O
JOGADOR (The player, 1992, Avenue Pictures Productions/ Spelling Entertainment/Addis Weschler Pictures, 124min) Direção: Robert Altman.
Roteiro: Michael Tolkin, romance de sua autoria. Fotografia: Jean
Lépine. Montagem: Maysie Hoy, Geraldine Peroni. Música: Thomas Newman.
Figurino: Alexander Julian. Direção de arte/cenários: Stephen
Altman/Susan Emshwiller. Produção executiva: Cary Brokaw. Produção:
David Brown, Michael Tolkin, Nick Weschler. Elenco: Tim Robbins, Greta
Schacchi, Fred Ward, Whoopi Goldberg, Peter Gallagher, Brion James,
Cynthia Stevenson, Vincent D'Onofrio, Dean Stockwell, Sydney Pollack,
Lyle Lovett, Jeremy Piven, Gina Gershon. Estreia: 03/4/92 (Festival de
Cleveland)
3 indicações ao Oscar: Diretor (Robert Altman), Roteiro Adaptado, Montagem
Vencedor de 2 Golden Globes: Melhor Filme Comédia/Musical, Ator Comédia/Musical (Tim Robbins)
Vencedor do Festival de Cannes: Diretor (Robert Altman), Ator (Tim Robbins)
Apesar
de algumas vezes acertar direto no alvo - ao menos em relação à
bilheteria e à crítica - o cineasta Robert Altman dificilmente pode ser
considerado um filho exemplar da indústria cinematográfica
norte-americana. Quase como um estranho no ninho, ele construiu uma
carreira atípica, onde sucessos comerciais e artísticos como "M.A.S.H"
(70) e "Nashville" (76) conviviam com furos n'água gigantescos, como
"Quando os homens são homens" (71) e a tenebrosa versão para o cinema de
"Popeye" (80), estrelada por Robin Williams. Tendo conhecido os dois
lados da moeda - e visto as mesmas mãos que lhe davam tapinhas nas
costas diante do sucesso se recusando a assinar os cheques para a
realização de novos filmes quando deparavam com o fracasso - foi a
pessoa certa para comandar "O jogador", uma comédia - ainda que
disfarçada de thriller policial - ácida, cínica e iconoclasta sobre os
bastidores de Hollywood. O que Altman oferece ao espectador, porém, não
são os bastidores glamourosos de tapetes vermelhos e festas badaladas
(ainda que elas inevitavelmente apareçam) mas sim o que se esconde por
trás dos sorrisos falsos e das negociações frequentemente sujas que
fazem parte do mundo aparentemente maravilhoso da sétima arte. Ironia
suprema, esse "retorno" de Altman ao primeiro time dos realizadores
americanos saiu ovacionado do Festival de Cannes de 1992 - onde
conquistou os prêmios de direção e ator (Tim Robbins) - e o colocou na
disputa pelo Oscar ao lado de Clint Eastwood.
No melhor
ano de sua carreira até então, Tim Robbins - que ainda em 1992 lançou
sua estreia como diretor, a sátira política "Bob Roberts" e ganhou ainda
o Golden Globe de melhor ator em comédia/musical - interpreta Griffin
Mill, executivo de um estúdio de Hollywood que tem o poder de decidir
quais, dentre as dezenas que chegam a seu escritório, quais as ideias de
histórias serão ou não transformadas em filme. Um tanto arrogante e
autocentrado, Mill começa a receber ameaçadores cartões-postais de um
suposto roteirista que não teve a sorte de ser aprovado por ele,
justamente em um momento crucial de sua carreira: com a chegada de um
novo executivo, Larry Levy (Peter Gallagher), seu cargo pode estar a
perigo - e com ele, todas as bajulações, luxos e poder que vem
atrelados. Sentindo-se acuado, ele procura David Kahane (Vincent
D'Onofrio), a quem julga ser o autor das ameaças e, por acidente, acaba
matando-o. Atraído por June (a fraca Greta Scaachi), namorada do morto,
ele passa também a ser investigado pela polícia, na figura da detetive
Avery (Whoopi Goldberg).
A
espinha dorsal de "O jogador" é bastante frágil, servindo apenas como
desculpa para Altman criticar de forma mordaz o jogo de aparências e
interesses que está por trás da produção de um filme. O roteiro de
Michael Tolkin - também autor do romance que lhe deu origem - sublinha
com sarcasmo alguns dos mais tradicionais rituais da terra do cinema,
como os almoços de negócios (onde por trás de cumprimentos cordiais são
disparados comentários maldosos e rancorosos) e os famosos "pitchs",
onde roteiristas tentam vender suas estórias para gente como Mill, que
não tem o menor interesse em realizar obras de arte e sim vender
ingressos. É particularmente engraçada a trajetória de um desses
roteiristas, o inglês Tom Oakley (Richard E. Grant), que se recusa a ver
seu genial argumento - com conotações sociais fortes e que dispensa
astros milionários, diz ele - vendido como puro entretenimento, até que
se vê obrigado a mudar de ideia quando percebe como se movimentam as
engrenagens escondidas do sistema. Essas finas ironias - e a
participação de dezenas de astros hollywoodianos em aparições-relâmpago -
acabaram por fazer de "O jogador" o filme mais comentado de 1992 dentro
da comunidade cinematográfica (e fora dela, também, afinal que fã de
cinema não tem curiosidade de penetrar nas entranhas da sétima arte?
Mas, afora esse nocaute de Altman em seus detratores - que foram
obrigados a vê-lo indicado ao Oscar também no ano seguinte, com "Short
cuts, cenas da vida" - o filme é tão bom quanto foi alardeado?
Sim
e não. Robert Altman é um cineasta veterano que sabe exatamente o que
faz quando pega uma câmera na mão, e seu brilhante plano-sequência de
abertura já seria justificativa o bastante para conferir o filme. Além
do mais, como outsider da indústria, ele tem conhecimento de causa para
sustentar as afirmações um tanto quanto cínicas da trama de Tolkin a
ponto de brincar com elas sem ranço de despeito. Porém, seu estilo
aparentemente desleixado de filmar pode incomodar àqueles que procuram
um produto mais convencional. Altman frequentemente parece deixar sua
câmera bisbilhotar invisível pelos cenários sem maiores preocupações
estéticas e sem foco dramático - uma maneira de filmar que lhe é
característica e não agrada a todos. Mas mesmo que talvez não seja a
obra-prima tão incensada à época de seu lançamento, "O jogador" tem uma
inteligência acima da média, diverte com suas surpreendentes
participações especiais e mostrou que Tim Robbins merecia mais atenção
de Hollywood. Missão mais do que cumprida!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
sexta-feira
O JOGADOR
Assinar:
Postar comentários (Atom)
JADE
JADE (Jade, 1995, Paramount Pictures, 95min) Direção: William Friedkin. Roteiro: Joe Eszterhas. Fotografia: Andrzej Bartkowiak. Montagem...
-
EVIL: RAÍZES DO MAL (Ondskan, 2003, Moviola Film, 113min) Direção: Mikael Hafstrom. Roteiro: Hans Gunnarsson, Mikael Hafstrom, Klas Osterg...
-
NÃO FALE O MAL (Speak no evil, 2022, Profile Pictures/OAK Motion Pictures/Det Danske Filminstitut, 97min) Direção: Christian Tafdrup. Roteir...
-
ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Presumed innocent, 1990, Warner Bros, 127min) Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Frank Pierson, Alan J. Paku...
Nenhum comentário:
Postar um comentário