DE VOLTA PARA O FUTURO - PARTE II (Back to the future - Part II,
1989, Universal Pictures, 108min) Direção: Robert Zemeckis. Roteiro: Bob
Gale, estória e personagens de Robert Zemeckis, Bob Gale. Fotografia:
Dean Cundey. Montagem: Harry Keramidas, Arthus Schmidt. Música: Alan
Silvestri. Figurino: Joanna Johnston. Direção de arte/cenários: Rick
Carter/Linda De Scenna. Produção executiva: Kathleen Kennedy, Frank
Marshall, Steven Spielberg. Produção: Neil Canton, Bob Gale. Elenco:
Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Lea Thompson, Elisabeth Shue, Thomas
F. Wilson, James Tolkan, Billy Zane. Estreia: 22/11/89
Indicado ao Oscar de Efeitos Visuais
Depois do acachapante - e de certa forma inesperado - sucesso de "De volta para o futuro" (85), era até previsível que sua equipe (o diretor Robert Zemeckis, o roteirista Bob Gale e o produtor Steven Spielberg) caísse na tentação de realizar uma continuação. A novidade, contudo, surgiu quando a Universal Pictures anunciou que, para economizar custos e dar conta da enorme quantidade de ideias que surgiam na mente de seus criadores, seriam realizados, de uma só vez, duas sequências para a divertida história do adolescente Marty McFly e suas viagens pelo tempo. Os dois filmes seriam lançados com um espaço de tempo de apenas seis meses entre eles e formariam, no final, uma trilogia que contava, segundo os próprios Zemeckis e Gale, uma única história em três partes. Ocupado com as demoradas filmagens de seu premiado "Uma cilada para Roger Rabbit" (88), o cineasta deu tempo de sobra para que Bob Gale desenvolvesse os dois capítulos finais da série - separados também por tons e ambientações diferentes - e os produtores lidassem com os problemas relativos a contratos e negociações. E em uma série de filmes com roteiros tão complexos, jamais poderia imaginar que a maior dificuldade de levar "De volta para o futuro - parte II" para os cinemas fosse cair justamente no elenco coadjuvante.
Mesmo com todos os atores tendo assinado contratos para eventuais continuações do primeiro filme, a produção de "De volta para o futuro - parte II" emperrou de cara quando Crispin Glover, que no primeiro filme interpretou George McFly, o pai do protagonista, decidiu que não iria participar das sequências por não concordar com o salário oferecido - segundo ele, apenas metade do que receberiam outros membros do elenco de apoio, como Lea Thompson (sua mulher, Lorraine) e Thomas F. Wilson (seu rival, Biff Tannen). Rodadas de negociações foram gastas até que o estúdio resolvesse que Glover não estava sendo minimamente razoável e desistisse de contar com sua participação, substituindo-o por um dublê em todas as cenas em que fosse imprescindível sua presença. Outro problema no elenco dizia respeito à Claudia Wells, que vivia Jennifer, a namorada de Marty no original - e que era, de acordo com as cenas finais, parte importante do enredo do segundo filme, relacionado aos filhos do protagonista. Com a mãe diagnosticada com câncer, Wells abandonou a carreira de atriz e deixou os produtores com um abacaxi a descascar. Felizmente, nesse caso as coisas foram mais fáceis: Elisabeth Shue - que seis anos depois concorreria ao Oscar de melhor atriz por seu desempenho em "Despedida em Las Vegas" - assumiu o papel e deixou aliviados todos aqueles que esperavam ansiosamente para voltar a um dos mais queridos filmes dos anos 80.
A trama de "De volta para o futuro - parte II" começa exatamente onde acabou o original: o Dr. Emmett Brown (Christopher LLoyd, ainda mais à vontade no papel) procura o adolescente Marty McFly (Michael J. Fox) procurando ajuda para resolver um problema com seus filhos no ano de 2015. Arrastando uma atônita Jennifer junto com eles, a dupla chega ao futuro para tentar impedir que o filho de McFly, Junior (novamente Fox), seja preso e condenado devido à má influência de Griff Tannen (Thomas F. Wilson), filho de Biff, inimigo declarado da juventude de seu pai. A questão demora um pouco a ser resolvida - e faz com que Marty tenha contato ainda com sua filha, Marlene (Fox em terceiro papel), com Jennifer mais velha e com ele mesmo em uma rotina pouco entusiasmante. A situação sofre um baque, porém, quando, em 2015, Biff descobre o segredo do DeLorean máquina do tempo e, em um lance de mestre, viaja para o passado para entregar a ele mesmo jovem um almanaque com todos os resultados esportivos do século. Quando retorna a 1985, então, Marty e Brown precisa lidar com uma devastadora realidade alternativa, onde Biff é um milionário ao estilo Donald Trump e casado com sua mãe. Para evitar essa tragédia, ele convence Brown a voltar mais uma vez a 1955 e impedir o encontro dos dois Biffs - enquanto tenta impedir também um encontro consigo mesmo, o que pode causar irreparáveis danos à linha temporal.
Apostando na inteligência da plateia e entregando uma trama repleta de detalhes que vão se completando no decorrer da narrativa, "De volta para o futuro - parte II" consegue ser tão divertido e empolgante quanto o primeiro filme, por mais que tenha perdido o sabor de novidade. Ao recriar sequências do original - como a corrida de skate (dessa vez voador) - Zemeckis conduz a plateia à sua própria viagem no tempo, em especial quando recria detalhadamente o baile "Encanto submarino" e faz com que o protagonista fique sempre a um passo de esbarrar em uma outra versão de si mesmo, em um delicioso suspense no qual o espectador embarca sorridente e seduzido. Brincando também com situações banais transformadas em piadas - "Tubarão 19", anuncia a marquise do cinema, com um realista monstro em 3D assustando os transeuntes e Biff Tannen uma cópia idêntica de Donald Trump quase trinta anos antes que o milionário fosse eleito presidente - e com um roteiro que não dá trégua em seu vai-e-volta, o diretor faz uso exemplar dos efeitos visuais indicados ao Oscar (a cena da reunião familiar é sensacional) e não perde jamais o fio da meada, demonstrando total domínio de seus personagens e sua história.
Apontado por alguns como confuso demais para um filme de verão, "De volta para o futuro - parte II" é, na verdade, a prova irrefutável de que não é necessário subestimar a inteligência da plateia para conquistá-la. Exigindo mais do público do que a vasta maioria das produções a chegar às telas no meio do ano nos EUA - sempre a temporada mais lucrativa - o filme de Zemeckis consegue alcançar o equilíbrio perfeito entre ação, comédia e ficção científica, sem que para isso tenha que sacrificar a coerência interna da história ou a complexidade de seus personagens. É uma continuação exemplar, que honra seu primeiro capítulo e abre a porta para seu final com o máximo de respeito e ousadia possíveis. Não é à toa que Robert Zemeckis é um dos mais bem-sucedidos diretores de sua geração.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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