como a jovem calorosa, a esposa desesperada e a serena mulher convencida de seu destino, ela demonstra que, além de ser um dos mais duradouros símbolos sexuais da Itália, é também uma atriz de primeira. A Marcello Mastroianni resta pontuar com extrema correção o show de Loren.

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