UMA CRUZ À BEIRA DO ABISMO (The nun's story, 1959, Warner Bros, 149min) Direção: Fred Zinnemann. Roteiro: Robert Anderson, livro de Kathryn C. Hulme. Fotografia: Franz Planer. Montagem: Walter Thompson. Música: Franz Waxman. Figurino: Marjorie Best. Direção de arte/cenários: Alexander Trauner/Maurice Barnathan. Produção: Henry Blanke. Elenco: Audrey Hepburn, Peter Finch, Dame Edith Evans, Peggy Ashcroft, Dean Jagger, Mildred Dunnock. Estreia: 18/6/59
8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Fred Zinnemann), Atriz (Audrey Hepburn), Roteiro Adaptado, Fotografia em Cores, Montagem, Trilha Sonora Original, Som
Uma princesa em fuga, uma sofisticada filha de chofer particular, uma bibliotecária transformada em modelo... e uma freira. Para quem tinha dúvidas da capacidade de Audrey Hepburn em transmutar-se em personagens diferentes de si mesma, o filme "Uma cruz à beira do abismo" tratou de apagá-las. A anos-luz de distância de suas criações anteriores - que a tornaram uma das atrizes mais queridas e prestigiadas de sua época - a religiosa belga que vai ao Congo para servir de enfermeira aos doentes tropicais lhe deu uma indicação ao Oscar e acabou tornando-se o filme preferido da eterna bonequinha de luxo. Maior sucesso de bilheteria da Warner em 1959, a adaptação do livro de Kathryn C. Hulme, baseada em uma história real, chegou às telas sob o comando do diretor Fred Zinnemann, que constrói seu filme impecavelmente, equilibrando com perfeição os dois atos da trama e proporcionando ao espectador um espetáculo que vale por dois.
A primeira parte de "Uma cruz à beira do abismo" - um título nacional um tanto estranho para o bem mais coeso "The nun's story" - trata da adaptação da jovem Gabrielle van der Mal à sua nova realidade como noviça, em contraste com sua vida anterior como filha de um proeminente cirurgião. Sentindo-se um tanto aprisionada com as rígidas regras do convento, ela mantém-se firme em seu propósito de viajar ao Congo e colaborar no tratamento das doenças tropicais que são objeto de seu estudo. Depois de algumas decepções com a hierarquia e a estrutura religiosa do convento e um período trabalhando em uma instituição para tratamento de doentes mentais, ela finalmente alcança seu objetivo e, com o nome de Irmã Luke, torna-se a enfermeira assistente do ateu dr. Fortunati (Peter Finch), a quem admira profundamente. Sua vida no Congo - onde presencia um estilo de vida que a faz questionar sua fé constantemente - lhe dá forças para transformar-se em uma presença querida, tanto pelos colegas quanto pelos nativos. No entanto, quando a II Guerra explode, ela retorna à Bélgica e fica diante do dilema de manter-se neutra diante da invasão alemã - principalmente quando a morte bate à sua porta.
Ficando com o papel que Ingrid Bergman recusou por considerar-se velha demais, Audrey Hepburn faz uso de sua imagem serena e delicada para transmitir, sem que seja preciso muitas palavras, todos os conflitos de sua irmã Luke. Ela é a sólida base do filme de Zinnemann, que, através dela, comenta o panorama sócio-político do Congo belga na ocasião da Segunda Guerra sem soar panfletário ou paternalista. Sua direção, coesa e direta, é uma das maiores qualidades do filme, fotografado com maestria por Franz Planer, que explora as belas paisagens naturais do país sem torná-las apenas uma propaganda turística. O encontro das culturas entre a católica Irmã Luke e os nativos do Congo, com suas crenças particulares, é uma subtrama fascinante, tratada com respeito e seriedade, mas nunca com excessiva formalidade. E é impossível deixar de notar o excelente elenco coadjuvante, no qual se incluem as damas Peggy Ashcroft e Edith Evans.
"Uma cruz à beira do abismo" é um filme atípico na carreira de Audrey Hepburn. Deixando de lado o charme fashion e elegante de seus trabalhos mais conhecidos - e isso que "Bonequinha de luxo" ainda não havia sido lançado - a obra de Zinnemann é cinema da mais alta qualidade, dotado de ritmo, relevância social e noção de entretenimento. Imperdível!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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