VELVET GOLDMINE (Velvet Goldmine, 1998, Channel Four Films/Goldywn Films/Killer Films/Miramax Films, 124min) Direção e roteiro: Todd Haynes. Fotografia: Maryse Alberti. Montagem: James Lyons. Música: Carter Burwell, Craig Wedren. Figurino: Sandy Powell. Direção de arte/cenários: Christopher Hobbs. Produção executiva: Scott Meeks, Sandy Stern, Michael Stipe, Bob Weinstein, Harvey Weinstein. Produção: Christine Vachon. Elenco: Ewan McGregor, Christian Bale, Toni Colette, Jonathan Rhys-Meyers. Estreia: 06/11/98
Indicado ao Oscar de Figurino
Houve uma época em que o rock - baluarte da rebeldia e da transgressão social/sexual/musical - deixou de ser apenas diversão para exibir sua tendência revolucionária. Espalhafatoso, andrógino e influente, o movimento que convencionou-se chamar de "glam rock" legou ao mundo nomes indispensáveis para o mundo pop, como David Bowie, Iggy Pop e Lou Reed. Esse efervescente período, cuja influência é sentida até hoje nas apresentações de Lady Gaga, por exemplo, é o pano de fundo para um dos mais criativos e excêntricos filmes ingleses dos anos 90. Dirigido pelo ousado Todd Haynes, o misto de drama e musical "Velvet goldmine" disfarça as trajetórias de Bowie, Pop e Reed em um roteiro que mistura rock, liberdade sexual e Oscar Wilde no mesmo pacote. Pode parecer estranho - e é - mas é também fascinante.
Em 1984, Arthur Stuart, um repórter inglês vivido por Christian Bale antes de tornar-se astro, é escalado por seus superiores para descobrir o paradeiro de um antigo astro de rock chamado Brian Slade (Jonathan Rhys-Meyers), que caiu em desgraça no início dos anos 70 depois de forjar a própria morte no palco. A missão aparentemente fútil que o jovem recebe, porém, o faz lembrar de sua adolescência, quando, fã absoluto de Slade, descobriu através dele a sexualidade e a liberdade de expressão e vida. Fascinado com a possibilidade de reviver esse período de sua vida, ele parte atrás das pessoas que podem saber algo sobre o cantor (que desapareceu desde sua falsa morte). Em sua lista estão principalmente Mandy (Toni Colette), a ex-mulher de Slade, e o roqueiro Curt Wild (Ewan McGregor), que teve um tumultuado e criativo relacionamento com ele.
Contando sua história dividindo o presente (1984) com o passado (década de 70), Haynes construiu uma espécie de quebra-cabeça não apenas para seu protagonista mas também para o público, que aos poucos vai descobrindo os acontecimentos que uniram Slade, Mandy e Curt em uma relação tão complexa. Misturando uma estética fake de videoclip (com números musicais excêntricos e sexualmente chamativos) com um drama a respeito da busca pela personalidade, "Velvet goldmine" usa e abusa de seu direito de ser extravagante, embaralhando suas cartas de modo quase anárquico, para o que colabora a engenhosa edição de James Lyons. É somente em sua reta final que a audiência fica realmente sabendo a razão de todo o interesse de Arthur pelo paradeiro de Slade - e o final um tanto ambíguo talvez incomode alguma parcela do público, ainda que desde o início fique claro de que não se trata de um filme convencional.
E convencional é o último adjetivo que pode ser aplicado a "Velvet goldmine". Desde suas primeiras cenas a plateia é convidada a fazer parte da viagem quase surreal proposta pelo cineasta, que começa a contar sua história mostrando a infância de Oscar Wilde (cujos textos estão espalhados pelo roteiro) e depois dando um salto de cem anos à frente. E se Haynes teve coragem de criar um espetáculo tão reluzente teve também a sorte de contar com uma equipe de profissionais acima de qualquer crítica, a começar pelo produtor executivo Michael Stipe, líder e vocalista da banda de rock REM. O figurino genial de Sandy Powell é espalhafatoso como convém (e concorreu merecidamente ao Oscar), a trilha sonora celebra com exatidão o som de sua época e o elenco se entrega com coragem e tesão na brincadeira. Se Toni Colette dá um banho como a complacente e posteriormente amargurada Mandy Slade e Jonathan Rhys-Meyers se sai muito bem em seu primeiro papel de destaque (em uma atuação tão afetada que tem ecos até hoje), são Ewan McGregor e Christian Bale quem se destacam. Bale vive com perfeição as duas fases de sua personagem (de adolescente deslumbrado com as potencialidades de seus desejos ao jornalista quase tímido) e McGregor canta e encanta como o polêmico e sexy Curt Wild. Sem medo algum, o ator de "Trainspotting" se desnuda fisicamente, solta a voz e dá profundidade a uma personagem complexa e controversa.
"Velvet goldmine" definitivamente não é para qualquer público. É necessário interesse no tema, no período retratado, no elenco ou em suas qualidades artísticas para que seja possível admirar todo o conjunto. Mas é um filme que merece ser conhecido nem que seja para não gostar.
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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