NOCAUTE (Southpaw, 2015, Escape Artists/Fuqua Films, 124min) Direção: Antoine Fuqua. Roteiro: Kurt Sutter. Fotografia: Mauro Fiore. Montagem: John Refoua. Música: James Horner. Figurino: David C. Robinson. Direção de arte/cenários: Derek R. Hill/Melissa Lombardo. Produção executiva: David Bloomfield, Cary Cheng, Jonathan Garrison, Stuart Parr, David Ranes, Paul Rosenberg, David Schiff, Dylan Sellers, Kurt Sutter, Ezra Swerdlow, Bob Weinstein, Harvey Weinstein, Gillian Zhao. Produção: Todd Black, Jason Blumenthal, Antoine Fuqua, Alan Riche, Peter Riche, Steve Tisch, Jerry Ye. Elenco: Jake Gyllenhaal, Forest Whitaker, Rachel McAdams, Oona Laurence, 50 Cent, Skylan Brooks, Naomie Harris, Victor Ortiz. Estreia: 15/6/15 (Festival de Xangai)
A princípio, a ideia era fazer uma espécie de continuação de "8 mile: rua das ilusões" (2002), com o cantor Eminem reprisando seu papel, dessa vez com uma trama centrada no universo das lutas de boxe. Com o tempo - e a desistência do rapper, que preferiu dedicar-se à carreira musical e abandonar parcialmente o projeto, assinando apenas como produtor executivo da trilha sonora - a história foi sendo modificada, de acordo com as regras de Hollywood e o interesse de atores com razoável poder de atrair as plateias. Antes que Jake Gyllenhaal assumisse a protagonização sob a direção de Antoine Fuqua, por exemplo, nomes como Ryan Gosling, Bradley Cooper e Jeremy Renner (todos potencialmente interessantes sob o ponto de vista comercial e com indicações ao Oscar para comprovar seus méritos artísticos) foram cogitados para enfeitar o cartaz, em uma tentativa em conciliar uma bilheteria polpuda e possíveis indicações à estatueta dourada. Quando finalmente o filme saiu, com Gyllenhaal no papel central, o primeiro objetivo foi atingido em parte, com uma renda de pouco mais de 50 milhões de dólares de arrecadação somente no mercado doméstico (EUA e Canadá) e quase 90 ao redor do mundo. Já o segundo foi uma decepção: apesar dos rumores que davam como bastante provável a lembrança de Gyllenhaal entre os candidatos ao Oscar, a Academia simplesmente ignorou seu belo trabalho, frustrando fãs e produtores.
A esnobada em Gyllenhaal - indicado ao prêmio de coadjuvante em 2006, por "O segredo de Brokeback Mountain" - não deixou de ser injusta. Ator dedicado e minucioso em suas composições, ele é o pilar de um filme que, apesar da sinceridade impressa em cada cena, jamais consegue escapar das armadilhas de um roteiro clichê e bastante previsível. Antoine Fuqua, o diretor, tem no currículo filmes corretos mas nunca brilhantes - como "Dia de treinamento" (2001), que deu o Oscar a Denzel Washington - e novamente entrega um produto bem embalado, visualmente atraente e de fácil comunicação com a plateia, mas sem personalidade. Da fotografia à edição, passando pela trilha sonora pesada e pela caracterização que deixa Gyllenhaal irreconhecível em determinados momentos, tudo funciona como um relógio. Porém, é inegável que todo o esforço esbarra em uma trama simplista, que, se consegue emocionar, é mérito do talento de seus intérpretes, excelentes atores dando vida a personagens que apenas ocasionalmente ultrapassam a esfera do superficial. Com apenas uma grande surpresa na narrativa - ainda em seu primeiro ato - e uma sucessão de sequências que apesar de bem realizadas não acrescentam nada ao gênero, "Nocaute" é um entretenimento competente e tecnicamente impecável, mas está longe de ser o novo clássico que talvez almejasse ser.
Um esporte querido pelo cinema, o boxe foi responsável por alguns dos mais premiados e queridos filmes realizados por Hollywood, como "Rocky, um lutador", Oscar de filme e direção em 1977, "Touro indomável" (80) - estatueta de melhor ator para Robert DeNiro - e "Menina de ouro" (2004), que deu o segundo Oscar tanto a Clint Eastwood (direção) quanto à Hillary Swank (atriz), além de faturado o prêmio de melhor filme do ano em cima de "O aviador", de Martin Scorsese. O roteiro de "Nocaute" se utiliza de elementos de todos eles (e de vários outros de temática semelhante) para costurar uma história de amor, vingança e superação, sendo o esporte a moldura perfeita para tal, com sua mistura de decadência e glamour mescladas em doses exatas pelo cineasta, que não hesita em fazer sua câmera transitar pelos eventos milionários das redes esportivas de televisão e por academias baratas, refúgio dos menos favorecidos pela sorte. O protagonista, Billy Hope, é um daqueles que tem a possibilidade de experimentar os dois mundos - e sua jornada, graças ao talento de Jake Gyllenhaal, se torna interessante a despeito da falta de novidade que ela apresenta.
Quando o filme começa, Hope é um lutador que está no auge da carreira, vencendo lutas, sendo adulado por imprensa e amigos de ocasião e vivendo um casamento feliz com a bela Maureen (Rachel McAdams), a quem conheceu em um abrigo para crianças sem lar e que hoje administra sua carreira com um misto de rigidez e carinho. O romance deles foi abençoado com uma filha inteligente e amorosa, Leila (Oona Laurence), e o que parecia um sonho dourado torna-se bruscamente um pesadelo quando uma tragédia inesperada se abate sobre a família e faz com que o corajoso e bem-sucedido atleta se veja diante de um desafio cruel e mais pesado que poderia imaginar: juntar os cacos do que ainda restou e tentar uma volta por cima, com a ajuda do veterano Tick Wills (Forest Whitaker fazendo o possível para extrair algo de novo de um personagem dos mais batidos). É admirável como Antoine Fuqua consegue contar sua história (direta, simples, quase banal) sem perder o interesse da plateia diante de uma série de lugares-comuns: com uma edição ágil, momentos dramáticos estrategicamente distribuídos pela narrativa e atuações poderosas, ele consegue facilmente enganar que seu filme tem mais substância do que na verdade tem. É um mérito, mas questionável, uma vez que, assim que a sessão acaba, é bem provável que o espectador esqueça boa parte do que viu. Para alguns sua falta de personalidade como cineasta - e do filme em si como obra de arte - talvez não incomode, já que é entretenimento de qualidade. Mas não resta dúvidas de que um bocado de ousadia e criatividade teria sido providencial para um sucesso maior. Em todo caso, é um passatempo honesto e apresenta uma atuação monstruosa (no bom sentido) de Jake Gyllenhaal, o que é mais do que muitos outros filmes bem mais ambiciosos conseguem.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
terça-feira
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2 comentários:
Gosto, mesmo achando o filme um tanto frio, ainda a melhor atuação de Tom Hardy e mostrando como Joel é de fato um excelente ator.
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Amei ver esse filme de drama pelo elenco que tem! Definitivamente Rachel McAdams fez um bom trabalho no personagem. Eu amei o seu papel. Fez uma grande química com todo o elenco, vai além dos seus limites e se entrego ao personagem. Esse é um dos trabalhos em sua filmografía que eu mais gosto além de A Noite do Jogo outro dos seus últimos filmes. Eu recomendo, pessoalmente superou as minhas expectativas, o ritmo da historia nos captura a todo o momento. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver em sua carreira. Vale a pena.
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