CLEOPATRA (Cleopatra, 1963, 20th Century Fox, 192min) Direção: Joseph L. Mankiewicz. Roteiro: Joseph L. Mankiewicz, Ranald MacDougall, Sidney Buchman, livro "The life and times of Cleopatra", de C.M. Franzero, estórias de Plutarco, Suetônio e Appian. Fotografia: Leon Shamroy. Montagem: Dorothy Spencer. Música: Alex North. Figurino: Vittorio Nino Novarese, Renié. Direção de arte/cenários: John De Cuir/Paul S. Fox, Ray Moyer, Walter M. Scott. Produção: Walter Wanger. Elenco: Elizabeth Taylor, Richard Burton, Rex Harrison, Hume Cronyn, Cesare Danova, Martin Landau, Roddy McDowall. Estreia: 12/6/63
9 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator (Rex Harrison), Fotografia em Cores, Montagem, Trilha Sonora Original, Figurino, Direção de Arte/Cenários, Som, Efeitos Visuais
Vencedor de 4 Oscar: Fotografia em Cores, Figurino, Direção de Arte/Cenários, Efeitos Visuais
Para se falar sobre "Cleopatra", o filme estrelado por Elizabeth Taylor é imprescindível que se afogue em números: 129.800 dólares somente para o figurino de Taylor, que troca de roupa 65 vezes durante a projeção; 44 milhões de dólares de orçamento (em números atuais cerca de 300); salário de 1 milhão de dólares para sua estrela (que, atualizados, chegam a 30 milhões); dez pessoas premiadas com o Oscar de direção de arte; 79 cenários construídos; 26.000 figurinos criados; quase três anos de filmagens; seis horas em sua primeira montagem. A superprodução que quase levou a 20th Century-Fox à falência é hoje mais lembrada por suas fofocas de bastidores do que exatamente pelo filme que é. Culpa dos excessos de todos os tipos que circundaram suas filmagens, desde o estouro do orçamento até as crises pessoais de seus intérpretes (Taylor entrou em coma depois de uma cirurgia durante as filmagens, além de ter se envolvido com seu co-astro Richard Burton). No entanto, apesar de todos os problemas, "Cleopatra" foi um dos maiores sucessos de bilheteria dos anos 60 e, se jogou seu estúdio na mais grave crise de sua história - da qual só saiu em 1965 com o êxito de "A noviça rebelde" - é porque seu orçamento extrapolou as mais ambiciosas previsões.
Tudo começou no final dos anos 50, quando a Fox, já em problemas financeiros, resolveu refilmar algum de seus êxitos mais antigos como forma de economia. O filme escolhido - "Cleopatra" - era o remake de um clássico de 1917 estrelado por Theda Bara. A ideia inicial era fazer do filme um veículo para a atriz Joan Collins, com um custo de 2 milhões de dólares, mas a saída de Collins do projeto, devido a adiamentos frequentes da produção, mudou tudo. Quando Elizabeth Taylor finalmente entrou no barco, a coisa começou a sair do controle: com um cachê de 1 milhão de dólares, a atriz tornou-se imediatamente a mais bem paga estrela de Hollywood. Para piorar - ou melhorar, dependendo do ponto de vista - ela voltou a encontrar-se com Richard Burton, com quem não havia simpatizado em uma primeira ocasião. Dessa vez, Burton, que viveria Marco Antonio, a segunda paixão da rainha do Egito, foi visto com mais simpatia por Taylor, com quem iniciou um tórrido romance que alterou até mesmo a ideia central do diretor Joseph L. Mankiewicz quanto ao lançamento do filme.
Mankiewicz - o mesmo cineasta que levou uma cusparada da indignada Katharine Hepburn ao final das filmagens de "De repente, no último verão" - chegou às filmagens de "Cleopatra" depois que o primeiro diretor, Rouben Mamoulian, abandonou o projeto. Quando assumiu as rédeas do filme, Mankiewicz tinha nas mãos um produto 5 milhões acima do orçamento inicial e nenhuma cena pronta. Teve, então, a ideia de fazer dois filmes com três horas de duração cada: "Cesar e Cleopatra" e "Antonio e Cleopatra". A princípio aceita, a ideia logo foi descartada por Darryl F. Zanuck, presidente do estúdio, que, querendo capitalizar em cima do notório romance entre Taylor e Burton, previu que a primeira metade - que tratava da relação entre Cleopatra e Julio Cesar (Rex Harrison) - seria um fracasso de público, uma vez que as atenções já estavam voltadas para o relacionamento entre dois de seus atores principais - que iniciariam ali um romance polêmico e cheio de idas e vindas. Rumores dizem, porém, que duas horas inéditas de filme ainda existem em algum lugar - e os fãs mal podem esperar para assistí-las.
Mas, afinal de contas, "Cleopatra" é um bom filme? Logicamente é uma produção caprichada, bem cuidada e visualmente impressionante, especialmente se for levado em consideração o fato de que é um produto pré-CGI. Porém, em sua ambição de ser esteticamente inesquecível, acaba deixando de lado o roteiro e concentrando-se no visual. Seu roteiro é repleto de cenas dispensáveis, que prejudicam fatalmente o ritmo. Sempre que Taylor - deslumbrante - e Burton estão em cena o filme cresce, mas enquanto isso não acontece, a audiência sofre com longuíssimos discursos sobre política e geografia que, ao invés de ajudar a compreender a história, apenas confundem. Fosse menos megalomaníaco e mais pessoal certamente teria maior sucesso em conquistar a simpatia do espectador, que, apesar disso, pode encantar-se com a opulência do resultado final. Como está, é um filmão - no sentido literal - mas um tanto oco e aborrecido. Vale por Liz Taylor no auge da beleza e sensualidade.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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