JFK: A HISTÓRIA NÃO CONTADA (Parkland, 2013, The American Film Company, 93min) Direção: Peter Landesman. Roteiro: Peter Landesman, livro de Vincent Bugliosi. Fotografia: Barry Ackroyd. Montagem: Markus Czyzewski, Leo Trombetta. Música: James Newton Howard. Figurino: Kari Perkins. Direção de arte/cenários: Bruce Curtis/Rodney Becker. Produção executiva: Tobin Armbrust, Guy East, Brian Falk, Joe Ricketts, Ginger Sledge. Produção: Gary Goetzman, Tom Hanks, Matt Jackson, Bill Paxton, Nigel Sinclair. Elenco: Marcia Gay Harden, Zac Efron, Paul Giamatti, Ron Livingston, James Badge Dale, Billy Bob Thornton, Jacki Weaver, Gil Bellows, Tom Welling, Mark Duplass, Colin Hanks, Jackie Earle Haley, Rory Cochrane. Estreia: 01/9/13 (Festival de Veneza)
Em 22 de novembro de 1963, a cidade de Dallas, Texas, foi cenário do mais traumático e devastador espetáculo que os EUA testemunhou até o atentado ao World Trade Center, quase quarenta anos mais tarde: o assassinato do então presidente John Fitzgerald Kennedy não apenas mostrou aos americanos a fragilidade de sua segurança como também abalou os alicerces da política mundial de forma indelével e ainda hoje ressoante. Em 1991, Oliver Stone abordou a morte de Kennedy no fenomenal "JFK: A pergunta que não quer calar", que, em tom semi-documental, expunha teorias da conspiração de modo tão contundente que era impossível não acabar a sessão totalmente convencido de que o presidente havia sido morto por culpa da CIA, do FBI, da KGB e da própria Casa Branca. O trabalho de Stone concorreu ao Oscar de filme, direção e roteiro - e ganhou as estatuetas de fotografia e edição - e passou à história como um dos maiores thrillers políticos dos anos 90. Com um olhar completamente oposto ao espetáculo grandioso estrelado por Kevin Costner, o discreto e pouco conhecido "JFK: A história não contada" volta sua atenção não para a investigação do crime, mas para suas consequências imediatas junto às pessoas que atenderam o presidente no Parkland Memorial Hospital, seus seguranças e um lado da questão sempre esquecida por todos: a família daquele que é considerado o autor dos tiros, Lee Harvey Oswald.
Baseado no livro "Four days in November: The assassination of John F. Kennedy", escrito pelo promotor Vincent Bugliosi - tornado famoso graças ao julgamento de Charles Manson e seus seguidores - o filme de estreia do roteirista Peter Landesman renega as teorias propostas por Oliver Stone em seu trabalho e abraça a história oficial do atirador solitário. Assim como Emilio Estevez fez em "Bobby" (2006) - que apresentava uma dúzia de personagens presentes ao Hotel onde Robert Kennedy foi assassinado, em 1968 - a obra de Landesman se debruça sobre pequenas histórias paralelas (mas todas reais) que envolveram o homicídio, mas pouco se interessa em invadir as entranhas das investigações e das incoerências que cercavam o caso. Seu interesse humano é maior que o político - o que torna o resultado final um tanto irregular, ainda que fascinante para quem se interessa pelo assunto. Produzido por Tom Hanks e Bill Pullman - que primeiro pretendiam adaptar o livro de Bugliosi como minissérie de televisão - e com um elenco de rostos conhecidos do grande público, o filme custou meros 10 milhões de dólares, mas naufragou nas bilheterias e foi ignorado nas cerimônias de premiação, mesmo tendo estreado no concorrido Festival de Veneza e lançado comercialmente no aniversário de 50 anos da tragédia.
A morte de John Kennedy - na frente de centenas de pessoas, em uma via pública e de forma a abalar toda uma nação - é o ponto de partida de "JKF: A história não contada". A partir do momento em que o presidente chega à Dallas, os personagens da trama vão sendo apresentados aos poucos: surge Abraham Zapruder (Paul Giamatti), o homem que, com sua filmadora, irá registrar um dos momentos mais estudados do século. Aparecem os jovens médicos Charles Carrico (Zac Efron) e Malcolm Perry (Colin Hanks), que irão tentar salvar a vida do presidente, ao lado da enfermeira-chefe Doris Nelson (Marcia Gay Harden). São iluminados pela tela alguns dos homens do Serviço Secreto, dispostos a descobrir qualquer detalhe sobre a tragédia, como Forrest Sorells (Billy Bob Thornton) e Roy Kellerman (Tom Welling), assim como agentes do FBI encarregados de cuidar da segurança do presidente, como James Hosty (Ron Livingston) e Gordon Shanklin (David Harbour) - o primeiro sentindo-se culpado pelo fato de não ter dado a devida atenção a um homem que estava investigando, chamado Lee Harvey Oswald. A família de Oswald, inclusive, também é lembrada pelo roteiro, nas figuras marcantes de seu atônito irmão Robert (James Badge Dale, ótimo) e sua interesseira mãe Marguerite (Jacki Weaver).
Enquanto vai contando a história desses personagens - e outros menos marcantes mas igualmente importantes no processo que tirou o corpo de Kennedy do hospital de Dallas mesmo contra a vontade do médico legista Earl Rose (Rory Cochrane) - o filme de Landesman vai mostrando os efeitos do fatídico evento na vida de cada um deles, mas sem aprofundar-se satisfatoriamente em nenhum dos casos. Mesmo que sua intenção seja exatamente um recorte específico na trajetória dos personagens, é impossível não ficar com a sensação de que algo ficou faltando. É como se o filme todo fosse uma introdução - forte, interessante, realista - de uma obra que, no fim, não existe. Bom diretor de atores, Landesman consegue extrair atuações convincentes até de Zac Efron e Tom Welling - mais conhecidos como galãs do que como intérpretes sérios - e explora com deleite o trabalho fascinante de medalhões como Paul Giamatti, Billy Bob Thornton e Jacki Weaver, a melhor em cena, com uma atuação monstruosa da igualmente monstruosa mãe de Lee Harvey Oswald - que passou o resto da vida insistindo que o filme era um agente do governo americano, o que, consequentemente, ratifica as ideias de Oliver Stone e vai contra as conclusões de Vincent Bugliosi. Em todo caso, "JFK: A história não contada" não se propõe a investigar um caso de assassinato, mas sim em como essa morte afetou diretamente alguns personagens à margem da história. Um bom filme, ainda que aquém de todo o seu potencial.
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