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O FIEL CAMAREIRO

O FIEL CAMAREIRO (The dresser, 1983, Columbia Pictures, 116min) Direção: Peter Yates. Roteiro: Ronald Harwood, peça teatral de sua autoria. Fotografia: Kelvin Pike. Montagem: Ray Lovejoy. Música: James Horner. Figurino: Rosemary Burrows. Direção de arte/cenários: Stephen Grimes/Josie MacAvin. Produção: Peter Yates. Elenco: Albert Finney, Tom Courtenay, Edward Fox, Zena Walker, Eileen Atkins, Michael Gough. Estreia: 06/12/83

5 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Peter Yates), Ator (Tom Courtenay), Ator (Albert Finney), Roteiro Adaptado
Vencedor do Golden Globe de Melhor Ator/Drama (Tom Courtenay) 

 Poucas vezes o cinema tratou com tanto respeito e realismo os bastidores de uma companhia teatral como "O fiel camareiro". Baseado em uma premiada peça teatral escrita por Ronald Harwood - que inspirou-se em sua experiência como assistente do veterano ator inglês Donald Wolfit - e dirigido por Peter Yates, o filme de mesmo nome agradou em cheio a Academia de Hollywood, que, sempre atraída por histórias que giram em torno do mundo artístico, lhe indicou em cinco categorias de grande importância, como melhor filme, direção e roteiro adaptado. Além disso, conquistou um feito raro, colocando seus dois intérpretes masculinos na corrida pelo Oscar de melhor ator. Em desempenhos nunca aquém de fascinantes, Albert Finney e Tom Courtenay acabaram perdendo a estatueta para Robert Duvall ("A força do carinho"), mas é difícil dizer quem está melhor em cena. Em um duelo de interpretações dos mais empolgantes, os dois grandes atores dão um espetáculo à parte em um filme que é o sonho de consumo para qualquer fã de artes cênicas.

Lançada nos palcos ingleses em março de 1980, a peça de Ronald Harwood - que ganharia o Oscar de roteiro adaptado por "O pianista" (2002) - já começou sua carreira acumulando elogios e prêmios. Quando chegou à Broadway, dois anos mais tarde, sempre com Tom Courtenay na pele do dedicado Norman, já era considerada dona de um dos texto mais inteligentes da temporada. Não demorou para que uma versão para o cinema fosse considerada, assim como o nome de Courtenay para o papel que havia consagrado nos palcos. Com roteiro do próprio dramaturgo, "O fiel camareiro" manteve também o alto nível do texto original, repleto de citações à obra de Shakespeare e detalhes saborosos sobre os bastidores do mundo teatral, com um equilíbrio perfeito entre a veneração à arte e a ironia fina de que somente os ingleses são capazes quando falam de si mesmos. Longe de ser uma obra sustentada por uma trama forte e recheada de reviravoltas, o filme de Peter Yates é um filme movido a sentimentos como admiração e dedicação - e amor incondicional ao teatro.


Passada durante a II Guerra Mundial, a trama de "O fiel camareiro" gira em torno de um veterano ator dos palcos britânicos, chamado pelos colegas simplesmente de "Sir" - em uma atuação milagrosa de Albert Finney. Líder de uma companhia teatral shakespereana, ele conta sempre com a prestimosa e abnegada assistência do incansável Norman (Tom Courtenay, impecável em sua criação repleta de nuances), que, além de auxiliá-lo nas trocas de roupa e maquiagem, agora se vê diante de uma nova missão: cuidar da saúde mental do brilhante intérprete. Com a idade avançada, Sir está confundindo os papéis, trocando as falas e, além de tudo, disposto a escrever uma autobiografia. Desacreditado pelos colegas, ele é blindado por Norman, que o vê como ídolo absoluto e intocável mesmo quando acaba sendo vítima do egocentrismo do astro.

Quem aprecia um bom jogo de cena, com atuações brilhantes e um texto irretocável não pode perder "O fiel camareiro". Porém, é bom que se diga que, para um público menos disposto a mergulhar no universo proposto pelo roteiro, a experiência provavelmente será menos rica: tanto os diálogos de Harwood quanto a direção de Yates valorizam basicamente o duelo entre Finney e Courtenay, dando pouco espaço para os coadjuvantes e seus dramas pessoais. Mesmo quando volta seu foco para anedotas de bastidores - como o hilariante mutirão para providenciar uma tormenta digna do nome em uma sessão de "Rei Lear" - o filme sempre privilegia as reações de Sir em relação ao que lhe rodeia e, consequentemente, como isso afeta a vida de Norman, um homem cuja vida se resume unica e exclusivamente às coxias e palcos. São dois personagens e tanto, defendidos com garra e talento por atores em estado de graça. Um filme para quem gosta da arte da atuação, dentro e fora dos palcos e das telas.

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