Indicado ao Oscar de Roteiro Original
Que Woody Allen é fã de Dostoievsky - em especial de sua obra-prima "Crime e castigo" - não é novidade para ninguém. Afinal de contas, um de seus melhores trabalhos, "Crimes e pecados" (de 1989) deixa isso bem claro e explícito. Mas poucas vezes o cineasta nova-iorquino chegou tão perto de uma homenagem quanto em "Match point, ponto final", sintomaticamente considerado por ele mesmo como seu melhor filme. Ao utilizar o pontapé inicial do romance - um brutal assassinato com vítimas inocentes como efeitos colaterais - Allen criou um drama de suspense que prende o espectador na cadeira até os créditos finais.
Que não se espere, porém, um filme de suspense ao estilo hollywoodiano, afinal estamos falando de Woody Allen - deixando sua Manhattan de lado para localizar a trama na Inglaterra. Mesmo prejudicado por um fraquíssimo ator central que não convence em todas as nuances do papel (Jonathan Rhys-Meyers, de "Velvet goldmine"), "Match point" é um filmaço, com um roteiro redondinho e uma edição impecável que nunca deixa antever as suas reviravoltas - todas elas orgânicas, coerentes e irônicas na medida certa. Sem o característico senso de humor de seus trabalhos mais conhecidos, Allen demonstra (se é que ainda precisasse disso) um domínio invejável de narrativa - a ponto de, assim como o fez Hitchcock em "Psicose", eliminar uma personagem vital na metade da projeção sem deixar o interesse se esvair.
O protagonista de "Match point" é Chris Wilton (vivido sem muito entusiasmo pelo fraquinho Jonathan Rhys-Meyers), um jovem professor de tênis irlandês que, assim que chega a Londres arruma trabalho como instrutor do milionário Tom Hewitt (Matthew Goode) e, fazendo amizade com ele, conquista o amor de sua irmã, Chloe (Emily Mortimer) e a admiração de toda a família, que lhe arruma uma posição de destaque em sua empresa. O que poderia ser uma vida tranquila sofre um sobressalto quando Chris se apaixona perdidamente por Nola Rice (Scarlett Johansson), noiva de Tom, uma aspirante a atriz, e arrisca seu casamento e seu emprego por essa paixão avassaladora.
Quanto menos se souber do desenrolar de "Match point", melhor. Allen dá um passo de cada vez em seu roteiro, construindo seu suspense aos poucos, deixando com que o público se acostume aos poucos com suas personagens, seus anseios e seus atos. Quando a história realmente começa - e ela começa de maneira a deixar qualquer um estarrecido com as viradas - é impressionante como cada cena, cada diálogo e cada ângulo de câmera parecem colaborar para contá-la de forma a torná-la inesquecível. Poucas vezes o cinema de Woody Allen teve tanto espaço para o erotismo - com tórridas cenas de sexo entre Rhys-Meyers e Scarlett Johansson - e uma certa dose de violência - mesmo que disfarçada com a habitual sofisticação do diretor. O final, então, é de uma fina ironia capaz de devolver a qualquer espectador a fé no bom cinema.
Obra-prima indiscutível, "Match point, ponto final" conquista até mesmo o público avesso às obras mais tradicionais de Woody Allen. Sexy, inteligente e surpreendente, é um dos melhores filmes da temporada 2005, injustamente relegado a apenas uma indicação ao Oscar de roteiro original. Idiossincrasias da Academia no mesmo ano em que premiou o hipócrita "Crash, no limite".
2 comentários:
Fabuloso esse filme do woody Allen. Reaqlmente, inteligente e supreendente!
abraço
atenciosamente
marcelokeiser.blogspot.com.br
Maravilhoso !!! E adorei a crítica ;-)
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