3 indicações ao Oscar: Atriz (Ellen Burstyn), Atriz Coadjuvante (Diane Ladd), Roteiro Original
Vencedor do Oscar de Melhor Atriz (Ellen Burstyn)
Nem a vítima, nem a compreensiva esposa do herói e muito menos um objeto sexual. Depois do sucesso estrondoso de "O exorcista" (73) - pelo qual foi indicada ao Oscar -, a atriz Ellen Burstyn queria voltar às telas em um papel que fosse o oposto de todos aqueles a que se sujeitava boa parte das intérpretes de sua geração. Foi assim que encontrou, dentre vários roteiros oferecidos pela Warner, uma estória escrita por Robert Getchell que oferecia tudo que ela buscava: uma personagem forte, uma história calcada na realidade e a possibilidade de demonstrar uma outra faceta de seu talento. Recusada por Shirley MacLaine, Barbra Streisand e até Diana Ross, a protagonista de "Alice não mora mais aqui" serviu de passaporte para que Burstyn finalmente levasse a estatueta da Academia - mas, mais importante ainda, foi a responsável por revelar à crítica e ao público que nem apenas de homens à margem da sociedade era feito o cinema do cineasta Martin Scorsese. Recém descoberto por seu elogiado "Caminhos perigosos" (73), o então jovem realizador mostrou-se à altura do compromisso e preparou terreno para aquele que seria a primeira de suas várias obras-primas: "Taxi driver", lançado em 1976.
Na verdade o diretor nova-iorquino só chegou até Ellen Burstyn por recomendação de outro cineasta então começando sua escalada rumo ao prestígio, Francis Ford Coppola. Procurado pela atriz para que desse sugestões de nomes capazes de dirigir o projeto que estava em suas mãos, o homem que acabava de conhecer aplausos unânimes por "O poderoso chefão" (72) - e que viria a fazer história com duas produções indicadas ao Oscar de melhor filme no mesmo ano de 1974 - indicou o nome de Scorsese. Não muito certa em contratar alguém cujo cartão de visitas era um filme violento e extremamente masculino, Burstyn não demorou a ser convencida do entusiasmo que Scorsese demonstrava pelo roteiro - e foi premiada com uma equipe feminina da qual faziam parte a esposa de George Lucas (Marcia, responsável pela edição) e Bob Rafelson (Toby Carr, a desenhista de produção). Surgia, então, uma parceria que faria acontecer, diante das câmeras, momentos de um naturalismo raros, alcançados depois de exaustivos ensaios e inspiradas improvisações.
Também indicado ao Oscar (que perdeu para o incensado "Chinatown"), o roteiro de Robert Getchell usa e abusa de um tipo de cinema bastante influenciado por John Cassavetes - e serviu, como afirmado pelo próprio Scorsese, como uma tentativa sua de emular o espírito dos filmes estrelados por Bette Davis e Joan Crawford na era de ouro de Hollywood. Sem artifícios de estilo e centrado basicamente em seus personagens, "Alice não mora mais aqui" é um exercício minimalista do diretor, uma história simples e direta, que abdica de grandes reviravoltas e pode ser considerado, sem demérito algum, como seu filme de narrativa mais convencional. Pode-se dizer que é a vida como ela é sob o olhar de um Martin Scorsese menos agressivo e pessimista em relação ao mundo - e uma crônica social e familiar agradável e de fácil comunicação com a plateia, seja ela de onde for. Ao eleger como protagonista uma mulher comum, com problemas ordinários e relações tão falíveis quanto as de qualquer espectador, o filme acerta em cheio - ainda que sua falta de ousadia talvez deixe uma incômoda sensação de simplicidade excessiva.
Simplicidade é o que move o roteiro de Getchell e a direção de Scorsese - assim como é simplicidade também a maior característica da vida de Alice Hyatt (Ellen Burstyn), que vive em Socorro, Novo México, na companhia do marido e do único filho, o precoce Tommy (Alfred Lutter). Sua repentina viuvez acaba por lhe servir como empurrão para finalmente tomar as rédeas de sua vida, e, decidida, ela viaja com o menino de volta para sua cidade natal, Monterey, na California, onde planeja retomar uma carreira de cantora noturna. No meio do caminho, no Arizona, ela arruma emprego como garçonete e se envolve com um homem mais jovem, Ben (Harvey Keitel) - com quem encontra uma série de problemas inesperados - e com o fazendeiro David (Kris Kristofferson), que aparenta ser o homem que irá fazer dela uma mulher mais feliz e completa. Porém, aos poucos, Alice começa a perceber que é provável que sua liberdade e seu filho importem mais do que uma companhia masculina - e passa a questionar seu estilo de vida sentimental.
Narrado de forma fluida e natural, "Alice não mora mais aqui" é um filme atípico na carreira de Martin Scorsese, mais afeito a neuroses e obsessões urbanas do que a personagens mais banais. Porém, na interpretação potente de Ellen Burstyn, a vida de Alice Hyatt torna-se, por si mesma, o retrato do sonho simples de felicidade e paz de espírito. Não é uma obra-prima, mas é um filme importante dentro de seu contexto social e principalmente é uma aula de minimalismo e delicadeza. É a prova de que o cineasta Scorsese já nasceu praticamente pronto!
Narrado de forma fluida e natural, "Alice não mora mais aqui" é um filme atípico na carreira de Martin Scorsese, mais afeito a neuroses e obsessões urbanas do que a personagens mais banais. Porém, na interpretação potente de Ellen Burstyn, a vida de Alice Hyatt torna-se, por si mesma, o retrato do sonho simples de felicidade e paz de espírito. Não é uma obra-prima, mas é um filme importante dentro de seu contexto social e principalmente é uma aula de minimalismo e delicadeza. É a prova de que o cineasta Scorsese já nasceu praticamente pronto!
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