MÁFIA
NO DIVÃ (Analyze this, 1999, Warner Bros, 103min) Direção: Harold
Ramis. Roteiro: Harold Ramis, Kenneth Lonergan, Peter Tolan, estória de
Kenneth Lonergan, Peter Tolan. Fotografia: Stuart Dryburgh. Montagem:
Craig P. Herring, Christopher Tellefsen. Música: Howard Shore. Figurino:
Aude-Bronson-Howard. Direção de arte/cenários: Wynn Thomas/Leslie E.
Rollins. Produção executiva: Bruce Berman, Chris Brigham, Billy Crystal.
Produção: Jane Rosenthal, Paula Weinstein. Elenco: Robert DeNiro, Billy
Crystal, Lisa Kudrow, Chazz Palminteri, Joe Viterelli. Estreia: 05/3/99
Acostumadas a ver Robert DeNiro em papéis dramáticos, violentos e/ou a um passo do abismo, as plateias do final dos anos 1990 foram surpreendidas com uma nova faceta de seu talento - poucas vezes revelada em sua longa e incensada carreira. Aproveitando sua imagem de durão (consagrada por inúmeras colaborações com Martin Scorsese), DeNiro chegou às telas em "Máfia no divã", uma comédia descrita por seu diretor Harold Ramis como um encontro entre "O poderoso chefão" e "Nosso querido Bob" e que rendeu mais de 100 milhões de dólares somente no mercado doméstico (EUA e Canadá). Escapando com maestria da maldição dos filmes de uma piada só, a história da relação tóxico-afetiva entre um chefe mafioso e um psicanalista judeu se beneficia não apenas do carisma à toda prova de seu astro maior, mas também de sua inusitada química com Billy Cristal - uma interação das mais felizes na carreira de ambos.
Ben Sobel (Billy Cristal) é um psicanalista entediado com sua profissão e que vive em constante conflito com o filho adolescente e comas cobranças que faz a si mesmo, originadas de um complexo de inferioridade em relação ao pai. Às vésperas de seu casamento com a repórter Laura MacNamara (Lisa Kudrow), ele é procurado por Paul Vitti (Robert DeNiro), um conhecido mafioso de Nova Iorque que está sofrendo de ataques de pânico, crises de choro e problemas sexuais com a amante. Impressionado com a primeira conversa que tem com o médico, Vitti resolve que ele irá se tornar seu analista pessoal - o que significa que, a partir de então, Sobel passará a ter o mafioso e seus comparsas sempre em seu caminho, não importa o quão desconfortável isso possa ser. Precisando resolver sua condição frágil a tempo de um encontro com vários chefões da máfia que irá acontecer em poucas semanas, Paul Vitti se torna obcecado pelo tratamento - desde que não ultrapasse alguns limites ("se eu virar bicha, você morre!").
O melhor de "Máfia no divã" é sua capacidade de fazer rir e manter viva uma única piada por cem minutos sem cair na redundância. Graças a um roteiro repleto de diálogos inteligentes e a direção segura de Harold Ramis - que tem no currículo o genial "Feitiço do tempo" (1993) -, o filme mantém o ritmo até seus minutos finais, em um clímax que acena aos clássicos de Scorsese, não por acaso o primeiro nome sondado para a direção. Além disso, apresenta uma química brilhante entre DeNiro e Billy Cristal, capaz de arrancar gargalhadas sem muito esforço - não atrapalha, também, contar com a presença da ótima Lisa Kudrow, apesar de seu pouco tempo em cena. O elenco coadjuvante - escolhido a dedo pelo diretor e por seu ator principal em visitas a um bairro italiano de Nova Iorque - é outro ponto alto da produção, oferecendo uma autenticidade visual que contrasta com o tom surreal da premissa, desenvolvida por Ramis, Peter Tolan (roteirista de diversos episódios de séries televisivas) e Kenneth Lonergan - que ganharia um Oscar em 2017 pelo dramático "Manchester à beira-mar". Engraçado sem apelar para qualquer tipo de humor ofensivo, o roteiro brinca com os clichês sobre o crime organizado e sobre os exageros da psicanálise - e faz rir principalmente pela inversão de papéis que ocorre a cada encontro entre analista e analisado.
Mas, apesar de ser impossível imaginar outro ator na pele do atormentado mafioso Paul Vitti, a presença de Robert DeNiro foi confirmada somente depois que vários outros nomes foram sondados para o papel. Antes que Harold Ramis assumisse a direção - substituindo o britânico Richard Loncraine (de "Ricardo III", de 1995) - possibilidades bastante diversas foram aventadas, dos veteranos Harrison Ford e Burt Reynolds aos especialistas em comédias Robin Williams e John Goodman, passando pelos previsíveis Joe Pesci e Bob Hoskins e os surpreendentes Tom Selleck e Ted Danson. Para sorte do público, no entanto, nada impediu o perfeito casamento entre personagem e ator - um casamento tão feliz que rendeu ainda uma continuação, lançada em 2002, sem o mesmo brilho do original (em parte por não ter o mesmo frescor.)
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