A LIBERDADE É AZUL (Trois couleurs: bleu, 1993, MK2 Productions, 98min) Direção: Krysztof Kieslowski. Roteiro: Krysztof Kieslowski, Krysztof Piesiewicz, Fotografia: Slawomir Idziak. Montagem: Jacques Witta. Música: Zbigniew Preisner. Direção de arte/cenários: Claude Lenoir/Lionel Acat, Christian Aubenque, Jean-Pierre Delettre, Julien Poitou-Weber, Marie-Claire Quin. Produção: Marin Karmitz. Elenco: Juliette Binoche, Emmanuelle Riva, Benoit Regent, Charlotte Very. Estreia: 08/9/93
A genial ideia do cineasta polonês Krysztof Kieslowski de criar uma trilogia que ligasse as cores da bandeira francesa aos três temas da Revolução - liberdade, igualdade e fraternidade - não poderia ter tido um início mais alvissareiro. Estrelado pela sempre espetacular Juliette Binoche, "A liberdade é azul" é o mais melancólico e denso da série, oferecendo à audiência um estudo fascinante sobre o livre-arbítrio e o desespero. Parece triste demais, mas sua beleza avassaladora sobrepõe-se à dor.
E dor é a palavra-chave de "A liberdade é azul". Julie (interpretada com uma profundidade encantadora por Binoche) é uma mulher de 33 anos de idade que sofre o maior golpe de sua vida quando perde o marido e a filha pequena em um acidente de carro. Desesperada e sem encontrar nenhum rumo a seguir, ela abandona sua casa no interior da França e vai morar em Paris, onde pretende levar uma vida anônima e sem lembranças de sua antiga felicidade. Seu objetivo de deixar para trás sua existência anterior é atrapalhado, porém, por fragmentos do passado que insistem em retirá-la de seu isolamento auto-imposto. Suas tentativas de manter-se solitária esbarram em seu envolvimento com Olivier (Benoit Regent), músico que sempre escondeu sua paixão por ela, seu encontro com um rapaz que testemunhou o acidente, sua descoberta de um romance extra-conjugal do marido e com sua decisão de retomar a obra musical que ele deixou inacabada com a morte.
Fotografado em um intenso e deslumbrante azul por Slawomir Idziak - cujos tons refletem a atmosfera de sufocamento poético de Julie - o filme de Kieslowski abdica de diálogos explicativos, deixando que suas imagens poderosas transmitam com muito mais eficácia todos os sentimentos conflituosos de sua protagonista - escolha mais do que acertada quando os expressivos olhos de Binoche tomam o primeiro plano da narrativa em detrimento de sequências dramaticamente catárticas exploradas com gritos e choros histéricos. Delicadeza é a principal qualidade da obra do cineasta, que não tem medo em deixar que objetos aparentemente sem função dramática sejam o foco de suas cenas. É assim que um torrão de açúcar mergulhado no café e um muro de pedra tornam-se parte fundamental do objetivo do diretor em emocionar sem apelar para o lacrimoso.
"A liberdade é azul" é uma obra-prima indiscutível, que abre as portas para suas sequências de tons diametralmente opostos - "A igualdade é branca" é irônico e "A fraternidade é vermelha", otimista. É como se Kieslowski - precocemente morto em 1994 - mostrasse todas as facetas do ser humano e da vida em apenas seis horas de duração. Bravíssimo!
Filmes, filmes e mais filmes. De todos os gêneros, países, épocas e níveis de qualidade. Afinal, a sétima arte não tem esse nome à toa.
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Um comentário:
o filme deveria se chamar Melancolia, muito chato!
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