FAMÍLIA HOLLAR (The Hollars, 2016, Sony Pictures Classics, 88min) Direção: John Krasinski. Roteiro: Jim Strouse. Fotografia: Eric Alan Edwards. Montagem: Heather Persons. Música: Josh Ritter. Figurino: Caroline Eselin. Direção de arte/cenários: Daniel B. Clancy/Gretchen Gattuso. Produção executiva: Michael London, Mike Sablone, Jim Strouse, Janice Williams. Produção: John Krasinski, Ben Nearn, Tom Rice, Allyson Seeger. Elenco: John Krasinski, Richard Jenkins, Margo Martindale, Anna Kendrick, Shartlo Copley, Charlie Day, Randall Park, Josh Groban, Mary Kay Place, Ashley Dyke. Estreia: 24/01/2016 (Festival de Sundance)
Quando o terror "Um lugar perigoso" estreou, em 2018, muita gente se surpreendeu com o talento de seu diretor: conhecido por seu desempenho na série "The office" (2005-2013), onde interpretava o bom-moço Jim Halpert, o jovem John Krasinski mostrava, então, uma faceta que não era exatamente nova para os fãs de cinema independente, que o acompanhavam desde sua estreia como diretor de longas-metragens - com o elogiado mas pouco visto "Breves entrevistas com homens hediondos", de 2009. Sensível, discreto e dotado de um senso de humor caloroso e humano, Krasinski atingiu, em seu segundo filme, o equilíbrio perfeito entre drama, comédia e romance. "Família Hollar" pode não ser um exemplo de originalidade (e tampouco tenta subverter as regras do cinema mainstream), mas é uma deliciosa sessão de risadas e lágrimas, defendida por um elenco acima de qualquer crítica e amparada por um roteiro redondinho, do qual é impossível não se gostar.
Se o filme tem um personagem principal, este é John Hollar, interpretado pelo próprio diretor: às vésperas de tornar-se pai pela primeira vez e frustrado com uma carreira de desenhista de graphic novels que não deslancha, ele é chamado às pressas para voltar à sua cidade natal quando sua mãe, a agregadora Sally (Margo Martindale), é diagnosticada com um tumor cerebral. Chegando em casa, ele encontra uma família à beira do colapso: seu pai, Don (Richard Jenkins), está falido, e seu irmão, Ron (Shartlo Copley), não consegue superar o divórcio e vive em constante conflito com a ex-mulher a respeito das duas filhas pequenas. Além disso, o enfermeiro que cuida de sua mãe, Jason (Charlie Day), agora é casado com sua ex-namorada, Gwen (Mary Elizabeth Winstead) - que deixa bem claro a quem quiser ouvir que ainda não o esqueceu. Enquanto tenta lidar com toda a pressão que subitamente caiu em sua cabeça, John conta com o apoio da apaixonada Rebecca (Anna Kendrick) - com quem não consegue se comprometer completamente.
Alternando sequências de um humor ingênuo e momentos que desafiam o público a não derramar rios de lágrimas, "Família Hollar" se sustenta em dois pilares fundamentais para cativar a plateia: seu roteiro, enxuto e nitidamente influenciado pelo bom cinema de personagens europeu, e seus atores, excepcionais e em dias de grande inspiração. Sem medo de abraçar carinhosamente os clichês que inundam os dramas familiares - e explorando-os a seu favor -, o script do também produtor Jim Strouse apresenta personagens com os quais a identificação é fácil e imediata e conduz com sensibilidade a trajetória de pessoas cuja complexidade vai se revelando pouco a pouco, conforme as situações vão se apresentando, muitas vezes de forma inexorável e avassaladora. É um imenso acerto não dotar nenhum de seus protagonistas com almas irretocáveis - todos os membros da família já erraram e acertaram da mesma forma, o que faz deles seres humanos falíveis e que podem ser encontrados em qualquer lugar do mundo, em qualquer classe social, em qualquer raça. Tal universalidade é um gol de placa - especialmente quando seus representantes são interpretados por um elenco de aplaudir de pé.
Se John Krasinski não precisa se esforçar muito para convencer no papel de um rapaz que é o orgulho da família, não deixa de ser surpreendente ver o sul-africano Shartlo Copley (de "Distrito 9") no papel de um desajustado mas amoroso pai, capaz de desatinos lamentáveis para ficar ao lado das filhas - é difícil não se deixar conquistar por ele, apesar de suas atitudes nem sempre éticas. Anna Kendrick volta a viver uma personagem dócil, emprestando a sua Rebecca um senso de responsabilidade essencial para o clã do namorado. Mas é impossível não reconhecer que o maior show em "Família Hollar" vem de seus protagonistas veteranos: oferecendo uma generosa dose humanidade ao casal de patriarcas, Richard Jenkins e Margo Martindale brilham em cada cena, em cada sequência, em cada momento, fazendo uso de sua vasta experiência para transmitir à plateia um sentimento de amor incondicional que somente a maturidade consegue atingir. Vem deles as lágrimas mais sentidas, as risadas mais honestas e a sensação de calor humano que persiste muito tempos depois dos créditos finais. Se "Um lugar perigoso" mostrou Krasinski como um cineasta inteligente em utilizar-se de todas as ferramentas técnicas de seu ofício, em "Família Hollar" ele já havia comprovado que também não lhe falta coração e o olhar afetuoso a seus personagens. Bravíssimo
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