2 indicações ao Oscar: Atriz (Naomi Watts), Ator Coadjuvante (Benicio Del Toro)
A vida vista pelos olhos do roteirista Guillermo Arriaga e pelo diretor Alejandro Gonzalez Iñarritu não é exatamente cor-de-rosa. Pelo contrário, a dupla de mexicanos que deu ao mundo o excepcional “Amores brutos” volta a analisar o lado sombrio e triste da alma humana em seu segundo longa-metragem, desta vez sob os auspícios generosos de um orçamento hollywoodiano, sem, no entanto, perder em qualidade dramática. A estrutura do primeiro filme – histórias aparentemente isoladas que se entrecruzam – se mantém. O ritmo próprio idem. Mas, se antes o elenco não contava com nenhum nome internacionalmente conhecido – Gael García Bernal ainda não havia estourado – agora a história é bem diferente. Quando “21 gramas” estreou, Benicio Del Toro já tinha um Oscar na prateleira, Sean Penn estava em vias de ganhar o seu primeiro por "Sobre meninos e lobos" e Naomi Watts já era famosa entre os críticos por sua atuação em “Cidade dos sonhos” e entre os fãs de cinema pelo remake de “O chamado”.
Contado de forma aparentemente desconecta, “21 gramas” conta três histórias que se encontram (se chocam talvez seja a melhor expressão) devido a um trágico acidente de carro (ecoando a mesma situação de “Amores brutos”). O professor Paul Rivers (Sean Penn, mais uma vez sensacional) sofre de uma doença grave no coração e precisa de um transplante – para salvar sua vida e manter seu abalado casamento com Mary (Charlotte Gainsbourg), que sonha em ter um filho mas esconde um aborto em seu passado. Christina Peck (Naomi Watts merecidamente indicada ao Oscar) é uma dona-de-casa dedicada que vive uma vida de faz-de-conta com o marido Michael (Danny Huston) e as filhas pequenas. E Jack Jordan (Benicio Del Toro, avassalador) é um ex-presidiário que, convertido a um catolicismo fanático na prisão, tenta reestabelecer o convívio com a família. O destino, irônico como nunca, porém, prega uma peça a todos eles: em um final de tarde, Jack atropela e mata a família de Michael, cujo coração vai parar no peito de Paul, que, em um ato de desatino, procura Christina e se apaixona por ela, que desesperada, deseja vingança.
É desesperador assistir-se à "21 gramas". Ao contrário do que normalmente acontece no cinemão americano, a angústia e a dor de seus protagonistas não são disfarçados por um humor deslocado ou por belas imagens - ainda que a fotografia excepcional de Rodrigo Prieto esteja totalmente de acordo com a intenção de Iñarritu de aproximar o espectador de suas personagens, em closes tensos e uma iluminação que reflete com perfeição todos os estados de espíritos. A edição picotada de Stephen Mirrione - vencedor do Oscar por "Traffic" - também colabora para corroborar a desorientação dos três anti-heróis criados por Guillermo Arriaga, em um roteiro tão coeso que é o ápice de sua carreira: Paul, Christina e Jack são pessoas reais, de carne-e-osso, construídas com tal verdade que é impossível à audiência não acreditar em seus dramas e dúvidas. E para isso, logicamente, o cineasta conta com um elenco nunca menos do que espetacular.
É difícil lembrar um filme cujo trio de protagonistas seja tão especial quanto aquele que forma a tríade de ouro de "21 gramas". Enquanto Penn mais uma vez comprova seu talento e versatilidade, Naomi Watts surpreende demonstrando um alcance dramático vislumbrado em "Cidade dos sonhos" e aqui visto em sua totalidade de nuances. Mas é Benicio Del Toro com seu devastador Jack Jordan quem rouba o filme, com diálogos substanciais e uma crença tão absoluta no destino - a quem ele coloca o nome de Deus - que é impossível não lhe crer em cada fala, em cada silêncio, em cada olhar. Mais ainda do que no papel que lhe deu o Oscar - em "Traffic" - é aqui que Del Toro demonstra todo seu imenso talento, em uma interpretação arrepiante.
Por mais árduo e dolorido que seja compartilhar das duas horas de sofrimento imposto por "21 gramas" é também impossível não se deixar emocionar e envolver com sua trama. Forte, emocionante e triste, é um dos grandes filmes de seu tempo, e a obra-prima - até a data - de seu extraordinário realizador.
Por mais árduo e dolorido que seja compartilhar das duas horas de sofrimento imposto por "21 gramas" é também impossível não se deixar emocionar e envolver com sua trama. Forte, emocionante e triste, é um dos grandes filmes de seu tempo, e a obra-prima - até a data - de seu extraordinário realizador.
3 comentários:
"21 gramas" é o meu preferido dessa trilogia. E realmente, o trio de protagonistas é espetacular.
Ainda não vi "Amores Brutos", portanto nem posso falar que este é o meu favorito, mas realmente, esse filme é pra cortar os pulsos depois. Ótimo e emocionante demais!
É um filme não indicado para depressivos.
Cinema de qualidade.
Abraço
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