FEDORA (Fedora, 1978, Bavaria Atelier, 116min) Direção: Billy Wilder.
Roteiro: Billy Wilder, I.A.L. Diamond, estória de Thomas Tryon.
Fotografia: Gerry Fisher. Montagem: Stefan Arnsten, Fredric Steinkamp.
Música: Miklos Rozsa. Figurino: Charlotte Fleming. Direção de
arte/cenários: Alexandre Trauner/Robert André. Produção: Billy Wilder.
Elenco: William Holden, Marthe Keller, Hildegard Knef, José Ferrer,
Frances Sternhagen, Henry Fonda, Michael York. Estreia: 30/5/78
(Festival de Cannes)
Em 1950, o filme "Crepúsculo dos deuses" retratava, de forma poética e um tanto cruel, o fim de um período de glamour dentro da indústria de cinema de Hollywood. Através da personagem Norma Desmond, vivida com propriedade pela extraordinária Gloria Swanson, o diretor e roteirista Billy Wilder criticava com ferocidade o tratamento dado pela nova geração aos ídolos do passado, normalmente relegados a um mero arremedo de existência quando longe dos holofotes. Vinte e oito anos mais tarde, em seu penúltimo filme, Wilder voltaria ao tema, porém sem o mesmo sucesso e o mesmo tom de ironia. "Fedora", inspirado em um conto de Thomas Tryon, não convenceu a crítica como tantos de seus trabalhos anteriores e acabou ficando conhecido como um filme menor na carreira do brilhante cineasta. De fato, é uma produção menos empolgante, mas ainda assim um filme acima da média, com uma história com reviravoltas o suficiente para manter a atenção até seu minuto final.
Pensado inicialmente como um telefilme a ser lançado na CBS, "Fedora" foi resgatado de tal destino pela United Artists, que, com o nome de Billy Wilder em vista, achou que o filme merecia uma estreia em grande estilo. A oportunidade perfeita surgiu com a retrospectiva da carreira do cineasta, no Festival de Cannes de 1978, mas a morna recepção ao resultado final foi responsável pelo descaso da distribuição do filme no mercado tanto doméstico quanto internacional. Para desgosto do próprio Wilder, até mesmo as exibições-teste foram um tanto desastrosas, com a plateia reagindo de forma inadequada ao desenvolvimento da trama, adaptada para as telas por ele mesmo e seu fiel colaborador I.A.L. Diamond. Recusando-se a editar ainda mais sua obra - já mutilada em 12 minutos pela UA - o diretor, cujo último filme havia sido o também pouco louvado "Avanti!... Amantes à italiana" (72), teve de contentar-se em vê-la passar quase em branco pelos cinemas, de forma melancólica e um tanto quanto injusta que nem mesmo sua apresentação no Festival de Cinema de Chicago deu conta de apagar. Ainda assim, é um filme que merece ser descoberto, nem que seja a título de curiosidade.
William Holden - por coincidência ou não o protagonista também de "Crepúsculo dos deuses" - trabalha novamente sob o comando de Wilder, na pele de Barry Detweiler, um produtor de cinema em crise financeira que, com uma adaptação de "Anna Karenina" em mãos, resolve oferecer o papel principal à reclusa atriz Fedora (Marthe Keller), aposentada das telas e moradora em uma escondida ilha mediterrânea, ao lado de uma condessa idosa e temperamental, um médico misterioso e uma governanta hostil. Em suas tentativas de convencer a atriz a voltar às telas, Barry não hesita em relembrá-la de um encontro de sua juventude, mas esbarra não apenas no perceptível desequilíbrio mental da antiga estrela mas também na resistência de todos que a rodeiam - um grupo de pessoas que parece esconder um grande segredo em relação a ela. Tal segredo acaba vindo à tona depois de uma tragédia inesperada - e Detweiler ficará sabendo, então, que a busca pela eterna juventude pode atingir patamares jamais imaginados.
Contando sua história com ares sombrios e repletos de surpresas mirabolantes, Billy Wilder deixa de lado (um pouco) sua habitual ironia, preferindo dedicar-se a enfatizar o lado doentio e claustrofóbico do mundo do cinema - e das celebridades em geral. Ao mudar completamente o rumo de sua narrativa em seu ato final, o cineasta convida o público a adentrar em uma nova história, digna dos melhores contos de horror de Edgar Allan Poe e dotada de uma melancolia surpreendente, em especial vinda de um homem que conseguiu falar de alcoolismo sem cair no sentimentalismo - em "Farrapo humano" (45) - e do sensacionalismo da imprensa sem apelar para o panfletarismo - em "A montanha dos sete abutres" (51). Como percebendo que também ele estava com sua carreira na reta final, Wilder dá seu recado de forma elegante mas contundente, utilizando-se de um gênero (o suspense) para iluminar uma forma quase patológica de vida, com elementos que lembram bastante "A pele que habito" (2011), de Pedro Almodóvar. Com participações especiais de Henry Fonda e Michael York como eles mesmos, "Fedora" é um Billy Wilder atípico, mas jamais menor. É apenas menos óbvio e requer mais atenção e dedicação.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
quinta-feira
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